ELIS REGINA

'Elis & Tom': um filme lindo sobre um álbum daqueles que não se fazem mais

Documentário sobre o antológico álbum foi feito a partir de mais de cinco horas de registros inéditos das imagens que estavam guardados há quase 50 anos

Elis e Tom.Créditos: O2Play/Divulgação
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Dizer que “Elis & Tom”, gravado por Elis Regina e Tom Jobim em Los Angeles (EUA), em 1974, é um dos maiores álbuns brasileiros de todos os tempos é chover no molhado. O disco é o que traz aquela gravação antológica de “Águas de Março”, e só isso bastaria para entrar em qualquer discografia do planeta.

Mas ele tem mais, muito mais e é, de fato, uma obra-prima.

O que ninguém contava nos dias de hoje, quase 50 anos depois do seu lançamento, é que Roberto de Oliveira, o empresário de Elis na época, que além de ter a ideia de promover o encontro e a gravação de um álbum conjunto, registrou vários momentos. "Chegando lá eu percebi que eu tinha que filmar aquilo. Percebi que eu estava diante de um evento histórico", afirmou.

Foram mais de cinco horas de registros antológicos de Elis, Tom, músicos, técnicos e auxiliares no estúdio. "Quando eu desacelerei, percebi que era a hora de mexer nesse material", conta o ex-diretor de televisão e produtor.

Além destes registros, o documentário ouve ainda ex-executivos da gravadora Polygram e diversos profissionais envolvidos na gravação. César Camargo Mariano, André Midani e Roberto Menescal, os músicos entre outros. João Marcelo Bôscoli, filho de Elis e Ronaldo Bôscoli, é um dos que dá alguns dos depoimentos mais interessantes sobre a obra.

O resultado é o maravilhoso documentário "Elis & Tom - Só Tinha de Ser com Você", com direção de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay e roteiro de Nelson Motta. A produção é da Rinoceronte Entretenimento e a distribuição, da O2 Play.

As brigas

Quem ouve o álbum com toda a sua beleza, no entanto, não imagina que gravá-lo não foi uma tarefa das mais fáceis. O início das sessões foi deveras turbulento, com exigências de todos os lados. Jobim implicava com o piano elétrico de César Camargo Mariano e a guitarra elétrica de Hélio Delmiro; Elis, por sua vez, no auge da sua popularidade, achava que o álbum deveria ter o seu protagonismo. Tom, com seu prestígio, imaginava o mesmo.

No final das contas, ganharam os dois. Tom ficou muito mais conhecido a partir dele e Elis ganhou um reconhecimento artístico que até então não imaginaria ter.

Além disso, os músicos não se furtam de dizer que o disco foi um marco na maneira dela cantar. No lugar dos gritos de “Arrastão”, entre outras interpretações grandiloquentes, entrou um canto suave, equilibrado e certeiro, nos moldes do piano e das composições do autor.

O filme também faz algumas insinuações sobre um certo ciúmes de Cézar Mariano, então marido de Elis, sobre a maneira como ela tratava Jobim e, sobretudo, foi tratada pelo maestro.

O melhor de tudo

No final das contas, o melhor mesmo fica por conta das cenas de estúdio, com intepretações maravilhosas de várias canções, tanto as que entraram no álbum quanto outras que ficaram de fora. Cenas emocionantes e bem-humoradas do clima ameno que acabou reinando quando foram aparadas todas as arestas.

O documentário "Elis & Tom - Só Tinha de Ser com Você" é um deleite do começo ao fim para os fãs e admiradores que há quase 50 anos ouvem o álbum sem parar. Mas é, principalmente, um registro histórico de uma gravação que, infelizmente, nossa música não chega nem perto de repetir.

É, enfim, um filme lindo sobre um álbum daqueles que não se fazem mais.

Veja o trailer abaixo:

E ouça o álbum: