A escolha de vestuário de Melania Trump durante a posse de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20) bombou na mídia e nas redes sociais.
A primeira-dama optou por um conjunto sob medida assinado pelo designer nova-iorquino Adam Lippes. O look de inspiração militar incluía um casaco trespassado de lã e seda azul-marinho, sob o qual ela vestia uma saia lápis feita do mesmo tecido e uma blusa de crepe de seda marfim com decote estruturado.
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Todas as peças foram confeccionadas à mão pela equipe de Lippes em Nova York, destacando a atenção aos detalhes e o trabalho artesanal.
Em comunicado oficial, Lippes comentou que a tradição da posse presidencial “simboliza a beleza da democracia dos EUA”. Ele celebrou a honra de vestir nossa primeira-dama.
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"O traje da Sra. Trump foi criado por alguns dos melhores artesãos dos Estados Unidos, e tenho muito orgulho de mostrar esse trabalho ao mundo."
Chapéu boater e o movimento sufragista
O visual de Melania foi completado com um chapéu estilo boater, criado pelo chapeleiro nova-iorquino Eric Javits, que registrou o processo de confecção da peça pelas redes sociais e celebrou a honra em executar a tarefa.
"Ela possui uma graça interior, beleza e presença que transformaram o que era, na verdade, um estilo de chapéu muito simples e contido em um momento de “uau”. O chapéu da Primeira-Dama foi feito com amor", escreveu.
A peça cobria os olhos da primeira-dama e suscitou muitas piadas nas redes sobre o ponto de vista dela durante a cerimônia.
Contudo, o uso do boater, um ícone do movimento sufragista, gerou reflexões sobre as contradições entre a estética de Melania e as políticas defendidas pelo governo de seu marido.
Tradicionalmente associado a atividades náuticas e eventos casuais, o boater ganhou destaque no final do século 19 e início do século 20 como parte do guarda-roupa feminino durante a luta pelo direito ao voto nos EUA.
Para as sufragistas, o chapéu com copa reta e aba simétrica, originalmente masculino, tornou-se um símbolo de emancipação e modernidade, desafiando as normas de gênero da época. Incorporado ao movimento feminista, o boater representava a entrada das mulheres em espaços de poder e debate público, alinhando elegância a profissionalismo e autoridade.
Ao ressuscitar o estilo boater em um contexto de alta visibilidade, Melania evocou um acessório historicamente ligado à força feminina. No entanto, sua escolha contrasta com as críticas recorrentes às políticas de Trump em relação às mulheres.
"Desempoderamento" feminino
Durante o primeiro mandato de Trump, medidas como a redução de direitos reprodutivos e o enfraquecimento de proteções trabalhistas para mulheres foram amplamente condenadas.
Durante seu discurso de posse nesta segunda Trump abordou questões relacionadas aos direitos das mulheres de forma indireta ao anunciar a intenção de eliminar os mandatos de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) em nível federal e afirmar que reconheceria apenas dois gêneros: masculino e feminino.
Essa declaração sugere uma abordagem mais conservadora em relação às políticas de gênero, o que pode impactar diretamente os direitos das mulheres e das comunidades LGBTQ+. Além disso, Trump criticou as políticas da administração anterior e prometeu reverter iniciativas progressistas, enfatizando uma visão tradicionalista para o país.
O contraste entre a simbologia do chapéu e as ações e discursos de seu marido destaca uma desconexão entre a estética empoderadora de Melania e o legado e perspectivas da administração Trump.
O beijo barrado pelo chapéu
O foco no chapéu de Melania foi além. Em um momento específico durante a cerimônia, a peça impediu um beijo entre Melania e Trump. A cena viralizou nas redes sociais e turbinou memes e discussões sobre a interação do casal.
O vento e o chapéu
Outro momento que jogou luz sobre o chapéu de Melania foi durante uma fala de Trump. Conhecido por improvisar comentários durante eventos públicos, fez questão de mencionar o chapéu de Melania em seu discurso de posse.
“O vento quase levou aquele chapéu embora, mas ele resistiu — assim como nós resistimos a todas as adversidades”, declarou o presidente, arrancando risos e aplausos da plateia.
A menção ao vento e ao chapéu rapidamente levou os internautas a traçarem paralelos com o clássico filme "E o Vento Levou", dirigido por Victor Fleming em 1939. O longa, ambientado durante a Guerra Civil nos EUA, explora temas como sobrevivência, força e reinvenção diante da adversidade.
Carmen Sandiego e "Spy vs. Spy"
A escolha do boater também gerou comparações com personagens fictícios como Carmen Sandiego, a icônica personagem dos jogos e desenhos animados, é conhecida por seu visual marcante, composto por um chapéu de aba larga e um sobretudo vermelho.
Ela é uma figura de mistério, sempre fugindo dos holofotes enquanto protagoniza elaboradas aventuras ao redor do mundo. Essa associação visual, feita com o look de Melania e força a ideia de enigma e distanciamento.
O chapéu de aba larga contribuiu para a interpretação de que ela estava simbolicamente mantendo uma distância emocional do evento ou do próprio público.
Já a associação do chapéu boater de Melania com "Spy vs. Spy", famosa série de quadrinhos criada por Antonio Prohías, surgiu nas redes sociais e na mídia como uma referência visual ao estilo característico dos personagens.
No clássico dos quadrinhos, os espiões, um de preto e outro de branco, usam chapéus com abas largas e pontudas que evocam um ar misterioso e conspiratório.
A semelhança estética com o chapéu de Melania, especialmente combinado com sua expressão enigmática e postura reservada, levou internautas a traçarem esse paralelo bem-humorado.
O visual de Melania na posse, marcado por um chapéu que cobria parcialmente seu rosto, reforçou a ideia de distanciamento e aloofness - termo que descreve uma atitude ou comportamento de distanciamento emocional, indiferença ou desapego - características também associadas aos espiões de "Spy vs. Spy".
A comparação brinca com a ideia de que sua escolha de vestuário projetava uma imagem calculada e reservada, sugerindo uma narrativa de mistério e sofisticação que ressoou de maneira lúdica com a estética icônica dos personagens.
Legado de primeira-dama
Durante o primeiro mandato de Trump como presidente dos Estados Unidos (2017–2021), Melania Trump apresentou uma abordagem discreta, mas cuidadosamente calculada, em seu papel de primeira-dama. Sua atuação foi marcada pela escolha de causas específicas, como o bem-estar infantil, e por um estilo pessoal que frequentemente roubava os holofotes.
Ela lançou o programa "Be Best", uma campanha focada em combater o bullying online, promover o bem-estar infantil e combater o uso de opioides. Apesar da boa intenção, a iniciativa enfrentou críticas por falta de clareza nos objetivos e execução limitada.
Sua presença em eventos públicos foi esporádica e frequentemente caracterizada por um comportamento reservado. Ela se manteve distante de controvérsias políticas, raramente comentando publicamente sobre questões centrais da administração Trump. Esse distanciamento alimentou percepções de indiferença em relação às funções tradicionais de uma primeira-dama.
O estilo de Melania Trump foi um dos aspectos mais comentados de sua atuação como primeira-dama. Ela consolidou uma imagem de sofisticação e mistério, optando por roupas de alta-costura e designers renomados.
Suas escolhas incluíam peças estruturadas, de inspiração militar, e paletas de cores neutras, como azul-marinho, cinza e branco, refletindo uma estética que combinava elegância com autoridade.
Casaco "Eu Realmente Não Me Importo"
Em 21 de junho de 2018, Melania visitou um centro de detenção de crianças migrantes no Texas. Ao embarcar no avião em Washington, D.C., ela foi fotografada vestindo uma jaqueta verde-oliva da marca Zara, com a frase "I really don't care, do u?" ("Eu realmente não me importo, e você?") estampada nas costas. A escolha gerou ampla controvérsia e especulação sobre o significado da mensagem.
Inicialmente, a porta-voz de Melania, Stephanie Grisham, afirmou que "é apenas uma jaqueta" e que "não havia mensagem oculta". No entanto, em uma entrevista posterior, Melania esclareceu que a mensagem era direcionada aos críticos e à mídia que a censuravam, indicando que não permitiria que isso a impedisse de fazer o que considerava correto.
O presidente Donald Trump também comentou o episódio, afirmando que a inscrição na jaqueta se referia à "mídia fake news" e que Melania havia aprendido o quão desonestos eles eram, não se importando mais com isso.
A jaqueta foi usada por Melania ao embarcar e desembarcar do avião, mas não durante sua visita ao centro de detenção. Ainda assim, a escolha do vestuário ofuscou a intenção da visita e gerou debates sobre a sensibilidade da mensagem no contexto da política de separação de famílias migrantes vigente na época.
Primeira-dama de novo
Ao retornar à Casa Branca como primeira-dama, Melania expressou suas expectativas para o segundo mandato de seu marido. Em entrevista ao canal de extrema direita Fox News, ela afirmou que retorna ao cargo com mais experiência, mantendo ideias e objetivos próprios.
Para os próximos quatro anos, ela pretende adotar uma postura mais ativa, expandindo suas iniciativas, incluindo a revitalização de sua campanha "Be Best" contra o cyberbullying. Além disso, está em produção um documentário que acompanhará seus projetos na Casa Branca, demonstrando seu compromisso em destacar suas contribuições.
Em relação à sua residência, Melania planeja dividir seu tempo entre Washington, D.C., Nova York e Palm Beach, equilibrando suas responsabilidades como mãe, esposa e primeira-dama. Embora sua principal residência ainda não esteja definida, há indicações de que ela possa preferir passar mais tempo em suas propriedades em Nova York e Mar-a-Lago.
Adicionalmente, Melania continua a capitalizar a marca Trump, lançando produtos como livros, joias e até uma criptomoeda própria, a memecoin $MELANIA, demonstrando seu interesse em empreendimentos pessoais durante o segundo mandato.
