LOLLAPALOOZA

Comentaristas do Lollapalooza narram um festival enquanto público vê outro

Desde elogios a apresentações pífias até o desprezo pelas manifestações contra Bolsonaro deram o tom do desconforto nas transmissões

Fora Bolsonaro no Lolapalooza.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
Escrito en OPINIÃO el

O Gregório Duvivier afirmou durante um de seus programas Greg News que não conhecia ninguém no “line up” do festival Lollapalooza. Digo o antipático termo “line up” pra entrar no clima desse mundo particular. A expressão significa programação mesmo.

De volta ao começo, Duvivier tem razão, sem medo de ser extemporâneo. Com algumas exceções aqui e acolá, a impressão que dá é que o festival é composto, em sua imensa maioria, por artistas estrangeiros inexpressivos que nos são empurrados. E, portanto, os brasileiros acabam, com toda a pompa e circunstância, roubando a cena.

Trata-se muito mais de um acontecimento do que qualquer outra coisa. E, como tal, tem lá os seus mestres de cerimônia, os repórteres que ficam no “backstage”, outro termo antipático que, como dizia o Nobel de Literatura José Saramago, temos um por aqui que cabe perfeitamente: “bastidores”.

Pois é, ficam eles lá soltando suas gírias e bobagens, como sempre. O pior de tudo, no entanto, é o dirigismo com que tratam o público. Assistia eu, entre atônito e distraído, o show da banda inglesa de “garage rock” (olha mais um aí) The Libertines. Parecia um festival de rock de iniciantes. Tudo insuportavelmente desafinado, desde as vozes até as guitarras. Não bastasse isso, canções canhestras mal executadas, enfim, um completo horror, sem esquecer que se trata de uma banda veterana.

Câmera volta para outro veterano, o Marcos Mion, que dispara algo como: “antológica apresentação dessa banda, que mostrou toda a sua maturidade” e segue com um sem fim de elogios. Então tá...

Já a ótima banda conterrânea The Wombats teve seu show interrompido pela chuva sem nenhum comentário nem elogioso tampouco desabonador. Foi como se não existisse.

Mas o melhor mesmo foi o que ocorreu com a maioria dos brasileiros, entre eles destaco Pablo Vittar, Marcelo D2 e, sobretudo, o rapper Djonga. Cada um no seu quadrado, deixaram plateia e espectadores estupefatos, tanto com a capacidade de lidar com o público quanto com suas posturas políticas.

O nome de Jair Bolsonaro (PL), rejeitado por 55% dos eleitores, de acordo com o último Datafolha, caiu como uma bomba entre a garotada que lotava o Autódromo de Interlagos. Os artistas brasileiros pegaram carona na tentativa do TSE de proibir manifestações contra o presidente e transformaram o festival em um manifesto contra o governo.

Os comentaristas prosseguiram perplexos, como se estivessem transmitindo um festival e os expectadores vendo outro.

Em setembro, um mês antes das eleições, acontece no Brasil o Rock in Rio e já podemos imaginar o que se pode esperar até lá. Que o “line up” e o “backstage” estejam mais afiados.