Se para impedir um eventual segundo turno entre Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL) — Romeu Zema (Novo) e Bolsonaro (PL), respectivamente — o bloco progressista terá de embarcar, nesta reta final, na campanha de Fuad Noman (PSD), não é menos verdade que, se o atual prefeito de Belo Horizonte deseja realmente ser reconduzido ao cargo, precisará acenar para a esquerda.
Embora o aceno aos progressistas pudesse ser um dilema para a campanha de Fuad, sob o risco de rifar seu eleitorado mais conservador, o fato é que não tem sido esse o caso. Fuad não se sente obrigado a acenar porque, sem demandar contrapartida, o bloco de esquerda já beijou a cruz antes mesmo de selar publicamente os termos da aliança. O atual prefeito pode chamar a ditadura de "revolução" sem constrangimento porque, independentemente de qualquer coisa, estamos encurralados.
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Razões para não irmos por ali, como nos versos de José Régio, não faltam. Mas, se a decisão é seguir adiante, é prudente estar ciente dos riscos. Em uma campanha batizada e financiada no altar de Rubens Menin, espreitada por Álvaro Damião (União) e com o espólio do antigo governo de Aécio Neves (PSDB), sinais por si só convencem pouco.
Mesmo quando Fuad acena para o progressismo — e não faltaram demonstrações na última semana — é preciso questionar: até que ponto as forças que compõem sua base eleitoral podem conviver com interesses e projetos tão antagônicos? Rubens Menin apoiaria alguma campanha do Tarifa Zero? No desencontro de propósitos, quem teria a palavra final: o dono do Banco Inter ou a turma do André Veloso? Se é fundamental questionarmos Fuad sobre seu compromisso com a agenda progressista ele ainda precisa esclarecer como vai administrar esse aceno.
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Voto útil pode ser menos inútil?
Não defendo o voto útil como princípio último, mas não recrimino quem o faça. Tão legítimo quanto votar na melhor proposta é se orientar pela gestão dos riscos na busca de impedir a desestabilização do sistema democrático. Se Weber tinha razão, a ética da convicção é tão fundamental quanto a ética da responsabilidade.
Porém, se o voto útil se impõe como tendência quase inevitável diante do avanço da extrema-direita em Belo Horizonte, num cenário em que as pequenas diferenças entre os partidos de esquerda naufragam novamente a causa coletiva, é importante nos perguntarmos como podemos fazer o voto útil em Fuad ser, apesar de tudo, menos inútil. Mesmo quando se apoiando nos resultados da própria gestão para conquistar o voto dos eleitores, a campanha de Fuad soa tão pouco convincente quando promete apenas levar adiante o que já presenciamos até aqui.
Nas democracias eleitorais, há uma diferença considerável entre vencer com 60% ou 90% dos votos. Quanto mais votos, mais legitimidade para implementar o projeto vencedor. Reside aqui nossa questão: como votar em Fuad sem, porém, legitimar seu projeto? Se a ideia é reelege-lo para barrar a ameça imediata da extrema-direita, precisaremos saber que a única possibilidade de votarmos sem autorizá-lo só pode acontecer se, desde já, nossas diferenças estiverem postas.
Até agora, no entanto, apenas a esquerda demonstrou disposição para entregar os aneis e abraçar o mal necessário. A contrapartida de Fuad, quando existente, é quase inaudível. E, mais do que sinais oblíquos, é preciso saber quais compromissos partidários estão sendo costurados.
Sem ilusões
Não espero que Fuad faça um giro à esquerda. Mas espero, sim, que, caso eleito, não encontre vida fácil como teve em relação às forças de esquerda na ultima magistratura da CMBH, com setores psolistas atuando quase como base de governo.
Então, não. Não alardo o voto útil como o único caminho possível. Cada um deve decidir conforme sua própria consciência, que são múltiplas. Mas, se a realidade por si só convence, apenas uma candidatura tem condições, hoje, de barrar os efeitos mais imediatos de um segundo turno com duas candidaturas de extrema-direita em Belo Horizonte. E, até que possamos voltar a ser oposição em terra firme, eu estou com ela.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum