OPINIÃO

O futuro da América Latina - Por Emir Sader

Proposta de Lula para adoção de uma moeda comum, chamada SUR, é vista com bons olhos pela Argentina, de Alberto Fernández, e pelo Equador.

Pepe Mujica, Alberto Fernández, Cristina Kirchner e Lula.Créditos: Ricardo Stuckert
Escrito en OPINIÃO el

A América Latina reconquistou o direito de ter um futuro. Elegendo uma grande maioria de governos soberanos, voltou a ter a possibilidade de decidir sobre o seu destino.

No modelo neoliberal, os países ficam condenados aos mecanismos de mercado, à globalização. Somente quando os governos neoliberais são derrotados, é que o continente passou a ter a possibilidade de decidir sobre seu futuro.

Este ano o continente poderá ter um grande bloco de países donos do seu destino. As eleições presidenciais no Brasil podem completar esse bloco, que passará a incluir o México, a Argentina, a Colômbia, o Chile, a Venezuela, Honduras, a Bolívia.

Esses países poderão definir as linhas do futuro dos seus países, com a possibilidade de coordenação entre eles. Será um período inédito na América Latina, que permitirá implementar projetos definidos coletivamente.

Na crise de 2008 cada país reagiu da sua maneira, sem contar com a força da coordenação. Havia coordenação política, mas não econômica.

Desta vez o continente necessitará e terá a possibilidade de uma coordenação também econômica. Para que não apenas resista às políticas neoliberais, mas que possa superar a esse modelo, passando do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo.

Uma primeira iniciativa foi a proposta do Lula para que a América do Sul adote uma moeda comum, chamada SUR - como sigla do seu nome -, que promoveria a desdolarização das relações comercias no sub-continente. O que suporia a criação de um Banco Central da América do Sul.

Os países que quiserem, podem adotar essa moeda como sua moeda nacional.

Alguns argumentam que as moedas nacionais são mecanismos de defesa dos Estados nacionais em relação à globalização. No entanto, em um país como a Argentina, por exemplo, a moeda nacional se tornou, praticamente o dólar, diante dos níveis de inflação altíssimos e da debilidade do peso.

Na conversa que tive com o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, ele manifestou interesse não apenas no avanço nos processos de integração econômica que essa iniciativa traria, mas expressou interesse da Argentina na adoção do SUR como moeda nacional, o que possibilitaria contornar o círculo vicioso da inflação em que está mergulhada a Argentina.

Um ex-ministro do governo do Equador de  Rafael Corrêa, por sua vez, expressou como a eventual adoção do SUR pelo governo do seu país poderia permitir que eles se livrasse do dólar como moeda nacional.

Seria o começo de um processo de integração econômica na América do Sul, que daria mais consistência à integração política. O continente poderia definir o tipo de Estado que deseja ter, para superar o Estado neoliberal. Poderia definir o modelo de sociedade que deseja, uma sociedade pós-neoliberal.