Chegou ao catálogo da Prime Video o filme "A Menina que Matou os Pais - A Confissão", dirigido por Maurício Eça e com roteiro assinado por Raphael Montes e Ilana Casoy. O longa fecha a trilogia que aborda o bárbaro crime cometido por Suzane Richthofen, Daniel e Cristian Cravinhos. A saber: "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou os Meus Pais".
Com a estreia da terceira parte, havia a esperança de que os erros cometidos nos dois filmes anteriores fossem corrigidos. No entanto, os erros permaneceram, e uma certa relativização de Suzane e dos irmãos Cravinhos também se estabeleceu.
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Além disso, o roteiro dos filmes trabalha com a ideia de que a maconha teve algum tipo de coparticipação nos assassinatos de Manfred e Marísia von Richthofen, pais de Suzane.
A Menina que Matou os pais: narrativa isenta?
A produção do filme afirma que trabalhou com o máximo de isenção e que o julgamento cabe ao espectador. No entanto, sabemos que a maneira como os enquadramentos, a fotografia e a edição são realizados também contam uma história.
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Dessa forma, "A Menina que Matou os Pais - A Confissão" reproduz uma ideia problemática sobre a maconha. Sempre que o uso da substância entra em cena, há uma mudança de tom. Por exemplo, em determinado momento, parece que a solução do caso está na informação de que Suzane e os irmãos Cravinhos faziam uso da erva. Mas como isso é feito? Na maneira como alguns personagens reagem à informação.
Esse erro já havia sido cometido nos outros dois filmes: a todo momento, a direção de Maurício Eça e o roteiro assinado por Montes e Casoy trabalham com a ideia de que a maconha foi um fator substancial na organização e realização do crime.
Algumas cenas chegam a ser constrangedoras, pois a produção do longa quer de alguma forma fincar na cabeça do espectador a tese de que "alerta, maconha pode produzir criminosos". E isso é feito com uma sequência de cenas em que Suzane fuma sem parar, e suas feições se transformam, tudo sob o efeito da "maldita erva". Parece até que os "dementadores cannábicos" surgirão para tomar conta da mente da criminosa.
Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos: assassinos relativizados
Quando o filme coloca de maneira duvidosa a maconha no roteiro, busca de alguma forma relativizar o bárbaro crime cometido por Suzane e os irmãos Cravinhos.
No entanto, o que temos é uma jovem de família rica e dois irmãos de classe média que tiveram uma boa vida e elaboraram e executaram um dos crimes mais bárbaros na história recente do Brasil. Eles não foram corrompidos por esta ou aquela substância; eles planejaram e assassinaram Manfred e Marísia.
Três dias depois de cometerem o bárbaro crime, Suzane e os irmãos Cravinhos deram uma festa à beira da piscina, como se nada tivesse acontecido, revelando-se assassinos frios. Isso faltou na construção da narrativa dos filmes.
Aqui cabe um paralelo com o também recém-lançado "João Sem Deus" (Globoplay), dirigido por Marina Person, que faz um retrato sem filtros de João de Deus, retratando-o como o estuprador em série que era. No caso dos três filmes sobre o assassinato de Manfred e Marísia, temos o oposto: a relativização de um bárbaro crime e, pior, a sugestão de que o consumo de álcool e outras drogas foi corresponsável por tais atos, o que não se sustenta.