O destaque do Jornal Nacional desta sexta-feira foi o do lançamento da candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, à presidência da República. O chute inicial deste projeto já havia acontecido na quinta, quando em entrevista a Pedro Bial, Leite assumiu sua orientação sexual numa frase no mínimo polêmica: “sou um governador gay, não um gay governador”.
Sem sombra de dúvida que o fato de Leite se assumir gay é um fato jornalístico relevante. Mas o destaque dado pela Globo não foi resumido a uma cobertura tradicional. Houve uma ordem de cima para que o assunto fosse tratado em todos os programas da emissora e na GloboNews. Sendo que não houve um comentário que levantasse de qualquer jornalista, por exemplo, o fato ele ter apoiado Bolsonaro em 2018, quando o atual presidente já fazia discursos homofóbicos e cavalgava nas fake news da mamadeira de piroca e do kit gay.
A questão agora é se perguntar se essa candidatura lançada de maneira completamente heterodoxa tem força para se tornar a opção de terceira via. Ainda é cedo para responder com precisão essa questão, mas já dá pra fazer algumas projeções.
Leite é a cara do liberalismo limpinho que o PSDB gosta. Ele pode sim derrotar João Doria na prévia interna se tiver o apoio dos grandes meios de comunicação. Inclusive porque se movimenta a partir do que o establishment sinaliza e não a partir de um desejo da militância. Até porque os tucanos nunca tiveram uma militância orgânica e sempre se decidiu num juntar de cinco ou seis homens brancos, ricos e héteros.
O fato de Leite sair candidato pelo PSDB o transforma imediatamente na terceira via? Não necessariamente. Ainda haveria espaço para uma chapa Ciro e Mandetta construir-se como uma alternativa de poder neste espaço político. Leite teria que se firmar primeiro no PSDB e conseguir avançar depois pra fora dele. Dificilmente ele conseguiria convencer Ciro a desistir de sua pretensão presidencial, inclusive porque Leite é um neoliberal clássico. Defende Estado mínimo, com privatizações, e Ciro, ao menos em tese, tem se colocado contra isso com todas as suas forças nos seus últimos discursos. Sendo que o PDT e sua herança brizolista sempre defendeu a soberania nacional e o seu patrimônio, como a Petrobrás, por exemplo.
Se Leite viesse a conquistar a hegemonia do centro e se consolidasse como o candidato da tal terceira via ele ainda teria um grande desafio, ter mais votos que Lula ou Bolsonaro para chegar ao segundo turno.
Não é uma tarefa fácil. Eu diria quase impossível.
Bolsonaro está vivendo seu momento mais difícil e se a CPI não conseguir produzir um relatório denso e sem reparos vinculando a falta de vacinas à corrupção ele não vai correr risco de impeachment e terá condições de no ano que vem com o crescimento econômico que já está sinalizado e com quase toda a população vacinada fazer um discurso mais otimista.
E dificilmente baixará dos 25% a 30% num primeiro turno. Essa parece hoje uma marca inatingível para Leite. Ele pode ser um candidato de 12%, 15%, mas muito dificilmente de 30%, principalmente se a chapa Ciro e Mandetta se consolidar.
Sendo assim, Leite se conseguir superar Doria e se tornar o candidato do PSDB pode se lançar agora para ser uma alternativa em 2026, mas muito dificilmente para agora. E pode ser nisso que a Globo esteja apostando.
Claro, que será feito um esforço para que ele saia grande deste processo de 22, mas esse não parece o objetivo principal até que se prove o contrário. Com Leite, a Globo pode estar pensando já no pós-Lula.
Lançamento da candidatura de Eduardo Leite pela Globo significa que ela já está olhando para o pós-Lula
Leite é a cara do liberalismo limpinho que o PSDB gosta. Ele pode sim derrotar João Doria na prévia interna se tiver o apoio dos grandes meios de comunicação
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