A vitória de Arthur Aguiar no BBB 22 é o reflexo perfeito da vida masculina no Brasil: homem que trai a companheira, se faz de vítima e no final afirma "fui criado por mulheres". Chora em público, se diz arrependido, “vamos começar de novo”, faz uma serenata e vida que segue. Arcaico, mas nada mais brasileiro do que tal modelo.
Mas, a trajetória de Arthur não foi trilhada sozinha, contou com o apoio e cumplicidade de Pedro Scooby, Paulo André e Douglas Silva. Juntos formaram aquilo que o imaginário brasileiro pensa sobre corpos masculinos, com cada um deles representando tipos clássicos da nossa sociedade. Atuações que chamei de "República dos machos agonizantes".
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Essa República de machos agonizantes, mas não mortos, ainda conta com uma parcela significativa da sociedade que apoia e incentiva tais modelos de vivência em termos de gênero e sexualidade.
A eleição presidencial deste ano será o ápice da disputa entre esses dois modelos de sociedade: de um lado o machistério homogêneo neoliberal e na outra esfera, o Brasil composto pelas diferenças de todos os tipos.
Masculinidades decadentes
De acordo com os sites especializados em BBB, Arthur Aguiar traiu Maira Cardi, sua companheira, mais de 50 vezes e isso não é fruto de especulação, mas sim relato da própria Cardi.
Claro que as pessoas podem mudar e se arrepender, mas a estrutura de um sistema é maior do que a prática e o arrependimento de um indivíduo.
Não se trata especificamente de Arthur Aguiar, mas o que ele representa e como milhares de homens, jovens e adultos, se enxergam na figura do homem que traiu, mas se arrependeu e voltou para o lar junto de sua amada.
Brasil é o país em que conhecemos o endereço postal da mãe, mas geralmente desconhecemos o paradeiro do pai, ou seja, ser homem e abandonar família é típico da nossa formação social.
Mas, ainda que Aguiar seja a simbolização da masculinidade brasileira e da vivência do macho - nada mais típico de que o homem que traí e faz disso um espetáculo para retomar holofotes -, tivemos "as comadres" Lina, Jessi e Nat. Três mulheres negras que emparedaram, até onde puderam, os machos agonizantes.
BBB e Arthur Aguiar são o Brasil? Não, de forma alguma. Mas sim, ainda representam uma parcela e são modelo que ainda inspiram e são replicados por milhões. Mesmo que também sejam repudiados e entendidos como arcaicos por outros milhares, o caminho é como o da política: avançamos, às vezes retrocedemos e quando retomamos já possuímos um lastro de produção que impede que comecemos do zero.
A herança dos vários debates e políticas públicas realizadas nos governos de Lula e Dilma serão de fundamental importância para o momento pós-Bolsonaro. E serão de fundamental importância para a retomada das discussões sobre gêneros e sexualidade a partir de outro patamar. É assim que iremos superar o machoastral do neoliberalismo.