OPINIÃO

A política externa altiva e ativa do Brasil - Por Emir Sader

Celso Amorim foi o construtor dessa política, que ele chama de altiva e ativa. Que permite ao Brasil ter uma posição soberana no mundo, ao mesmo tempo de ter alianças no sul e, especialmente, na América Latina.

Lula e Celso Amorim em videochamada com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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A política externa dos governos do PT foi formulada em meio à complexa situação internacional pós-guerra fria, neste século. 
Uma situação que, primeiro, projetou os EUA como a única superpotência em um mundo unipolar. Depois, com o surgimento dos Brics, baseado na aliança entre a Russia e a China, com participação de países emergentes do Sul do mundo – Brasil, Africa do Sul e índia. Com posições contra a hegemonia norte-americana no mundo e a favor de um mundo multipolar.

Celso Amorim foi o construtor dessa política, que ele chama de altiva e ativa. Que permite ao Brasil ter uma posição soberana no mundo, ao mesmo tempo de ter alianças no sul e, especialmente, na América Latina.

Essa política projetou Lula como um dos maiores estadistas do século XXI no mundo. Quando Lula retornou à Presidência do Brasil, em pouco tempo, teve reuniões com os Estados Unidos, com os países da América Latina e do Caribe durante a reunião da Celac, na Argentina, recebeu a visita do primeiro ministro da Alemanha e deve receber o presidente da França.

Viaja agora para a China, completando, em um curto espaço de tempo, um circuito extraordinário de contatos que recoloca o Brasil como um participante fundamental da política internacional no século XXI.

Diante da guerra na Ucrânia, o Brasil exerce, de forma concreta, sua posição altiva e ativa. O país condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que se recusa a mandar armamento e participar da guerra ao lado dos Estados Unidos e da Otan. 

Coerente com sua política internacional, o Brasil atua para criar um “Grupo da paz”, para promover uma forma de terminar com a guerra.

Busca aliança com países como África do Sul, China, França, entre outros. A própria Rússia afirma que reconhece o caráter positivo da criação desse Grupo. Depois de conversar com Biden, Lula falará com Lavrov, para buscar estabelecer os termos possíveis para um fim da guerra na Ucrânia.

Lula reafirma que o Brasil não participará da guerra. Ao contrario, trabalha pelo fim dela.

Uma política internacional soberana no século XXI requer, antes de tudo, a unidade da América Latina. Uma unidade perfeitamente possível atualmente, com países como o Brasil, a Argentina, a Colombia, o México, a Bolívia, Honduras, entre outros, com posições políticas internacionais similares.

Supõe a atuação dos Brics, a favor de um mundo multipolar, mesmo com posições divergentes entre seus países, sobre vários temas. 

A proposta brasileira de criação de uma moeda comum sul-americana caminha nessa direção. De avançar não somente nos processos de integração política – como a Celac, a Unasur, -, mas também na integração econômica, começando pela criação da Sur, uma moeda comum, mas também de um Banco Central Sul-americano.

Posições remanescentes da época da guerra fria, que não compreendem o caráter do mundo atual e da política externa brasileira, veem na Rússia atual o continuador da URSS, ao qual os antigos partidos comunistas atrelavam mecanicamente suas políticas. Até mesmo nas situações claras de agressão soviética, como na Tchecoslováquia e na Polônia, entre outros países.

No caso da Ucrânia, a posição correta é a posição do Brasil. Como já destacado, de condenação da invasão russa e de luta pelo fim da guerra, sem participar dela e, ao contrário, lutando pela paz. Assim se controle uma política externa soberana no complexo mundo do século XXI.