Nesta quinta-feira (14) o Brasil amanhece dando os parabéns ao ex-deputado federal e ex-procurador da Lava Jato – atual nada – Deltan Dallagnol (Podemos-PR), pelo aniversário de 7 aninhos da sua cria mais famosa: o famigerado PowerPoint usado para perseguir – sem provas e com convicção – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT; ex-presidente à época). Foi em 14 de setembro de 2016 que o procurador ‘terrivelmente evangélico’ apresentou sua obra para o país.
Naquela ocasião, a presidente Dilma Rousseff (PT) tinha acabado de ser afastada por um processo de impeachment que, além de um golpe institucional, foi marcado pelo festival de bizarrices e tosquices registradas tanto no Congresso Nacional, como nas manifestações pelo seu afastamento – as progenitoras dos acampamentos golpistas em quarteis e dos atos de 8 de janeiro. Passando, é claro, e como veríamos mais tarde, pela própria Lava Jato.
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‘Deltinha’ apareceu naquela data nas dependências do Ministério Público Federal, com sua fala mansa, aspecto asseado, sotaque sulista, todo 'arrumadinho', e abusando jargões bíblicos, enquanto apresentava o resumo do seu ‘incrível’ trabalho de investigação e denúncia.
Mensalão? Lula! José Dirceu? Lula! Poder de decisão? Lula! Expressividade? Lula! Reação de Lula? Lula!
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Com tudo apontando para o “grande vilão da vez”, não demorou para que o procurador logo ganhasse a simpatia dos setores mais afins à direita que estavam na crista da onda daquele momento, tornando-se um suposto ‘herói nacional’. Esses setores incluem, inclusive, as principais televisões e jornais do país que até hoje, na data que o PowerPoint completa seus 7 aninhos, insiste em defender a Lava Jato “apesar de Moro e Dallagnol”.
Mas nesses 7 anos o mundo [que não é plano] deu uma série de voltas.
Dallagnol, assim como Moro e outras figuras, surfou no auge do lavajatismo. Taxado como um procurador medíocre por uma série de analistas, não houve problema naquele momento, quando descobriu-se que ele havia comprado dois imóveis do Minha Casa, Minha Vida para faturar com suas respectivas revendas.
Afinal, Lula estava preso e era isso o que interessava. Inclusive, sem poder concorrer em 2018, o caminho para Jair Bolsonaro (PL) chegar ao Planalto estava aberto. Ainda na crista da onda, e já fazendo uma exemplar simbiose entre seu lavajatismo e o próprio bolsonarismo, Deltan Dallagnol andava por igrejas evangélicas enganando pessoas de bem e fazendo campanha pela ficha limpa que, por ironia do destino, ele não respeitou quando foi candidato.
A coisa estava tão fácil para Dallagnol, que ele sequer se deu ao trabalho de tomar as devidas precauções com o seu Telegram, e acabou hackeado por Walter Delgatti Neto que, apesar de ser conhecido como “o hacker de Araraquara”, não era exatamente um hacker, e usou um método bastante rudimentar para acessar os dados de Deltinha.
Nas conversas descobriu uma miríade de ilegalidades da própria operação Lava Jato que mais tarde anularia todas as decisões oriundas da operação, soltando Lula que, anos depois, retiraria Bolsonaro da presidência através das urnas.
Da parte de Dallagnol, A Vaza Jato descobriu que ele tentou trazer dinheiro - que era do povo brasileiro e pago pela Petrobrás - dos EUA para montar um instituto que serviria de partido político da Lava Jato. Mas deu errado. E o nosso fala mansa dos clichês bíblicos aproveitou sua popularidade e resolveu abandonar o emprego de procurador para se lançar na política enquanto via a Lava Jato cair em descrédito absoluto, seja na opinião pública ou nas decisões de instâncias superiores do judiciário.
Com a medíocre carreira de procurador já condenada, filiou-se ao Podemos em 2021. No ano seguinte conseguiu se eleger deputado pelo Paraná. Mas seu mandato durou muito pouco.
Acusado de manipular processos internos relativos a sua atuação no MP, saindo do órgão enquanto tramitavam os processos administrativos e disciplinares contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público, foi acusado de fraudar – vejam só! - a própria Lei da Ficha Limpa! E assim teve o mandato cassado por unanimidade em 16 de maio desse ano pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em 6 de junho a Câmara dos Deputados ratificou a decisão e seu suplente, Luis Carlos Hauly (Podemos), tomou posse.
Ele chorou, esperneou, orou aos céus e até convocou manifestações contra sua cassação - que chegaram a ser comparadas a cortejos fúnebres. Não satisfeito com tantas derrotas, Deltinha esqueceu os fracassos do passado e focou nos do futuro. Entrou com um recurso no TSE para anular sua cassação que foi avaliado na última quarta-feira (13) por 5 dos 6 ministros da corte. Foram cinco votos contrários à apelação.
Parabéns, Deltinha!