O número de lares chefiados por mulheres no Brasil atingiu um novo patamar em 2023: 40,2 milhões de domicílios tinham uma mulher como responsável, superando o número de lares liderados por homens, que é de que é de 37,5 milhões. No entanto, essa liderança feminina não significa maior segurança financeira: 59,4% dos lares sob comando feminino vivem em situação de insegurança alimentar.
Esses dados foram revelados pelo Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM) 2025, que também aponta que as mulheres representam 57,7% da população com deficiência, reflexo da maior expectativa de vida feminina. Apesar disso, esse grupo enfrenta dificuldades no acesso ao mercado de trabalho e a serviços básicos, evidenciando desafios estruturais persistentes.
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Lançado pelo Ministério das Mulheres nesta terça-feira (25), o RASEAM 2025 apresenta um panorama abrangente sobre a condição das mulheres no Brasil, analisando temas como trabalho, educação, saúde, violência e participação política.
Durante a cerimônia de lançamento, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, ressaltou que o relatório é uma ferramenta essencial para orientar políticas públicas voltadas à equidade de gênero.
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"Ao reunir esses indicadores em um só documento, conseguimos enxergar os desafios com mais clareza e trabalhar para garantir os direitos das mulheres", afirmou a ministra.
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Acesse aqui o relatório completo.
Desigualdade salarial e obstáculos no mercado de trabalho
Apesar de avanços na legislação, a desigualdade salarial ainda é uma realidade no Brasil. As mulheres recebem, em média, 79,3% do salário dos homens, mesmo em empresas de grande porte. No Sul do país, essa diferença chega a 25,9%.
A Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres no Brasil é um avanço legislativo que busca corrigir uma desigualdade histórica no mercado de trabalho. Sancionada pelo presidente Lula em 3 de julho de 2023, a Lei nº 14.611 estabelece medidas para garantir a remuneração igualitária entre trabalhadores de diferentes gêneros que exerçam a mesma função ou atividades de igual valor.
A legislação reforça o que já estava previsto na Constituição Federal e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que asseguram a proibição da discriminação salarial entre homens e mulheres. No entanto, a novidade da lei de 2023 é a implementação de mecanismos de fiscalização e transparência, que tornam mais efetiva a aplicação dessa regra no mercado.
Além disso, apenas 35,3% das empresas adotam políticas para incentivar a contratação de mulheres, e esse número é ainda menor para mulheres negras e com deficiência.
As mulheres com deficiência enfrentam desafios ainda maiores para ingressar no mercado de trabalho, sendo direcionadas principalmente para empregos informais e no trabalho doméstico. Enquanto a média salarial das mulheres no Brasil é de R$ 2.380, as mulheres com deficiência ganham apenas R$ 1.598.
Educação e evasão escolar feminina
A taxa de alfabetização das mulheres no Brasil é de 94,6%, mas cai drasticamente entre indígenas (84,3%) e quilombolas (82,9%). A evasão escolar segue sendo um problema, especialmente entre jovens negras, que muitas vezes abandonam os estudos por gravidez precoce, necessidade de trabalhar ou responsabilidades domésticas.
Outro desafio identificado pelo relatório é o baixo acesso das crianças de 0 a 3 anos à creche, com uma taxa de 37,5%, abaixo da meta do Plano Nacional de Educação. A falta de vagas impacta diretamente as mães, que enfrentam dificuldades para equilibrar a maternidade e a vida profissional.
Feminicídios em queda, mas números seguem alarmantes
Entre 2015 e 2024, mais de 590 mil estupros de mulheres foram registrados no Brasil, o que equivale a uma média de 196 casos por dia. Além disso, 76,6% dos agressores são homens, e 71,6% das agressões ocorrem dentro de casa, evidenciando que o ambiente doméstico continua sendo um espaço de vulnerabilidade para as mulheres.
Por outro lado, um dado positivo: o número de feminicídios caiu 5,07% em 2024, um indicativo de que as políticas de combate à violência letal contra mulheres começam a surtir efeito.
O relatório também revela que 60,4% das vítimas de violência doméstica são mulheres negras, evidenciando que a violência de gênero se sobrepõe a desigualdades raciais.
Mulheres na política: avanço tímido na representatividade
O RASEAM 2025 aponta um crescimento na presença feminina no Executivo. Nas eleições de 2024, 30,6% das candidatas a prefeita foram eleitas, um aumento em relação aos pleitos anteriores.
No entanto, a participação feminina na política ainda está longe do ideal: as mulheres representaram 35,4% das candidaturas a vereadora, mas apenas 18,2% foram eleitas.
Desafios persistem, mas avanços são notáveis
O RASEAM 2025 deixa claro que o Brasil tem avançado em diversas frentes, como redução da mortalidade materna, aumento da presença feminina na política e fortalecimento do esporte feminino.
No entanto, a desigualdade salarial, a violência de gênero e as dificuldades no acesso à educação e ao mercado de trabalho ainda representam desafios significativos para as mulheres no país.
O relatório reforça a necessidade de políticas públicas estruturais que promovam não apenas igualdade formal, mas mudanças reais e concretas na vida das mulheres brasileiras.
Como foi produzido o RASEAM 2025
O RASEAM 2025 foi elaborado pelo Ministério das Mulheres, em parceria com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (OBIG), e compila dados de diversas instituições para oferecer um panorama detalhado sobre a situação das mulheres no Brasil.
Nesta edição, o relatório ampliou o número de indicadores de 270 para 328, permitindo uma análise mais abrangente das desigualdades de gênero no país.
A produção do documento envolveu a coleta e organização de informações de múltiplos órgãos governamentais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ministério da Saúde, Ministério da Educação (MEC), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), entre outros.
A coordenação técnica do relatório ficou a cargo da equipe do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, que, ao longo de 2024, trabalhou na sistematização dos dados, em diálogo com especialistas e instituições responsáveis pela produção das estatísticas oficiais.
A ampliação dos indicadores foi fruto de discussões promovidas pelo Grupo de Trabalho de Monitoramento de Indicadores do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, permitindo um olhar mais aprofundado sobre questões estruturais que afetam as mulheres no país.
O RASEAM 2025 está estruturado em sete grandes eixos temáticos, abordando aspectos demográficos, econômicos, educacionais, de saúde, violência de gênero, participação política e presença feminina no esporte.
Cada capítulo apresenta um texto descritivo dos principais indicadores, seguido por uma síntese dos dados mais relevantes e tabelas com informações detalhadas sobre as mulheres brasileiras, segmentadas por regiões e recortes populacionais, como cor ou raça, idade e nível socioeconômico.
Entre as inovações desta edição, o relatório inclui pela primeira vez dados sobre povos e comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas, além de novos indicadores sobre trabalho doméstico análogo à escravidão, desigualdade salarial e acesso à proteção menstrual.
Ao consolidar dados de diferentes fontes em um único documento, o RASEAM 2025 se torna uma ferramenta essencial para pesquisadores, gestores públicos e organizações da sociedade civil que atuam na promoção da igualdade de gênero.