Apenas três chefes de Estado brasileiros sofreram tentativas de assassinato: D. Pedro II, Prudente de Morais e Getúlio Vargas. A conspiração militar para ceifar a vida de um presidente da República não é uma novidade no país.
No mesmo ano da proclamação da República pelos militares, o imperador D. Pedro II sofre o primeiro atentado contra a vida de um chefe de Estado no país. “Em 15 de julho de 1889 - quatro meses antes do golpe que o derrubaria do poder -, ele saía de um teatro no Centro do Rio de Janeiro quando ouviu um grito ‘Viva a República!’ Um jovem sacou um revólver e deu um tiro na direção do imperador, mas ninguém foi atingido”. O assassino era Adriano Augusto do Vale, um caixeiro português desempregado que, após a proclamação da República, foi absolvido sem apontar nenhum cúmplice, como mostra o historiador José Murilo de Carvalho.[1]
Te podría interesar
Não podemos acusar os militares de envolvimento no ocorrido, embora seja curioso como um “terrorista” foi absolvido depois da chegada dos militares ao poder.
O primeiro presidente civil da República, Prudente de Moraes, estava se preparando para saudar dois batalhões que retornavam de Canudos. “Após a execução do Hino Nacional, o soldado Marcelino Bispo, armado com uma faca, saltou na direção de Prudente de Moraes. Para defendê-lo, o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, colocou-se à sua frente. Levou três facadas e morreu minutos depois. Testa de ferro dos adversários do presidente, Marcelino Bispo já havia sido encarregado de matá-lo em outras ocasiões”. O atentado estava relacionado à suspeita de apoio dos monarquistas aos seguidores de Antônio Conselheiro. Um detalhe do caso: “Gente do alto escalão do governo, como o vice-presidente Manuel Vitorino e o deputado Francisco Glicério, teriam participado da conspiração, tramada em reuniões secretas no Clube Militar”. Acabou que o bode expiatório, Marcelino Bispo, cometeu suicídio na cadeia.
Te podría interesar
Getúlio Vargas também escapou de algumas tentativas de assassinato. A Ação Integralista Brasileira (AIB) tentou pelo menos duas vezes em 1938. “O plano, encabeçado pelo capitão de fragata Fernando Cochrane, deveria ser executado durante a visita oficial do presidente a um submarino”, explica Fabiano Vilaça.[2] “Diz-se que Vargas sabia do atentado e, por isso, usava uma cota de malha sob o terno. Nada aconteceu, mas a destituição de Cochrane do comando da força de submarinos aumentou as suspeitas”.
Já em 11 de maio de 1938, o general Castro Júnior, o tenente Severo Fournier, o médico baiano Belmiro Valverde e o almirante Arnoldo Hasselmann, planejaram assassinar Vargas no Palácio Do Catete. “Consta que o presidente chegou a empunhar uma metralhadora para dar combate aos invasores”. Mas a Polícia Especial tomou conta da situação. Líderes, como Fournier, acabaram presos, mas alguns participantes foram mortos depois de rendidos e desarmados.
Outras figuras políticas sofreram atentados, como Juscelino Kubitschek que foi morto em um acidente de trânsito suspeito. João Goulart que foi envenenado na Argentina. Carlos Lacerda no famoso caso do “atentado da Rua Tonelero” e Bolsonaro que foi vítima de uma facada em um comício, mas nenhum destes exerciam o cargo de chefe de Estado.
Nas palavras do jurista e intelectual Sobral Pinto: “Os militares, tendo proclamado a República, julgaram-se donos da República. E nunca aceitaram não serem os donos da República”. Esse é o ponto em comum. A trama de militares para assassinar presidentes é recorrente na nossa história. Embora nenhum tenha dado certo, efetivamente, eles não titubeiam em agir nas sombras para controlar a política do Brasil, como vimos em diversos golpes que marcaram a história do país.
Parece que o jornal Cidade do Rio, que comentou sobre o primeiro atentado a um presidente civil, acertou em cheio: “O crime político está, enfim, implantado nos costumes brasileiros”.
[1] CARVALHO, J. D. Pedro II: um atentado frustrado. RHBN, ano 5, N. 59, agosto, 2010.
[2] VILAÇA, F. Alvos fáceis. RHBN, ano 5, N. 59, agosto, 2010.
*Este artigo não representa, necessariamente, a opinião da Fórum.