Em meio ao crescente pressão do lobby da indústria das armas para uma guerra total na Ucrânia, a Globo enviou ao país o apresentador Luciano Huck para entrevistar o presidente Volodymyr Zelensky.
O próprio apresentador reportou parte da entrevista em reportagem que ganhou destaque na capa do site do jornal O Globo nesta terça-feira (27).
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"Fui à Ucrânia para ouvi-lo e ver de perto o que está acontecendo na terra de 3 dos meus 4 avós, onde estão minhas raízes familiares", escreve.
Huck é neto de Mauricio Grostein, judeu proveniente da cidade de Ekaterinoslav, na União Soviética, local hoje conhecido como Dnipro, na Ucrânia.
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Em tuite logo no início da guerra, em fevereiro de 2022, o apresentador falou de suas origens ucranianas na rede X, dizendo que "pra mim, é inaceitável minimizar as atrocidades nazistas".
Na entrevista com o humorista que foi alçado à presidência da Ucrânia com forte apoio de partidos nazistas, o apresentador da Globo indaga Zelensky sobre a posição de Lula, que tem se mantido neutro e buscado uma saída pacífica para a guerra financiada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o lobby da indústria estadunidense contra a Rússia.
"O Brasil se nega a tomar partido abertamente na guerra, alegando neutralidade. O presidente Lula disse recentemente que “não há razão para procurar culpado na guerra”. O que o senhor acha disso?", indagou Huck, levantando a bola para o presidente ucraniano cortar.
"Isso é apenas retórica política. Não é uma fala honesta. Não é honesta nem conosco nem com o povo brasileiro. Porque todo mundo sabe quem iniciou essa guerra. A equipe dele trouxe uma resolução para nós, antes do do 'encontro pela paz' que organizamos, mas o Brasil não quis vir, o presidente Lula não quis vir", disparou Zelensky em ataque ao presidente brasileiro, que não se alinha ao lobby armamentista.
Em seguida, Zelensky criticou a proposta da China para colocar um fim à guerra, que teve o apoio da diplomacia brasileira.
"Eu me reuni com o time dele [Lula] algumas vezes, mas até agora eles não se uniram a nós na busca de uma solução. Por outro lado, eles se somaram ao plano chinês. O primeiro-ministro Modi, da Índia, esteve aqui há dois dias e me perguntou: qual seu pensamento sobre o plano chinês? E eu disse que não é um plano. É apenas uma declaração política, só para dizerem que não estão alheios à guerra —mas é apenas algo no papel", atacou Zelensky.
Huck ainda pediu para o presidente ucraniano mandar uma "mensagem para Lula e para o meu país", abrindo espaço para aumentar a pressão para que o Brasil se alinhe à Otan na guerra.
"Tive uma reunião com o presidente Lula e vi que ele me entendeu. Porque tivemos um diálogo muito bom, realmente bom. Estou agradecido por isso, mas ele vive as narrativas da União Soviética. É uma pena. Ele pensa na Rússia como se hoje ainda existisse a União Soviética. A China é um país democrático? Não. E o que dizer sobre o Irã? É um país democrático? Não. E o que dizer da Coreia do Norte? Eles não são países democráticos. Então, o que o Brasil, um grande país democrático, faz nessa companhia? Eu não consigo entender esse círculo de países. É normal quando você tem relações econômicas, mas estamos falando sobre uma guerra, não é sobre relações econômicas. É sobre geopolítica, é sobre valores, é sobre pessoas. É sobre democracia, propósito e liberdade. O que um país democrático e livre como o Brasil está fazendo junto com países que não respeitam estes valores? Quem vai ganhar essa queda de braço? O Brasil vai engolir esses quatro aliados ou esses quatro aliados vão engolir o Brasil?", disparou o ucraniano.
Lobby das armas
A entrevista aconteceu no mesmo dia em que a Rússia retaliou o ataque ucraniano à região russa de Kursk, em uma incursão anunciada por Zelensky com o apoio de países vinculados à Otan.
O ataque russo, no entanto, foi usado pelo lobby da guerra para pressionar a Otan a fornecer mísseis de maior alcance à Ucrânia para serem disparados contra território russo.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um think tank baseado em Washington, faz lobby pelo relaxamento das restrições impostas a Zelenski pelo Ocidente.
Dentre os financiadores do ISW estão fabricantes de armas como General Dynamics, Raytheon e DynCorp. As três empresas, que fazem parte do truste de armamentos, explodiram em lucros com a guerra na Ucrânia e o genocídio patrocinado pelo governo sionista de Israel em Gaza.
Segundo o ISW, a política dos Estados Unidos impede a Ucrânia de atacar 84% do santuário de tropas russas, onde ficam 230 das 250 bases militares e paramilitares [de Moscou].
De acordo com o ISW, nenhuma grande base aérea russa está ao alcance das armas até agora fornecidas pelos EUA. A posição foi endossado pelo próprio Zelensky nas redes sociais.
"Cada um destes ataques lembra-nos repetidamente da necessidade crítica de dotar as nossas Forças de Defesa de armas de longo alcance suficientes para destruir os terroristas precisamente nos locais a partir dos quais lançam os seus ataques", escreveu diante da ofensiva para uma guerra sem fim na região.
Senhores da Guerra
Com a guerra na Ucrânia,as cinco principais empresas de armas dos EUA superaram os índices de Wall Street. As ações da Lockheed Martin, Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics valorizaram 12,78% após o início da guerra entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.
Em 2022, com a Guerra na Ucrânia, a indústria bélica mundial voltou a bater novo recorde, pelo oitavo ano seguido, crescendo 3,7%, com negócios que chegaram a US$ 2,24 trilhões - maior que o PIB projetado pelo FMI ao Brasil para 2023, de US$ 2,13 milhões, o que colocaria o país na nona economia do mundo.
Principal parceiro de Israel, os EUA lideram com folga o ranking, com orçamento de US$ 877 bilhões, sendo responsáveis por 39% dos gastos globais com a indústria bélica. Na segunda posição, a China, em termos comparativos, gastou no período US$ 292 bilhões.
Lockheed Martin, RTX (Raytheon Technologies), Northrop Grumman, Boeing e General Dynamics dividem com a chinesa Aviation Industry Corporation of China o topo das empresas que mais lucram com a indústria militar pelo mundo.
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