FEITO NO BRASIL

Oscar 2025: O debate em torno do vestido de Fernanda Torres

A escolha entre grifes internacionais e estilistas brasileiros para o tapete vermelho reacende a discussão sobre identidade cultural, soft power e os desafios práticos da moda em eventos globais

Oscar 2025: O debate em torno do vestido de Fernanda Torres.A escolha entre grifes internacionais e estilistas brasileiros para o tapete vermelho reacende a discussão sobre identidade cultural, soft power e os desafios práticos da moda em eventos globaisCréditos: Fotomontagem (Wikipedia e Divulgação)
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A participação de Fernanda Torres na cerimônia do Oscar no dia 2 de março abriu um debate intenso sobre a nacionalidade da marca da roupa que ela deve usar.

A atriz, que será vestida pelo stylist Antonio Frajado, tornou-se o centro da discussão após a revelação de que o vestido para a premiação pode ser de uma grife internacional, apesar das sugestões para que ela escolha um estilista brasileiro.

Frajado, responsável pelos figurinos da temporada de divulgação do filme "Ainda estou aqui", defendeu sua posição ao afirmar que, embora o uso de moda nacional seja uma sugestão válida, não deve ser uma exigência. 

Em entrevista ao jornal O Globo, ele explicou que questões logísticas e de estilo são fatores determinantes, já que peças de marcas internacionais são mais acessíveis em Los Angeles, e o estilo minimalista da atriz nem sempre se alinha às criações oferecidas. 

“São muitas bandeiras para uma só pessoa carregar. Fernanda já está representando o Brasil”, declarou.

Opções feitas no Brasil

A decisão de Frajado desagradou muitos estilistas brasileiros, que veem a escolha como uma oportunidade de promover a moda nacional. 

Opções não faltam. Como mostra um exercício criativo proposto pela revista Marie Claire, no qual cinco estilistas brasileiros renomados desenharam croquis exclusivos para imaginar o look ideal de Fernanda Torres no Oscar 2025. 

O estilista Marco Normando, da marca Normando, criou um vestido de cetim duchese preto com capa lateral e traseira, bordado com 27 estrelas que remetem às constelações da bandeira brasileira. Para ele, usar moda nacional simboliza valorizar a identidade cultural e o cinema do país. 

Já Marina Bitu, conhecida por seu trabalho artesanal, desenhou uma peça em tom vinho amarronzado, com tecidos aplicados manualmente, representando as camadas da história brasileira.

Patricia Bonaldi, da PatBo, apresentou duas opções: um vestido preto clássico com pedrarias que realçam a silhueta e um modelo branco com capa fluida e correntes bordadas à mão. 

Luiz Claudio Silva, da Apartamento 03, apostou em um vestido de ombro único, com franjas douradas sobre tule preto, moldado diretamente no corpo da atriz. 

Por fim, Ronaldo Fraga, inspirado em sua coleção “Quem Matou Zuzu Angel”, propôs um vestido de renda Renascença do Cariri Paraibano, com desenhos que evocam sombras de urubus, em uma metáfora política sobre os desafios enfrentados pelo cinema brasileiro.

O desafio reforçou a diversidade da moda nacional e deixou evidente a criatividade dos estilistas e sua capacidade de dialogar com a cultura e a história do Brasil, enquanto Fernanda Torres se prepara para representar o país em um dos palcos mais prestigiados do mundo.

Brasil no tapete vermelho

O debate sobre a roupa de Fernanda Torres reflete um dilema recorrente em eventos de grande visibilidade: o desejo de promover a identidade cultural versus as limitações práticas e de estilo. 

A moda vai muito além da estética e do consumo: ela é uma forma poderosa de comunicação cultural e uma ferramenta estratégica de soft power, conceito definido pelo cientista político Joseph Nye como a capacidade de influenciar outros países sem o uso da força, mas sim por meio da cultura, dos valores e das políticas. 

No contexto global, a moda atua como uma linguagem universal capaz de moldar percepções, construir identidades nacionais e fortalecer a imagem de um país no cenário internacional.

Moda, expressão cultural e identidade nacional

A moda reflete a história, as tradições e a criatividade de uma nação. Ao promover estilistas, tecidos típicos e técnicas artesanais, um país projeta sua identidade cultural para o mundo. 

Por exemplo, a França consolidou sua imagem de sofisticação e elegância através da alta-costura, enquanto a Itália é reconhecida pela qualidade de seu design e artesanato. 

Da mesma forma, o Japão conquistou prestígio global com sua fusão entre minimalismo contemporâneo e elementos tradicionais, como o kimono.

Moda e Cultura Pop

Marcas e designers icônicos têm o poder de moldar tendências culturais, impactando o comportamento e os valores de milhões de pessoas. A difusão da moda através de filmes, séries, música e redes sociais amplifica a influência cultural de um país. 

O "K-fashion" sul-coreano, por exemplo, ganhou destaque mundial graças ao sucesso do K-pop e de produções audiovisuais, contribuindo para a ascensão global da Coreia do Sul como um polo cultural.

Moda e diplomacia cultural

A moda também é utilizada como uma forma sutil de diplomacia cultural. Líderes políticos e celebridades frequentemente escolhem roupas de designers nacionais em eventos internacionais para reforçar o orgulho nacional e divulgar o talento local. 

Primeiras-damas, como Michelle Obama e Brigitte Macron, já foram elogiadas por apoiar estilistas de seus países, ajudando a consolidar a presença da moda nacional em um contexto global.

Potência brasileira

O Brasil tem um enorme potencial para usar a moda como soft power. Designers como Alexandre Herchcovitch, Osklen e Lino Villaventura já projetaram a criatividade brasileira internacionalmente. 

Elementos culturais, como o uso de cores vibrantes, tecidos naturais e referências ao artesanato indígena, são marcas registradas que poderiam ser mais exploradas para construir uma imagem positiva e autêntica do país.

Independentemente da escolha de Fernanda Torres, o debate evidencia o papel estratégico da moda brasileira no cenário internacional. 

Seja no Oscar ou em outras plataformas globais, apostar na criatividade nacional fortalece a economia criativa, projeta a identidade cultural do país e reforça sua presença no mundo.

O tapete vermelho é mais do que uma passarela: é uma vitrine para contar histórias — e a moda brasileira tem muito a dizer.

O sucesso de "Ainda estou aqui"

O filme brasileiro "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, recebeu três indicações ao Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres. Esta é a primeira vez que uma produção brasileira concorre na categoria principal de Melhor Filme. 

A cerimônia de premiação ocorrerá em 2 de março de 2025, em Los Angeles, com apresentação de Conan O'Brien.

"Ainda Estou Aqui" é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que narra a história de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. O filme destaca a luta de Eunice após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello. 

A indicação de Fernanda Torres ao prêmio de Melhor Atriz marca a segunda vez que uma brasileira é reconhecida nessa categoria, sendo a primeira Fernanda Montenegro por "Central do Brasil" em 1999.

Além das indicações ao Oscar, "Ainda Estou Aqui" foi premiado com o troféu de Melhor Roteiro no Festival de Veneza de 2024. 

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