SIONISTAS E EXTREMA DIREITA

Ataques da extrema direita e sionismo têm o mesmo método e objetivo comum: intimidar a esquerda - por Mauro Lopes

Padre Júlio Lancellotti, Breno Altman, Karina Santos, Elenira Vilela e José Genoino têm sido alvos de ameaças e ataques da extrema direita e do sionismo. Os métodos são os mesmos, o objetivo é idêntico, intimidar a esquerda. No caso de Nega Pataxó, a extrema direita rural foi além: assassinou-a

Júlio Lancellotti, Elenira Vilela, Nega Pataxó, Karina Santos, José Genoino, Breno Altman.Créditos: Redes sociais
Escrito en OPINIÃO el

Há uma sucessão de ataques a líderes e ativistas da esquerda brasileira e a importantes lideranças dos povos indígenas. 

O mais recente ataque aconteceu neste domingo (21), numa ação orquestrada da extrema direita rural (fazendeiros com apoio da PM) em Potiraguá, na região sudoeste da Bahia. A majé pataxó hã hã hãe Maria de Fátima Muniz Pataxó, a Nega, uma histórica liderança indígena, foi assassinada.  O cacique Nailton Muniz Pataxó também foi baleado, atingido com uma bala no rim e submetido a cirurgia. Uma mulher indígena teve o braço quebrado e outras pessoas foram hospitalizadas, mas não correm risco de morte.

Veja aqui reportagem dramática da Teia dos Povos sobre o crime:

Este é o método tradicional da violência que se abate contra as lideranças populares do campo e da cidade, nas periferias da gente deserdada da democracia brasileira, gente preta, gente indígena, gente LGBTQIA+. Violência sem limites para intimidar, calar, aterrorizar, derrotar.

Numa região “de transição” entre os últimos da sociedade e as camadas médias está o padre Júlio Lancellotti. Ele é pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca, tradicional bairro que já foi operário e há décadas integra o universo das camadas médias paulistanas. Mas Lancellotti decidiu “atravessar a fronteira” e tornou-se o pároco da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, dedicando sua vida aos moradores e moradoras de rua, refugiados urbanos, como ele nomeia. A violência contra os protegidos por Lancellotti é cotidiana e brutal e ele sofre as consequências de sua opção desde o início dos anos 1990. Já houve de tudo contra ele, exceto tiro e bomba. Agora, desde janeiro, Lancellotti sofre uma ofensiva da extrema direita paulistana, liderada por um obscuro vereador, que tenta criar uma CPI contra o padre. A operação teve como ponto culminante a agitação nas redes de um vídeo falso (lançado originalmente em 2020) no qual acusa-se o padre de pedofilia. Esta Fórum e o jornal Estadão encomendaram ao perito Mário Gazziro um laudo que comprovou taxativamente ser falso o vídeo. Mesmo assim, os bolsonaristas não desistiram e voltaram à carga com uma perícia fake, desmoralizada prontamente. Leia aqui: a reportagem da Fórum sobre o laudo que comprova a falsidade do vídeo e a segunda reportagem que desmoraliza a suposta perícia da extrema direita. O objetivo evidente é intimidar e silenciar padre Júlio Lancellotti -se possível, metê-lo na cadeia.

Nos confrontos no universo político-institucional e mais imersos nos ambientes das camadas médias, três lideranças de esquerda e uma jovem ativista das redes sociais sofreram ataques virulentos dos sionistas e dos bolsonaristas. Em ordem cronológica, Breno Altman, Karina Santos, Elenira Vilela e José Genoino.

Impressiona como há similaridade nos métodos sionistas e bolsonaristas -ambos no mesmo espectro político-ideológico da extrema direita.

Cortes e edições

Todos os ataques são baseados em cortes criminosos e edições ideologizadas feitas pelos sionistas e pela extrema direita urbana e rural nas redes sociais ou aplicativos de mensagens online.

No caso dos pataxós, os fazendeiros inventaram um movimento “Invasão Zero” no qual acusam os indígenas de invadirem terras… que pertencem aos pataxós, no caso, a Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu.

No caso de Breno Altman, a acusação original se baseia, dentre outras coisas, em um post de Altman no antigo Twitter, na qual ele parafraseou um dito imortalizado na boca do líder chinês Deng Xiaoping nos anos 1960 para, assim, defender a resistência palestina: “Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos“. Os sionistas e suas entidades transformaram uma citação histórica numa “agressão antissemita”feita por um judeu!

No caso de Elenira Vilela, os bolsonaristas produziram um corte numa fala dela num programa da TV Opera e construíram uma versão segundo a qual ele estaria defendendo a morte de Michelle Bolsonaro.

Veja a edição bolsonarista:

Compare com o que Elenira de fato disse:

Com Genoino, os sionistas aplicaram a mesma receita dos bolsonaristas contra elenira. Separaram um trecho da fala dele: “Essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos, que fere o interesse econômico, é uma forma interessante. Inclusive ter esse boicote a determinadas empresas de judeus”. E cortaram a explicação que ele deu a seguir: “Boicote a empresas vinculadas ao estado de Israel. Inclusive eu acho que o Brasil deveria cortar as relações comerciais na área da segurança e na área militar com o estado de Israel”.

A propósito, existe desde um movimento internacional de boicote a empresas que apoiam o estado racista de Israel. É o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que se inspira numa ação similar contra outro regime racista, do da África do Sul. A Assembleia Geral das Nações Unidas chegou a aprovar 1962 um boicote ao regime do apartheid, pedindo que todos os países-membros cortassem as relações militares e econômicas com a África do Sul -nada diferente do que Genoino agora vocalizou.  

Veja o que falou Genoino:


A inversão

Fazendeiros na Bahia dizem serem vítimas das “invasões” dos “temíveis pataxós”, que ocupam terras que lhes pertencem ancestralmente e lhes são garantidas pela Constituição.

Sionistas, que apoiam o genocídio do povo palestino por Israel, se dizem “vítimas” das críticas; no caso, de Breno Altman e de José Genoino. Eles apoiam o assassinato em massa de crianças e mulheres, mas dizem que Altman e Genoino são agressivos. Eles, como seus predecessores, os nazistas, exigem silêncio e complacência enquanto milhares de palestinos são mantidos no grande campo de concentração em que transformaram Gaza.

Bolsonaristas, que apoiaram o massacre perpetrado por seu líder durante a pandemia da Covid, que tentaram impedir a realização das eleições de 2022 e que agiram em massa pelo golpe de Estado em 8 de janeiro, que regozijam-se com o massacre de jovens negros nas periferias, reclamam da “violência” das críticas de Karina Santos e Elenira Vilela a Michelle Bolsonaro.

As ameaças

Os pataxós sofreram ameaças sistemáticas feitas pela extrema direita rural por anos, como Júlio Lancellotti, em São Paulo.

Em outubro, Breno Altman sofreu ameaças contra sua vida no grupo Jew Politics (“Política Judaica”), formado por 299 integrantes de comunidades sionistas no Whatsapp. O que circulou no grupo: "tem que dar um cala boca na porrada, precisa arrancar os dentes da boca desse fdp [filho da p***] e cortar os dedos fora para parar de escrever e falar merda”;  "tem gente trabalhando para calar a boca dele". 

Quanto às mulheres, Elenira Vilela e Karina Santos, o método é o consagrado pelo patriarcado: ameaças anônimas de estupro e contra seus filhos.  

Cumplicidade do Estado e das autoridades

O Estado brasileiro está, com seu silêncio, cúmplice com os sionistas e bolsonaristas. 

No caso da Bahia, a PM baiana do governo Jerônimo Rodrigues (PT) cruzou os braços e assistiu impassível ao massacre dos pataxós.

No caso do padre Júlio, ele continua à mercê dos que ameaçam sua vida e atividade.

No caso de Altman, não é só silêncio: há algumas decisões judiciais que apontam para seu silenciamento. No caso de Genoino, a malta bolsonarista parlamentar tenta mobilizar seus aliados no Ministério Público para calá-lo. 

Quanto a Elenira e Karina, as denúncias e queixas formais às autoridades policiais redundaram em nada; elas e suas famílias continuam desprotegidas e à mercê das ameaças contra sua vida.

Não há ação municipal, estadual ou federal em defesa dos ativistas de esquerda no país. Claro que os tarcísios, jorginhos melos, ricardos nunes e quetais nada farão contra os que atacam a democracia e ameaçam as pessoas. Mas a postura do governo baiano -recordista nacional em morte de jovens pretos nas periferias - e do governo federal é inexplicável. Braços cruzados.