RABO ABANA CACHORRO

Netanyahu humilha Biden, de olho em eleições nos EUA

Desmente conteúdo de conversa telefônica

Risco.O presidente Joe Biden está perdendo apoio entre os eleitores mais jovensCréditos: Casa Branca
Escrito en OPINIÃO el

O rabo abanou o cachorro depois da pouco usual nota do gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Bibi Netanyahu, sugerindo que não disse que aceita um estado palestino ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

"Na conversa que teve ontem à noite [19.01] com o presidente Biden, o primeiro-ministro Netanyahu repetiu a sua posição consistente durante anos, que também expressou numa conferência de imprensa no dia anterior: após a eliminação do Hamas, Israel deve permanecer no total controle de segurança da Faixa de Gaza para garantir que Gaza não representará mais uma ameaça para Israel – e isso entra em conflito com as exigências da soberania palestina", diz a nota.

Em outras palavras, a "solução de dois estados" ainda defendida pela comunidade internacional depende de os palestinos abrirem mão de sua soberania sobre os territórios ocupados da Cisjordânia e Gaza.

Na entrevista da sexta-feira, Bibi também disse que Israel estava atacando o Irã, horas antes do assassinato de cinco assessores militares iranianos em Damasco, na Síria, por caças israelenses.

Na conversa telefônica com Biden, segundo disse o presidente dos Estados Unidos, Netanyahu não teria descartado totalmente a solução de dois estados. O ocupante da Casa Branca, falando a repórteres, considerou possível encontrar uma solução negociada com Netanyahu no poder.

Milhares de pessoas saíram às ruas de Israel no sábado, 20, pedindo cessar-fogo, o resgate dos reféns que permanecem em Gaza e eleições antecipadas.

Pressionar por um novo governo em Israel é uma das alternativas dos Estados Unidos para acelerar o fim do conflito e evitar que ele se estenda durante a campanha eleitoral de 2024.

Netanyahu já disse que a guerra contra o Hamas vai avançar pelo menos até o fim deste ano.

TRUMP FAVORECIDO

Isso favorece o candidato republicano Donald Trump, que tem se apresentado como "pacifista" ao eleitorado estadunidense, alegando que é preciso priorizar os investimentos em casa.

Trump tem dito que, se ele estivesse no poder, a Rússia não teria invadido a Ucrânia e o Hamas não teria atacado Israel.

Uma pesquisa da Harris Insights and Analytics com o Centro Estudos Políticos Americanos da Universidade de Harvard (CAPS), feita em dezembro com 2.000 entrevistados, mostrou que 51% dos jovens estadunidenses entre 18 e 24 anos de idade defendem o fim de Israel, com a entrega do território a palestinos. 

67% afirmaram que consideram os judeus opressores e que deveriam ser tratados como tal.

Este eleitorado jovem tem o poder de decidir as eleições nos Estados Unidos, mas em outra pesquisa divulgada no mês passado só 49% dos que tem entre 18 e 29 anos disseram que pretendem ir às urnas em 2024.

É uma péssima notícia se Joe Biden pretende se reeleger com o voto dos jovens, como foi o caso de seu antecessor Barack Obama.

Na pesquisa New York Times/Siena College de dezembro, Trump vence Biden por 49% a 43% entre eleitores registrados de 18 a 29 anos.

Em 2020, Trump autorizou o ataque que matou no Iraque o general Qasem Soleimani, líder da Guarda Revolucionária do Irã.

Nos últimos meses, diante da proximidade pública de Bibi Netanyahu e Biden, Trump chegou a sugerir que o primeiro-ministro de Israel era um mal agradecido.

Agora, Bibi calcula que pode tirar proveito da campanha eleitoral nos Estados Unidos para prolongar sua permanência no poder.

Ele não pode perder o apoio da direita religiosa que o levou de volta ao poder em um governo de coalizão.

Nas últimas horas, Bibi foi "advertido" publicamente por ministros de seu gabinete sobre a rejeição a um estado palestino.

Bezalel Smotrich, ministro das Finanças:

Existe um amplo consenso em Israel contra um estado palestino e a divisão do território. Os amigos de Israel deveriam compreender que apoiar o estabelecimento de um estado palestino é apoiar o próximo massacre, Deus me livre, e colocar em risco a existência do Estado de Israel

Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional:

Eu sempre neguei um estado palestino, sempre

Miki Zohar, ministro da Cultura e dos Esportes:

O sangue dos nossos irmãos e irmãs não foi derramado para que os palestinos fossem recompensados e pudéssemos arriscar o nosso futuro na nossa terra. Digo claramente a todos os que ainda estão presos ao 6 de outubro: nunca participaremos da criação de um Estado palestino. Este é nosso compromisso com os mártires e heróis [de Israel]

Bibi Netanyahu e as principais lideranças de Israel naturalizaram a frase "Judéia e Samária" para se referir à Cisjordânia ocupada, onde vivem 700 mil colonos israelenses.

Recentemente, o Congo, Ruanda e Chade negaram informações de que teriam se engajado em conversações com Israel para receber "imigrantes palestinos voluntários" de Gaza.

O bombardeio indiscriminado a Gaza, mais os ataques a instituições culturais e hospitais e a crise humanitária que envolve fome e doença seriam armas de Israel para forçar palestinos a bater em retirada.

Bezalel Smotrich, que defende o retorno de assentamentos israelenses a Gaza (foram retirados em 2005) e um esquema para a imigração de palestinos do território, chegou a afirmar:

Um pequeno país como o nosso não pode permitir uma realidade onde a quatro minutos das nossas comunidades existe um foco de ódio e terrorismo, onde dois milhões de pessoas acordam todas as manhãs com a aspiração à destruição do Estado de Israel e com o desejo de massacrar e estuprar e assassinar judeus onde quer que estejam