MÍDIA E RELIGIÃO

Rede Minas, sucateada por Zema, vira puxadinho do bolsonarismo evangélico

Emissora mudou sua orientação para a extrema direita, visando atrair o eleitorado conservador de olho nas eleições presidenciais de 2026

Cartilha que é oferecida nas redes sociais da "Danizinha protetora".Créditos: Reprodução / Instagram @danizinha_protetora
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Na segunda-feira (22), a Rede Minas estreou uma nova grade de programação que inclui mudanças significativas no jornalismo, na cobertura esportiva e, especialmente, no conteúdo infantil. Entre os novos programas, destaca-se "Danizinha Protetora", exibido nas manhãs de segunda a sexta-feira.

A produção do desenho animado afirma que "Deus planejou a vida de cada um de nós... Quer tenhamos nascido meninos ou meninas, nascemos para a glória de Deus". Além disso, o programa oferece, em suas redes sociais, uma cartilha digital gratuita sobre Ideologia de Gênero, promovendo um discurso considerado por muitos como LGBTfóbico, ao "proteger" as crianças contra essa ideologia.

A introdução de um programa com conteúdo religioso explícito em uma emissora pública, que recentemente mudou sua orientação para a extrema direita, visa atrair o eleitorado conservador de olho nas eleições presidenciais de 2026, levantou questões sobre a laicidade do Estado brasileiro. Muitos veem "Danizinha Protetora" como um exemplo claro de proselitismo religioso, em desacordo com o princípio de neutralidade religiosa que deveria existir nesse tipo de organização.

A controvérsia faz parte de uma discussão mais ampla sobre um Estado verdadeiramente laico e o papel da religião na mídia pública. Grupos e ativistas estão se mobilizando para combater essa tentativa de doutrinação religiosa e proteger as crianças de discursos que promovem a violência de gênero. A grade da emissora é comandada por Leonardo Vitor, ex-coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL) e membro do partido Novo de Romeu Zema.

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais Conedh/MG, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e à Subsecretaria de Direitos Humanos, afirmou ter recebido várias reclamações e denúncias, solicitando ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH) e ao Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Fundações e Alianças Intersetoriais, ligado ao MPMG, que investigue e puna os responsáveis, caso seja constatado preconceito de gênero.

No texto da denúncia, destaca-se que a Rede Minas, sendo uma fundação pública, deve atender aos interesses públicos e respeitar a legislação e os princípios de Direitos Humanos. Robson Sávio Souza, presidente do Conedh, afirmou que "em uma emissora de caráter público, não pode haver qualquer tipo de discriminação ou orientação enviesada. E o mais grave é que uma emissora pública de um estado laico está utilizando um argumento de fundo religioso", com conteúdo criacionista e reforço de estereótipos de gênero, é um exemplo dessa nova direção.

Personagens são da família de pastor mineiro

A personagem "Danizinha", criada por Daniela Linhares, pastora e vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, se assemelha fisicamente à ela e repete suas pregações religiosas. A igreja onde Daniela prega é liderada por seu pai, o pastor Jorge Linhares, uma figura política influente e presidente do Conselho de Pastores e Ministros de Minas Gerais, que já foi questionado pelo Ministério Público devido a um vídeo criticando a identidade de gênero.

No site oficial do programa, os personagens, que têm os mesmos nomes dos familiares de Daniela, são descritos como defensores das crianças contra as maldades do mundo, utilizando "amor, a Bíblia e coragem". O lema de Danizinha é "Deus não erra! Menino é menino, menina é menina e os dois gêneros têm muito valor como nasceram". A inclusão do programa na grade da TV Minas não foi discutida com o Conselho Editorial da emissora.

Além de "Danizinha Protetora", a Rede Minas tem veiculado outros conteúdos evangélicos, como o evento "Ore Comigo", realizado no estádio do Mineirão em junho. O evento gospel contou com a presença do governador Zema, da secretária de Estado de Defesa Social, Alê Portela (PL), e teve patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo. A emissora também cobriu o "Congresso de Homens", promovido pelo pastor Jorge Linhares em 8 de julho, com a presença de Daniela Linhares.

A Rede Minas, cujo nome oficial é Fundação TV Minas – Cultural e Educativa, faz parte da Empresa Mineira de Educação (EMC), uma concessão do governo do estado, é atualmente comandada por Luciano Correia, Leonardo Vitor e Elaine do Carmo Luiz, todos evangélicos. Há rumores de que o atual presidente, Gustavo Mendicino, será substituído por Luciano Correia. A mudança na grade da TV não foi previamente discutida com a Comissão Editorial, que enfrenta dificuldades e falta de transparência nas suas reuniões.