- A República Islâmica do Irã passou por eleições presidenciais na sexta-feira, 18. O chefe do Judiciário do país desde 2019, Ebrahim Raisi, venceu o pleito no primeiro turno, com 61,95% dos votos. O cargo de presidente é o segundo em importância no país, abaixo do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que apoiou o nome de Raisi. A participação da população nas urnas foi de 48,8%, a menor desde a instauração da República Islâmica, em 1979, segundo a imprensa que cobriu a disputa. Em 2017, Hassam Rouhani foi eleito com participação de 73% dos iranianos. Os governos dos EUA e de Israel reagiram em tom bastante crítico à vitória de Raisi. Sua posse ocorrerá em agosto e um dos primeiros desafios do novo presidente é quanto à reativação do acordo nuclear de 2015, que reunia os EUA (na época governados por Obama), França, Rússia, Reino Unido, China e União Europeia. O acordo foi abandonado durante a gestão Trump e uma série de sanções econômicas foi imposta ao Irã por supostos descumprimentos do acordo. Segundo o ministro iraniano Namdar Zaganeh, na imprensa, as sanções já causaram um prejuízo de mais de 100 bilhões de dólares ao país nos últimos três anos. Neste momento, acaba de ocorrer a sexta rodada de negociações para uma repactuação, ainda sem consenso. As conversas começaram em abril deste ano. O novo presidente eleito já disse que não pretende se reunir com Joe Biden, mas disse querer melhorar relações com as monarquias do golfo Pérsico. Isso foi dito em sua primeira conferência de imprensa após eleito. Tais monarquias acusam o Irã de causar instabilidade no Líbano, Síria, Iraque, Bahrein e Iêmen, quando, na verdade, são essas monarquias do golfo, com a ação determinante dos EUA, que sustentam guerras como a do Iêmen.
- Houve eleições também na França, mas regionais, no domingo, 20. Em 13 regiões houve o 1º. turno e o partido Os Republicanos, de direita, foi o líder em sete das 13 regiões. Em outras cinco regiões o Partido Socialista ficou em primeiro. O partido A República em Marcha, de Macron, não ficou em primeiro lugar em nenhuma região. O partido de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional, ficou na liderança em apenas uma região, apesar de ter ido para o segundo turno em várias. A abstenção foi alta, de 66,1%. Entre os eleitores de 18 a 24 anos a abstenção foi de 87%.
- Na Hungria, o governo já vinha sendo criticado por ter adotado emendas à legislação que proíbem o que eles consideram como “promoção da homossexualidade junto a menores”. Como protesto, a prefeitura de Munique tinha a intenção de iluminar com as cores do arco-íris, símbolo da luta LGBT, o estádio onde a seleção alemã enfrentará hoje (23) a seleção húngara pela Eurocopa, mas a UEFA proibiu e gerou o maior rebuliço contra a entidade. A candidata do Partido Verde alemão à chancelaria do país, para substituir Merkel, Annalena Baerbock, fez um chamado à população do país que exibisse bandeiras com as cores do arco-íris no dia do jogo. O ministro das Relações Exteriores da Hungria agradeceu o “bom senso” da UEFA e disse que a iniciativa seria uma “provocação política contra Budapeste”. Os organizadores da marcha LGBT de Munique estão planejando distribuir 11 mil bandeiras para os espectadores do jogo e a prefeitura da cidade também disse que vai decorar vários edifícios com as cores do arco-íris.
- No Peru, a demora do resultado oficial da eleição provoca tensão e já há indícios de que um golpe pode ser armado pelo fujimorismo ao não reconhecer a eleição de Pedro Castillo. A contagem dos votos já saiu das mãos da ONPE – Oficina Nacional de Procesos Electorales – e agora está nas mãos do JNE – Jurado Nacional de Elecciones – que julga os recursos apresentados pelas chapas concorrentes e demais denúncias provenientes das mesas eleitorais e postos de votação. São as chamadas “actas observadas”. Os jurados começam hoje (23) a se reunir em plenário de forma pública e transmitida pelas redes sociais para julgar os recursos. Os jurados estão denunciando assédio e ameaças. A CIDH se pronunciou sobre estas ameaças, sobre a insegurança para o trabalho de jornalistas que cobrem as eleições e sobre o racismo e a discriminação de que têm sido vítimas eleitores indígenas e população mais pobre da área rural. No dia de ontem (22), a candidatura de Keiko também entrou com um pedido judicial que impõe à ONPE a entrega das listas com a relação de pessoas que votaram no segundo turno com informações pessoais e assinatura. Além disso, pode-se dizer que o fujimorismo tenta criar um clima de golpe no país com os quase mil recursos impugnatórios, liminar para apresentação das listas de eleitores, a carta dos militares da reserva que convocam a hierarquia militar pelo não reconhecimento da eleição de Castillo, o assédio e ameaças sobre as autoridades eleitorais, a insubordinação policial na região de Junín, a pressão sobre o presidente Sagasti, via imprensa, e os atos de rua.
- A Assembleia Geral da ONU – AGNU – vota hoje pela 29ª vez uma resolução reprovando o bloqueio imposto pelos EUA a Cuba desde 1962. Por 28 vezes a resolução foi aprovada por ampla maioria. Há uma expectativa sobre como votará o Brasil. Em 27 oportunidades votamos pela resolução, mas em 2019 o governo Bolsonaro, alinhado ao governo Trump, votou contra, junto com EUA e Israel. Apenas três países contrários. Com as mudanças no governo dos EUA, com a eleição de Biden e também mudanças no Itamaraty, com a queda de Araújo, pode ser que o Brasil se abstenha.
- O governo da China anunciou esta semana que já ultrapassou 1 bilhão de doses de vacinas aplicadas contra o coronavírus no país. Isso corresponde a mais de um terço de todas as doses já aplicadas no mundo. Além disso, está exportando vacinas para mais de 80 países, incluindo o Brasil. Para se ter uma ideia da enormidade dos números, os chineses estão vacinando quase 15 milhões de pessoas a cada dez dias (infos do Nexo Jornal). Enquanto isso, em todo o continente africano, menos de 2% da população já receberam a vacina, cerca de 40 milhões de pessoas. Esta semana, o secretário geral da OMS, Tedros Adhanom, disse que estão em curso negociações para um consórcio de empresas e instituições para estabelecer um centro de transferência de tecnologia na África do Sul. Já a América Latina concentra o maior número de vítimas do coronavírus do mundo. A região possui 8% da população mundial e um quarto de todas as mortes por Covid-19. O Brasil desponta com meio milhão de mortos. Mesmo países que no começo da pandemia eram exemplo de gestão da crise para o mundo, como Argentina, Paraguai e Uruguai, hoje estão ao lado de Brasil, Peru e Colômbia em termos de perdas humanas. (com infos do Nexo Jornal, BBC e OMS)
- Uma notícia da semana passada, mas que não havia comentado ainda nas Notas em detalhe, foi a cúpula entre Biden e Putin em Genebra. Foram quatro horas de encontro a portas fechadas. Ambos os governantes qualificaram o encontro como “positivo”. Apesar disso, não houve conferência de imprensa conjunta. Fizeram suas apreciações em separado. Os pontos de maior discrepância do encontro parecem ter sido o momento em que Biden pautou o que os norte-americanos consideram como falta de liberdade política por parte dos opositores na Rússia, em especial com relação a Alexei Navalny, e o tema da Ucrânia, em que Putin não aceita fazer concessões e desocupar militarmente as fronteiras com o país. Em outros temas sensíveis, como armas nucleares e ciberataques, parece que foi possível ao menos ter algum diálogo, com delineamento de novos acordos e formação de grupos de trabalho em conjunto sobre os temas. Após o encontro, ambos governos retornaram com seus correspondentes embaixadores para os postos diplomáticos nas capitais Moscou e Washington. Biden foi bastante criticado por republicanos e parte da imprensa dos EUA por não ter “falado mais grosso” com Putin. Já o presidente russo fez apontamentos com tom de ironia para a imprensa russa de que “Biden não é lento ou senil” como a imprensa apregoa.
- Nos EUA, está em vias de ser lançado, na próxima semana, o livro “Nightmare scenario: Inside the Trump administration´s response to the pandemic that changed history” ou “Cenário de pesadelo: por dentro da resposta do governo Trump à pandemia que mudou a história”, fruto de 180 entrevistas realizadas por dois jornalistas do Washington Post, Yasmeen Abutaleb e Damian Paletta.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.