Escrevo esta coluna depois de, nas últimas 168 horas (7 dias), ter passado 90 delas dentro de um ônibus, indo e voltando de Campina Grande – Paraíba até Brasília, para a posse do nosso querido Presidente Lula. Lula vale o esforço. O Brasil vale o sacrifício! E nem foi tanto assim, já que a turma do ônibus estava feliz demais e foram momentos marcantes de emoção e alegria durante a viagem. Compensou todos os contratempos que aconteceram.
Arrisco-me nas palavras, mesmo sabendo que todas elas não serão capazes de expressar o que foi sentido e vivido nesses dias. Alívio. Catarse. Expurgo. Lavar a alma. Tirar a urucubaca. Sonhar. Sorrir. Cantar. Viver. Dançar. Celebrar. Abraçar. Carinhar. Gritar. Chorar. Extravasar. Pular. Uma ofegante epidemia fora do carnaval. Mas também era carnaval. Era festa. Era festival. Era cantoria. Era o Brasil feliz de novo!
E é aqui que eu me vi no meio do Salmo 126. Um salmo escrito quando alguns judeus voltaram do exílio na Babilônia. De um período de sofrimento e angústia, onde a própria identidade se esvaia nas mãos de perversos tiranos. A alegria era tanta que o salmista se expressa assim:
“Quando o Senhor restaurou a nossa sorte, ficamos como quem sonha (...)
A nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo (...)
Entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles (...)
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.”
Eu escrevi meu Salmo 126 ao ver tanta gente que misturava choro e riso. Os sorrisos molhados do Brasil inteiro eram iguais ao meu. Toda gente ali era essa mistura de emoções. O choro muitas vezes de tristeza, luto e agonia desses anos desde o golpe, davam lugar a um choro incontido de felicidade que molhava os sorrisos que insistiam em ocupar o mesmo rosto. Éramos todos choro e riso. Os rostos molhados e sorridentes debaixo do sol escaldante de Brasília na tarde do dia 01 enquanto o povo brasileiro subia a rampa era o cumprimento da promessa: quem semeia com lágrimas, colherá com risos... quem sai andando e chorando, como andamos e choramos nesses anos todos, tinha milhões de motivos para voltar com alegria e festa, trazendo os feixes, bandeiras, camisas... a alegria tomou conta do país.
Eu vi renascer um país. Eu vi velhos e crianças com o mesmo brilho nos olhos. Eu chorei o choro de Elisa Lucinda ao cantar o Hino Nacional. Eu ri o riso de felicidade do menino Francisco Carlos ao participar da entrega da faixa. Eu caminhei com todos eles naquela rampa. Sim. Eu estava lá! Você também estava. Todo mundo estava. Todos que, nesses anos, não largaram a mão de ninguém estavam ali representados. Até Kakashi, o vira-lata caramelo da minha filha Bela Barbosa estava lá representado por Resistência, a cadela adotada durante o tempo em que Lula esteve preso. Ajudamos a levantar os braços de Aline Souza, catadora que teve a honra de, em nosso nome, passar a faixa para os ombros de Luiz Inácio Lula da Silva, pela terceira vez presidente do Brasil.
E, como o salmista, ficamos como quem sonha... risos fartos... olhos úmidos... e uma esperança que nem o mais pérfido fascismo conseguiu tirar de nós nesse tempo todo. Nós esperamos. Nós esperançamos. Nós vencemos. Vencemos no voto, na marra, na força, na garra. Vencemos!
O Brasil volta a sonhar! O Brasil volta a viver! O Brasil respira aliviado!
Acabou! Agora temos um país a reconstruir, entre lágrimas e risos. E o nosso sorriso molhado ainda contará muitas outras boas histórias!
A esperança, o amor e a democracia voltaram. Para sempre!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum