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Músico foi preso por desacatado à autoridade ao criticar a reintegração de posse da Ocupação Eliana Silva em Belo Horizonte
Por Felipe Rousselet
O rapper Emicida foi detido pela Polícia Militar de Minas Gerais na noite do último domingo, 13, depois de realizar show no bairro de Barreiros, em Belo Horizonte. Segundo a assessoria de imprensa da PM mineira, o rapper foi acusado de desacato à autoridade por ter declarado apoio a ocupação do terreno Eliana Silva, localizado no mesma região do show, e por ter supostamente incentivado o público a fazer gestos obscenos contra os policiais que faziam a segurança do evento. O músico não assinou o boletim de ocorrência por considerar que a frase que o imputaram é diferente daquela que, de fato, teria dito.
Após ser liberado, depois de passar mais de duas horas detido, Emicida explicou a frase que teria motivado sua prisão, por meio de nota oficial publicada em seu site. Antes de executar a música Dedo na Ferida, o rapper pronunciou-se sobre a desocupação do terreno em Belo Horizonte.
"Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva, certo? Levanta o seu dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes, levanta o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com 'nois' nessa aqui, ó. Mandando todos eles se f..., certo, BH? A rua é 'nois’”, disse o músico.
Policiais militares que faziam a segurança do evento consideraram o comentário ofensivo. Eles aguardaram que Emicida terminasse seu show para dar voz de prisão ao músico, que foi levado ao 39º DP de Belo Horizonte. Como é possível verificar na frase dita pelo rapper, em nenhum momento ele dirige-se diretamente aos policiais presentes no evento e nem incentiva o público a fazer gestos obscenos contra eles. Porém, de acordo com o B.O, Emicida teria dito a seguinte frase:
"Eu apoio a invasão do terreno Eliana Silva, região do Barreiro, tem que invadir mesmo, levantem o dedo do meio para cima, direcione aos policiais, pois todos esses têm que se foder."
Para não ficar o dito pelo não dito, o rapper postou em seu site um vídeo com a sua declaração no palco e uma foto do B.O, com a frase que os policiais afirmaram que ele teria dito. Apesar da PM mineira alegar que a declaração do rapper poderia estimular o público a cometer atos de vandalismo, a apresentação ocorreu normalmente, sem nenhum tumulto registrado.
Procurado pela reportagem da revista Fórum, o rapper informou que não irá mais manifestar-se sobre o assunto.
Ocupação Eliana Silva
A ocupação Eliana Silva teve início em 21 de abril. O terreno tem 35 mil metros quadrados, localizado no bairro Santa Rita, região de Barreiro em Belo Horizonte. Ao todo, 350 famílias estavam morando no local, quando, na última sexta-feira, 11, cerca de 400 policiais cumpriram a decisão da juíza Luzia Divina de Paula Peixoto, da 6ª Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal, que determinou a reintegração de posse do terreno. De acordo com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o terreno não tem registro, matrícula ou está averbado, e estava abandonado.
De acordo com o Frei Gilvander Luís Moreira, desde as primeiras horas de sexta-feira, 11, pessoas que saíram da ocupação não puderam mais voltar, e aqueles que foram até a ocupação em solidariedade às famílias também foram impedidos de entrar. Segundo o Frei, a comunidade resistiu pacificamente, e, mesmo assim, foi utilizada violência policial e intimidação na reintegração de posse.
“Vi, após duas horas de tentativa de negociação, a tropa de choque atropelar algumas pessoas: mães com crianças; o Paulo, que levou uma cacetada na cabeça; a Dirlene Marques (economista da UFMG), que foi agredida por policiais e ficou com hematomas. Motivo: após ser impedida de entrar e esperar umas seis horas, resolveu driblar a polícia e tentar entrar na Ocupação simplesmente para ser solidária.”
O relato completo do Frei Gilvander Luís Moreira sobre a reintegração de posse da ocupação Eliana Silva pode ser lido no seu site.