Em dezembro de 2018, tão logo Pedro Guimarães foi anunciado presidente da Caixa no futuro governo Jair Bolsonaro (PL), Veja mandou um recado ao executivo que fez carreira no mercado financeiro e foi demitido do Santander.
"O forte do novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, não é o autocontrole. Quando trabalhava no Santander, ele machucou uma colega de banco durante uma festa de fim de ano. Acabou demitido pela direção", diz a nota da Veja, que nunca mais tocou no assunto.
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Informações nos bastidores dizem que o real motivo da demissão de Guimarães do Santander foi assédio a funcionárias do banco. A razão é a mesma pela qual deve ser expurgado da presidência da Caixa Econômica Federal, diante de uma enxurrada de depoimentos estarrecedores.
Passados três anos no comando do banco estatal, em uma rotina de bajulação a Bolsonaro que irritou até ministros próximos ao chefe - como Onyx Lorenzoni -, Guimarães recebeu a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) do Rio Grande do Sul para elaborar uma campanha de prevenção e enfrentamento ao assédio sexual na instituição.
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Deu de ombros. Ao MPF, a Caixa disse que já cumpria as recomendações e que teria aprimorado seu canal de denúncias durante a gestão de Guimarães - o mesmo sistema evitado pelas vítimas do presidente do banco, que denunciam também perseguição.
Guimarães foi levado ao governo por Paulo Guedes pela tese na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, em que faz defesa ferrenha do processo de privatização. Foi um dos cabeças por trás da venda do Banespa e levado para fazer o mesmo com a Caixa - mas vislumbrou-se com o poder diante da montanha de dinheiro público, que vem sendo usado de forma eleitoreira por Bolsonaro em seu pacote de benesses. Assim, especialmente com o auxílio emergencial na pandemia, ganhou a simpatia do presidente.
Cultura de achaques e assédios
Economista de linhagem neoliberal, Guimarães fez carreira no sistema financeiro privado, um dos principais nichos de achaques e assédios cometidos contra funcionários, em especial mulheres, que segue sendo dominado há séculos por homens brancos, machistas, misóginos e patriarcalistas.
No banco público, levou sua expertise de "coach" e humilhou funcionários em convenções - o que o levou receber uma advertência do Ministério Público do Trabalho.
A reprimenda se deu porque durante evento da Caixa realizado em dezembro de 2021, Guimarães imitou Bolsonaro, achacando funcionários a fazerem flexões e darem piruetas. A alegação é que seria um evento "motivacional".
Guimarães também "imita" Bolsonaro nos chiliques em reuniões do Conselho de Administração da Caixa. Em agosto de 2019, o economista deu piti e, entre xingamentos, achacou os conselheiros ao socar a mesa e gritar: “Que porra de empresa é essa que ninguém escuta o presidente?!”.
Casado com Manuella Pinheiro Guimarães - filha de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro da OAS, autor da delação mentirosa que serviu de justificativa para a prisão de Lula - e criado na cultura patriarcalista branca, Guimarães é apenas mais um agente do sistema financeiro com uma longa lista de denúncias de crimes contra as mulheres.
Homens brancos e endinheirados que se mascaram com terno e gravata nas páginas de economia da mídia sustentada pelos bancos na tentativa de ecoar o discurso único do neoliberalismo.
Resta saber por qual motivo Veja escondeu os crimes de Guimarães contra as mulheres desde 2018 e deu guarida ao estrago conduzido por ele nos mais de três anos em que ocupou o comando do banco estatal.