O anúncio público de que João Doria (PSDB) deixará a disputa à Presidência, divulgado na manhã desta quinta-feira (31), já estava sendo costurado nos bastidores do tucanato que buscou o apoio da Globo para trocar o dono da Lead pelo governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB).
Com cerca de 2% nas pesquisas de intenção de votos, o que o colocava por vezes atrás de André Janones (Avante), Doria insistia no discurso de unificar a "terceira via" mesmo não tendo consenso no próprio partido e na mídia liberal.
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Testado com melhor desempenho na saída - igualando por vezes o colega paulista -, Eduardo Leite foi ganhando terreno em meio ao conluio golpista, que reúne desertores do centrão bolsonarista, mídia liberal e uma parcela do empresariado. E ganhou um apoio crucial: da Globo, da família Marinho.
A decisão da troca tucana foi discretamente antecipada em coluna de Merval Pereira na última terça-feira (29) no jornal O Globo.
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No texto, o porta-voz político da família Marinho descarta Doria ao frisar o desempenho pífio na campanha e colocar um limite temporal para a aventura do tucano solitário: junho. E já antecipa a troca.
"Eduardo Leite, por sua vez, terá de aparecer na mesma pesquisa à frente de Doria para poder reivindicar o apoio de seu partido. Se conseguir isso, mesmo tendo deixado o governo do Rio Grande do Sul, terá argumentos para se impor à maioria do partido, que continua sob o controle de Doria. Terá atingido duas das três metas acordadas para a definição do candidato único: estar melhor na pesquisa e ter mais capacidade de aglutinação", diz Merval, que ainda não abandona totalmente o discurso de "voto útil da direita" para Sérgio Moro.
No mesmo dia, quando anunciou que estava se descompatibilizando do cargo de governador do Rio Grande do Sul, Leite ganhou entrevista na GloboNews e, no dia seguinte, no Valor. Na manhã desta quinta, seu nome é falado à exaustão por comentaristas da emissora em meio à desistência de Doria.
"Eu não quero dispersar as forças do centro. Há uma conversa entre MDB, União Brasil, PSDB e Cidadania que parece sinalizar que haverá convergência. Não sei se ela vai se confirmar, mas há uma boa expectativa nessa direção", disse Leite ao Valor, um dos palcos ofertados pela Globo para dar vazão ao discurso de unificação.
Na prática, Leite tem todos os atributos que a Globo vê em um candidato ideal do neoliberalismo. Além do discurso econômico entreguista afinado com a emissora, Leite tem uma postura discreta, é "bem educado" - exceto nos ataques desferidos a Lula - e obediente aos mandos e desmandos do status quo financeiro.
É também uma figura jovem, descolada, que passa um ar subjetivo de ser moderno em meio àquilo que é "antigo" na política - representado por Lula e Bolsonaro.
Leite é a aposta descolada da terceira via para romper a propalada polarização. Será mais um candidato de proveta - no termo criado por Kassab - numa tentativa desenfreada dos atores alinhados ao sistema financeiro de retomar o poder sem precisar apoiar Bolsonaro e/ou um novo golpe contra Lula e a frente progressista.