SPOTIFY

“Som na Faixa”: a furiosa e inconclusa história da criação do Spotify chega à Netflix

Apesar das imprecisões, vale ver a eletrizante história da plataforma de música que virou a indústria do avesso, enriqueceu seus criadores e abandonou os artistas

A minissérie Som na Faixa.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Apesar de alguns deslizes sérios, vale a pena ver a minissérie sueca “Som na Faixa”, que acompanha a trajetória de Daniel Ek, responsável pela criação da plataforma de streaming Spotify, a mais acessada do planeta e que revolucionou a indústria da música neste século.

O primeiro dos problemas é a tradução do título para o português que, ao lançar mão de uma gíria (na faixa), deixa pouco claro que se refere à música grátis. O título original (The Playlist) creio que traduza com muito mais perfeição do que se trata a série.

O problema mais sério está justamente a respeito de quem se trata o assunto, ou seja, os próprios criadores do Spotify. “Som na Faixa” é baseada no romance “Spotify Untold”, do original “Spotify Inifrån”, escrito por Sven Carlsson e Jonas Leijonhufvud. Apesar de contar a trajetória dos criadores da plataforma, Daniel Ek e Martin Lorentzon, em momento algum o livro ouviu os dois.

Cada um dos seis capítulos é baseado em depoimentos de ex-funcionários e outros personagens que estavam no entorno a criação da controversa plataforma.

A chave para entender todo o processo está no conceito repetido à exaustão por Daniel Ek durante a minissérie. A justificativa para a criação da plataforma é que a indústria da música estaria totalmente perdida e aniquilada diante da pirataria, fenômeno que, segundo ele, era e ainda é incontrolável.

Todos ganham, menos os mesmos

No final das contas, conforme a minissérie revela detalhadamente e os fatos confirmaram, o Spotify fez um acerto com as grandes gravadoras para resolver a questão da propriedade do uso dos fonogramas, dos royalties. Todo mundo acaba ganhando, menos, mais uma vez, os artistas e produtores das obras.

O tal “novo modelo de negócio”, outro termo citado repetidamente por Daniel, voltou a contemplar os mesmos de sempre, com a honrosa exceção de sempre: os músicos que, desta vez, passaram a perder ainda mais o que antes.

Spoiler

O personagem usado para interpretar o lado frágil da indústria foi a fictícia cantora Bobbi T, vivido pela excelente cantora pop-soul sueca, Janice Kamya Kavander. Na narrativa, ela é uma amiga de adolescência de Daniel (atenção, spoiler daqui pra frente), que acaba se voltando contra ele ao perceber que, apesar de ter milhares de execuções, continua em dificuldades financeiras.

Danie Ek atropela tudo e todos que passam pela sua frente: seu sócio, o principal programador da plataforma, advogados entre outros. O embate final se da mesmo com a cantora, quando ele deixa claro que só errou no momento em que parou para dar atenção à opinião dos outros.

A narrativa é ágil e divertida. A série usa recursos gráficos para que os mais curiosos acompanhem complicadas explicações de programação, além de descrever em detalhes o momento em que a criatividade e a dinheirama das startups se deslocaram pela primeira vez do Vale do Silício, na Califórnia, para outro local do planeta, no caso a Suécia.

Aos aficionados da música, vale ver, mas com ressalvas. E também com a clareza de que, apesar de não ter nenhuma segunda temporada programada, essa história está longe de um desfecho.

Veja o trailer abaixo: