As duas vitórias anteriores de Lula foram vitórias das políticas sociais. Os governos de direita tinham conseguido convencer a maioria da população de que os problemas centrais do Brasil seriam o equilíbrio das contas públicas, para combater a inflação. Assim triunfaram duas vezes – 1994 e 1998 -, no primeiro turno.
Mas a maioria da população se deu conta que nem a inflação estava controlada, nem esse era o problema mais importante do país.
Te podría interesar
Quando a população foi convencida de que as questões centrais eram as desigualdades regionais e sociais, Lula se elegeu, em 2002 e se reelegeu em 2006.
Seu governo conseguiu diminuir as desigualdades como nunca nenhum outro governo tinha conseguido fazer. Elegeu Dilma como sucessora, em 2010, e esta conseguiu se reeleger em 2014, sempre centrada na prioridade das políticas sociais.
Te podría interesar
Em todas essas eleições, os candidatos do PT foram vitoriosos porque a prioridade das políticas sociais diminuíram, em grande medida, as desigualdades sociais e regionais. Foram a alavanca fundamental das maiorias que o PT conquistou em nível nacional.
Todas elas foram possíveis pela existência da democracia, em que a maioria da população decidiu que preferia os governos do PT, fundamentalmente por suas políticas sociais.
Quando Dilma implementou um ajuste fiscal, que a fez perdeu o apoio que ela tinha e permitiu que a direita rompesse de novo a democracia, não tivemos força de massas para resistir, porque não havia uma cultura democrática na população para impedir o golpe de 2016.
A esquerda sempre foi acusada de não valorizar a democracia, de tomá-la como um instrumento para obter outros objetivos. A Ditadura Militar passou a colocar para a esquerda a restauração da democracia como um objetivo fundamental.
Ainda assim, a questão democrática não foi incorporada como central pela esquerda. As desigualdades sociais seguiram como objetivo fundamental. Sem vincular a questão democrática com a questão social.
A provável vitória de Lula este ano, esta vez se centrará não apenas na proposta de retomar a prioridade das políticas sociais e da luta contra as desigualdades regionais e sociais no Brasil. Uma parte importante da votação do Lula vem desta posição, característica do PT.
Mas, esta vez a maioria que se decide a votar em Lula o faz porque ele representa a democracia, agrupando todos os anti-bolsonaristas. Se opondo à ruptura da democracia, a todas as formas de autoritarismo atuais. Conversando com todos, Lula retoma as formas de convivência na diferença. Como ele cita o Paulo Freire: convergir nas diferenças para se opor ao antagônico.
O que representa que Lula triunfe com a vitória da democracia? São concomitantes o favoritismo de Lula e a expressão mais ampla da adesão da sociedade civil à democracia. A vitória de Lula será a vitória da democracia, o que significa que a democracia se generaliza como um valor nacional.
O avanço irreversível será articular os dois eixos: a restauração da democracia e a superação das desigualdades sociais e regionais. A vitória de Lula pode representar esta vez a articulação da questão democrática com a questão social.