SINAL DE ALERTA

Ataque aéreo da OTAN à Rússia é escalada perigosa na guerra

Ação espetacular ajuda a esconder derrota no campo de batalha, diz analista

Risco.Um P-8 do Pentágono teria dado apoio em tempo real ao ataque, sustenta analistaCréditos: Foto Wikipedia
Escrito en OPINIÃO el

O sofisticado bombardeio contra a sede da frota russa em Sevastopol, na sexta-feira passada, foi um "recado" dos Estados Unidos e aliados a Vladimir Putin: ele não tem como vencer a guerra na Ucrânia sem sofrer danos consideráveis às suas forças militares e, portanto, ao seu prestígio político doméstico.

As versões sobre os resultados do ataque são desencontradas.

Tem sido assim nos principais episódios da guerra, por causa do aparato de propaganda a serviço dos dois lados.

O "morto" apareceu vivo em uma reunião virtual. Foto Ministério da Defesa da Rússia

A Ucrânia anunciou que matou no ataque o almirante Viktor Solokov, chefe da frota naval russa no Mar Negro.

O Ministério da Defesa da Rússia, porém, postou imagens dele participando de uma reunião virtual. 

O bombardeio não muda o rumo da guerra, mas é uma vitória da propaganda ucraniana.

Primeiro, porque demonstra que o país conseguiu preservar poderio aéreo.

Os mísseis foram disparados a partir de levas de aviões Sukhoi, de fabricação russa, que a Ucrânia conseguiu manter apesar dos intensos bombardeios contra suas instalações militares.

Os Sukhoi não apenas voaram nas proximidades da Crimeia, onde supostamente a Rússia tem o controle do espaço aéreo, como dispararam chamarizes para confundir a defesa aérea e acertaram ao menos alguns mísseis na sede da frota naval russa.

Zelensky sustenta que a contraofensiva da Ucrânia é trabalho cumulativo, que eventualmente vai causar o colapso da defesa russa.

No entanto, o tempo passa e isso não está acontecendo.

Scott Ritter, um ex-fuzileiro naval dos Estados Unidos que foi inspetor de armas da ONU, tornou-se um analista respeitado da guerra depois de fazer previsões certeiras, especialmente sobre o fracasso da contraofensiva ucraniana.

Ritter argumenta que a Ucrânia não dispõe mais de reservistas bem treinados para convocar e, por isso, tem de optar por "ações espetaculares", como o ataque à sede da frota russa. 

O ataque, no entanto, só poderia ter tido sucesso com apoio da OTAN -- e não apenas no fornecimento dos mísseis franceses e britânicos que atingiram os alvos. 

Como as peças da defesa aérea são móveis, só o rastreamento em tempo real permitiria que os Sukhoi voassem em "corredores" formados pelos pontos cegos dos radares.

Ritter, em sua live semanal, disse que um P-8 do Pentágono, um Boeing especializado em missões de inteligência, vigilância e reconhecimento, voava na região da Crimeia durante o ataque, provavelmente oferecendo informações em tempo real à Ucrânia.

Apesar da inesperada e bem sucedida ação, Ritter afirma que o presidente ucraniano Zelensky enfrenta múltiplos problemas políticos: desentendimento com o governo da Polônia, que já foi seu principal aliado, e queda de apoio na opinião pública estrangeira.

Uma pesquisa publicada em junho mostra que, em média, 71% dos entrevistados em 27 países da União Europeia tiveram de reduzir o consumo de energia por causa da disparada dos preços e 37% tiveram de recorrer a dinheiro da poupança para complementar a renda doméstica.

Na Alemanha, entre março de 2022 e fevereiro de 2023 o apoio ao boicote econômico contra a Rússia caiu de 80% para 62%. Quanto ao envio de armas para a Ucrânia, o apoio dos entrevistados alemães foi de 62% para 52%.

Depois de invadir a Ucrânia, a Rússia foi sancionada e deixou de ser a grande fornecedora de gás barato para países europeus.

No Congresso dos Estados Unidos, onde já foi aplaudido em pé ao discursar, Zelensky vem recebendo cobranças duras de parlamentares, como do líder republicano Kevin McCarthy.

Recentemente, McCarthy alfinetou: "Ele foi eleito para o Congresso? É nosso presidente? Acho que não. Tenho perguntas sobre a contabilidade do dinheiro que já gastamos. Qual é o plano para a vitória?"

Neste contexto, Zelensky e seus aliados, dentre os quais figura com destaque o secretário de Estado Antony Blinken, podem recorrer a operações cada vez mais provocativas.

"Este não foi um ataque da Ucrânia à Rússia, foi um ataque da OTAN à Rússia", sustenta Ritter.

Para ele, além de uma grande vitória de relações públicas, a Ucrânia espera que a Rússia reaja de maneira desproporcional.

"A Ucrânia já perdeu esta guerra. A única maneira de mudar isso é o forçar o envolvimento da OTAN", afirma o analista.

Para ele, o P-8 do Pentágono era um alvo legítimo para a defesa aérea russa, mas Moscou tem agido com cautela por motivos políticos.

Outro exemplo disso seria o "destino" dado a Yevgeny Prigozhin. De acordo com o premiado jornalista Seymour Hersh, o Kremlin decidiu livrar-se do chefe do Grupo Wagner quando identificou que o líder mercenário planejava ações provocativas contra países integrantes da OTAN, como a Polônia.