DIREITOS DAS MULHERES

Feminismo negro: conheça livros e autoras para entender o movimento

As questões de raça e gênero se complementam na luta contra o patriarcado

O movimento que mescla questões raciais e de gênero busca extinguir opressões e privilégios sociais elitistas.Créditos: /Freepik
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O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que aconteceu no último domingo (5), explicitou a situação crítica que diversas mulheres enfrentam no dia a dia: a invisibilidade das tarefas domésticas e a dupla jornada, devido à desvalorização dessas ações. 

As mulheres que mais sofrem com essa carga excessiva de responsabilidades são as que pertencem às classes sociais mais baixas e que vivem em periferias, justamente pela falta de apoio social e acesso financeiro. 

Dentro do movimento feminista, há diversas vertentes que defendem e discutem linhas e situações sociais distintas. Entre elas, está o feminismo negro, que relaciona a força do sistema patriarcal ao racismo enraizado socialmente.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a quantidade de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas no Brasil é mais da metade da população: 56%, sendo 23,4% mulheres.

Além disso, o estudo "Trabalhadoras invisíveis: o trabalho doméstico não remunerado de mulheres no Brasil", de Gabriela Pires Van Beem, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, aborda a questão da desigualdade racial estar atrelada a esta realidade.

"[...] O perfil das pessoas responsáveis pelos afazeres domésticos não remunerados no Brasil é de mulheres, em sua maioria negras, de baixa escolaridade, e que dedicam, em média 20 horas semanais para a realização do trabalho doméstico, cerca do dobro de horas se comparado com os homens que também realizam esse tipo de trabalho não remunerado. Há também a constatação de que esse perfil das trabalhadoras provém do período escravocrata, com a chegada de mulheres negras escravizadas ao Brasil, que dedicaram-se ao trabalho de serviços na casa de seus senhores, e que hoje pode ser compreendido como trabalho doméstico", demonstra a pesquisa. 

Com isso, é possível perceber a importância da consciência racial, social e de gênero para problematizar situações que ultrapassam uma única camada social, estando presente em todo o contexto em que vivemos. Portanto, o feminismo negro busca estabelecer uma sociedade onde não haja opressões ou privilégios advindos de uma estrutura elitista, branca e heteronormativa.

Conheça livros para compreender o feminismo negro e sua relevância social

Independentemente da raça que a pessoa se identifica, é importante que ela saiba identificar sua posição social, a qual também é afetada pela sua ancestralidade e características físicas. 

Por isso, o feminismo negro deve atingir a sociedade com amplitude, a fim de pautar os temas abordados e de mobilizar os indivíduos sobre as vivências que eles mesmos estão inseridos

Veja algumas obras de autoras que fazem parte do movimento e explicam a importância dessa discussão

  1. "Quem tem medo do feminismo negro?", escrito pela filósofa Djamila Ribeiro e publicado em 2018, aborda a ausência de oportunidades para com as pessoas e, sobretudo mulheres, pretas, dentro dos espaços sociais, principalmente aqueles mais elitizados, como é o caso dos espaços acadêmicos.
  2. Em "Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento", de Patrícia Hill Collins, são discutidas as situações vivenciadas por mulheres pretas, desde opressões até resistências. A autora ainda utiliza de teorias da filósofa socialista Angela Davis, uma das maiores referências do movimento. 
  3. O livro "Por um feminismo afro-latino-americano", de Lélia Gonzalez, explora como a sociedade percebe não apenas mulheres negras, como também indígenas e a hiperssexualização atribuídas a elas, considerando o contexto colonialista. Além disso, a obra faz ligação sobre como o sistema capitalista é racista e condiciona essas mulheres a situações de vulnerabilidade social.