Há 60 anos, no dia 22 de março de 1963, os Beatles lançavam seu primeiro álbum, o simples, antológico (como tudo o que fizeram) e seminal “Please Please Me”, que trazia alguns covers e canções inéditas compostas pela dupla Lennon & McCartney.
Dia desses me perguntaram, hipoteticamente: "se os Beatles tivessem feito apenas esse álbum, ainda assim teriam a importância que tiveram?" Respondi de bate-pronto: “não”. Mas também não tenho dúvidas em afirmar que, naquela gravação feita em apenas um dia, uma sessão de estúdio, já estava a criança em que o adulto se transformaria.
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Já havia a energia e os lampejos que anunciavam a banda genial que nenhum dos presentes ao estúdio da Abbey Road, em Londres, naquele 11 de setembro de 1962, poderia sequer imaginar. Nem eles próprios.
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Eles vinham de alguns anos na estrada, em bares e clubes pequenos. Haviam acabado de trocar o baterista. O grande Ringo Starr, de Liverpool, entrava na banda pela porta da frente. Estavam afiados e tinham algumas dúzias de canções na ponta da língua e das guitarras.
Das 14 escolhidas, oito são composições da dupla Lennon & McCartney, como "I Saw Her Standing There"; "Misery"; "Ask Me Why"; a faixa-título, "Love Me Do", que já havia saído em compacto simples, com “P.S. I love you” no lado B, que também integra o álbum; "There's a Place" e "Do You Want to Know a Secret", a única delas cantada por George Harrison.
As outras são "Anna (Go to Him)" (Alexander); "Chains", escrita pelo casal Gerry Goffin e a sua então esposa, a jovem estreante Carole King; "Boys" (Dixon/Farrell), a única cantada por Ringo Starr no disco; e "Baby It's You", uma clássica melodia de Burt Bacharach com letra de Barney Williams e Hal David.
"Twist And Shout" (Medley/Russell), que completa os covers, já era sucesso na época, gravada anteriormente pelos The Top Notes e The Isley Brothers e, depois, por vários outros. Ela é o único cover dos Beatles a vender um milhão de cópias e o único a atingir as dez mais tocadas em qualquer lista de paradas de sucesso norte-americanas.
O álbum “Please Please Me” vem na onda de vários outros grupos de rock britânicos apaixonados pela música pop americana que explodia com a recém-criada, em 1959, Motown Records. Tudo o que faziam, ou tentavam, era emular aquele balanço afro-americano que encantava e chacoalhava o quadril do planeta naqueles tempos.
Os vocais, a batida, enfim, todo o núcleo sonoro da banda vinha na cola daquele estilo. Nunca chegaram lá, mas – o que acabou sendo muito melhor – criaram rapidamente uma personalidade própria que já era adivinhada neste álbum de lançamento e que, pouco tempo depois, o mundo conheceu como beatlemania.
Ouvir hoje “Please Please Me” é como olhar a fotografia de alguém que, anos depois, ficou muito famoso. Além, é claro, de ser diversão garantida e ótima música pop. Ali já estão, sendo preparados, os meninos geniais que virariam o mundo do avesso a seguir.