Em meio ao risco de uma derrota iminente, quando as pesquisas já mostravam uma provável vitória de Lula nas eleições de outubro, Jair Bolsonaro (PL) alçou em maio de 2022 ao Ministério de Minas e Energia o privatista Adolfo Sachsida, que em parceria com Paulo Guedes, da Economia, tinha como objetivo acelerar os processos de venda de estatais.
A ideia era entregar as promessas de campanha ao mercado e, ao mesmo, tempo fazer um gesto de aceno para a mídia liberal, que diante do descontentamento com o andamento da pauta neoliberal do governo centrava fogo na tentativa de reeleição de Bolsonaro.
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Um dia após assumir a pasta, no dia 11 de maio, Sachsida entregou a Guedes documentos para dar início à privatização da Petrobras.
O plano era fatiar a empresa para privatizar a estatal "no período mais rápido de tempo possível" - mesmo projeto que entregou a Eletrobras, em junho do mesmo ano, ao controle privado.
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Diante da resistência de trabalhadores e da sociedade, Bolsonaro, Sachsida e Guedes não conseguiram vender a Petrobras a tempo.
No entanto, em novembro, sob os efeitos da derrota nas urnas e em meio aos planos para o golpe, Bolsonaro conclui a polêmica venda da Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), localizada em São Mateus do Sul, no Paraná.
Na unidade foi criado o centro avançado de pesquisa conhecido como Petrosix, que desenvolveu tecnologia para extração óleo combustível das rochas de folhelho betuminoso.
A Petrosix foi vendida - juntamente com a SIX, braço responsável por produzir óleo combustível, gás combustível, produtos usados para asfalto, cimento, entre outros - por irrisórios 41,6 milhões de dólares, cerca de R$ 210 milhões, valor pouco superior ao lucro da SIX no ano anterior, de R$ 200 milhões.
Fio que liga Bolsonaro a Hardt
É exatamente esse fio que liga a política privatista de Bolsonaro ao escândalo envolvendo o engenheiro químico Jorge Hardt Filho, pai da juíza federal Gabriela Hardt, em uma intrincada investigação que envolve pirataria industrial, uso indevido de documentos secretos e armações contra a Petrobras.
A Petrosix foi comprada pela empresa Forbes Resources Brazil Holding S.A. (F&M Brazil), sociedade detida pela Forbes & Manhattan Resources Inc, que é era alvo desde 2012 de uma investigação interna na Petrobras sobre vazamento de informações sigilosas.
Na última semana, o jornalista Leandro Demori, em sua newsletter semanal, relata que Hardt Filho é alvo da mesma investivação como principal suspeito de vazar “documentos classificados como corporativos, reservados e confidenciais” sobre a tecnologia desenvolvida pela Petrosix à Forbes.
Em 2012, um ano após uma polêmica parceria com a subsidiária da Petrobras, a Forbes & Manhattan começou a divulgar no mercado global que havia desenvolvido uma tecnologia para exploração do xisto que seria uma "Petrosix melhorada".
A informação foi divulgada à época pelo gerente geral da SIX, Jose Alexandrino Machado, que mostrou imagens comprovando que a Irati Energia - Controlada pelo grupo Forbes & Manhattan - exibia em seus prospectos informações privadas retiradas de dentro da Petrobras SIX.
Alvo de investigação
Em novembro de 2012, a Petrobras criou um grupo para investigar o vazamento das informações
Em um relatório sobre o caso, a empresa foi taxativa: “as evidências apontadas permitiram identificar que as empresas IRATI ENERGIA, FORBES ENERGY e GOSH, todas vinculadas ao grupo FORBES & MANHATTAN, utilizaram-se de informações privilegiadas”.
Os principais suspeitos, segundo a investigação, são João Carlos Gobbo, João Carlos Winck e Jorge Hardt Filho.
Ex-funcionário da Petrobras, o pai de Gabriela Hardt atuou como consultor após deixar a estatal em 2007. Em abril do mesmo ano, obteve uma autorização para entrar com o computador pessoal dentro das dependências da Gerência de Engenharia da Petrobras SIX, Unidade de Industrialização de Xisto da petroleira, em São Mateus do Sul - a mesma que foi privatizada por Bolsonaro.
Em 2008, Hardt Filho foi contratado pela Engevix, empreiteira que ficou famosa por ser uma das investigadas durante a operação Lava Jato – seus diretores e o presidente foram presos sob ordens do então juiz Sergio Moro.
No mesmo ano em que contratou o engenheiro, a Engevix assinou um contrato com a Petrobras para negociar o Petrosix em outros países. Foi graças a esse contrato que Hardt e os demais tiveram acesso aos documentos internos da empresa que contavam todos os segredos da tecnologia.
A privatização da Petrosix é alvo de uma investigação no Tribunal de Contas de União, que corre sob sigilo, pode esclarecer ainda mais os pontos obscuros desse negócio.