Eu já recebi duas strikes em redes sociais. Na plataforma de vídeos Vimeo, um moderador removeu um vídeo em que a filha de Olavo de Carvalho, Heloisa, fazia acusações ao pai. A alegação é de que era discurso de ódio. Discordo. Era uma filha criticando o pai. Se houve ódio, foi dela em relação ao pai — e eu fui “penalizado” por isso.
Caso mais grave aconteceu no Facebook. Durante a campanha eleitoral, reproduzi — apenas reproduzi — reportagens de Juliana Dal Piva sobre o histórico das rachadinhas presidenciais. Também reproduzi algo relacionado à atriz Nicole Puzzi (confesso que nem me lembro especificamente qual era o conteúdo).
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Em função disso, recebi ameaças por mensagem. Um sujeito escreveu que me esperaria na porta do trabalho e faria campanha por minha demissão.
Um conhecido arquiteto de São Paulo, de outra parte, achou meu e-mail e escreveu: “Vai tomar no rabo, você e a Nicole Puzzi. Vai procurar os imóveis do filho do Lula e veja de onde veio o dinheiro deles. Pare de espalhar merda, idiota”.
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O curioso é que o punido fui eu. O Facebook me impediu de postar sem maiores explicações. Tirei a página, com mais de 80 mil seguidores, de circulação, certo de que poderia reativá-la quando a “suspensão” acabasse. Jamais consegui recuperá-la.
Nos dois casos narrados acima, eu fui punido por reproduzir conteúdo jornalístico que considerei relevante.
O guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, foi acusado pela filha de deixar de vacinar os filhos quando eram crianças!
E as rachadinhas da família Bolsonaro estão factualmente comprovadas, agora em livro, de Juliana Dal Piva.
Portanto, não é verdade que as redes sociais sejam neutras. Os mecanismos de denúncia permitem que informação legítima seja tirada do ar sem qualquer contestação.
As associações do Google
Mas escrevo isso por conta de um tweet da jornalista Monica Bérgamo sobre um texto que ela escreveu: “Google associa Lula a corrupção e Bolsonaro a coração em busca sobre rei Charles”.
Curiosamente, na minha timeline, a mensagem veio acompanhada de outra, segundo a qual “contexto” tinha sido acrescentado ao tweet. O contexto dizia que as buscas do Google eram mecanizadas.
Não sei se o tal “contexto” foi obra do próprio Google ou do Twitter. Nem sei quando tal contexto é acrescentado, por quem, nem se é algo automático.
A mensagem era acompanhada de um questionário perguntando se o contexto tinha sido importante para mim. Abri o questionário e marquei a opção “irrelevante”. A mensagem acrescentada ao tweet sumiu de minha timeline.
O Google, de acordo com o texto de Monica Bérgamo, respondeu na reportagem que as buscas são “mecanizadas”, ou seja, respondem às buscas reais feitas por pessoas a respeito dos temas.
Confissão, opino, de que as plataformas não são neutras, como alegam ser, uma vez que buscas podem ser manipuladas, assim como denúncias em massa contra determinado conteúdo.
Por exemplo, se eu escolher o nome de um inimigo pessoal meu e escrever o nome dele associado a “estuprador” 200 mil vezes, no buscador do Google, é possível que quando alguém for procurar pelo mesmo nome o preenchedor “mecânico” do Google acrescentará o “estuprador” à busca.
Em resumo, o Google, que se diz apenas um buscador neutro e não uma empresa de informação, na verdade não é neutro. Pode ser facilmente manipulável politicamente.
Já o Twitter, do bilionário de extrema-direita Elon Musk, sofreu uma mudança radical às vésperas da votação do projeto das Fake News.
De repente, mensagens de pessoas contrárias ao PL, das quais nunca ouvi falar, começaram a aparecer em minha timeline, sem que eu as seguisse.
Foi, verdadeiramente, uma enxurrada, especialmente de gente que se diz de esquerda e é crítica do PL.
Compreendo perfeitamente que o Twitter possa fazer isso em busca de engajamento e, portanto, dinheiro para a publicidade que publica.
Uma mensagem da qual você discorda pode resultar numa resposta. Quanto mais tempo eu gastar no Twitter, melhor para ele. Talvez eu clique na propaganda da Shein e faça uma compra.
Porém, se você propaga uma mensagem minoritária na esquerda, contra o PL das Fake News, e a faz parecer majoritária, é possível que esteja tentando influenciar a opinião pública.
Afinal, ninguém gosta de ser minoria. O ativista pela PL das Fake News pode se sentir inseguro ou “deixar para lá”, já que acredita ser minoria. É uma forma sutil de distorcer a realidade política.
Em minha opinião, as Big Techs não são neutras: estão, acima de tudo, do lado do dinheiro. E o dinheiro, em geral, está com os bilionários de extrema-direita, como o próprio Elon Musk.
Os episódios acima apenas reforçam a necessidade de que algum tipo de regulação torne os algoritmos e os mecanismos de funcionamento das plataformas transparentes. Para que, por exemplo, na próxima eleição a gente não seja surpreendido pela associação do nome de um candidato a “ladrão” ou “pederasta” faltando 48 horas para a votação.
Na era da informação, os que tanto clamam pela “liberdade” não podem ter liberdade para manipular e moldar a opinião pública com suas escolhas ideológicas.