BABY DO BRASIL

Baby do Brasil: a teologia do domínio por trás da cena rocambolesca da cantora/pastora

O cientista político e sociólogo, Jocimar Silva, chama a atenção para o que está de fato em evidência na situação aparentemente amalucada ocorrida em Salvador

Baby do Brasil.Créditos: Reprodução de Vídeo
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Para a maior parte das pessoas, o estranho encontro entre Ivete Sangalo e Baby do Brasil, na noite deste sábado (11), em Salvador, pode ter soado como uma piada. Na ocasião, a "popstora" - uma mistura de pastora com postar, por ser evangélica -, como Baby se autoproclama, fez uma previsão apocalíptica e disse que a crença do fim do mundo deve se concretizar na próxima década.

"Todos atentos porque nós entramos em apocalipse. O arrebatamento tem tudo para acontecer entre 5 e 10 anos", pregou a "popstora".

Com surpresa e perspicácia, Ivete entrou no papo religioso dizendo que "não tem apocalipse certo quando a gente maceta o apocalipse", em referência ao hit "Macetando", parceria com Ludmilla.

Distante do chiste

Um tanto distante da piada rocambolesca que se tornou a situação, o cientista Político e Sociólogo, Jocimar Silva, professor no IPOL UnB, chamou a atenção em sua conta do X, antigo Twitter, sobre a cena.

“Precisamos falar sobre Ivete, Baby e a Teologia do Domínio”, alertou. “Vocês conhecem Ivete e Baby como cantoras até melhor que eu. Mas a cena deste carnaval que recolocou Baby em evidência diz muito sobre outra coisa da qual precisamos falar: a teologia do domínio”, disse.

Segundo ele, “Baby não é mais a ‘Baby do Brasil’, mas a ‘Baby das Nações’, como disse seu líder apostólico Renê Terra Nova (um Malafaia menos conhecido) há alguns anos. Baby agora é parte de uma coalizão apostólica global. Mas de que se trata?”.

O sociólogo explica que “a coalizão apostólica global é um movimento que busca ‘restaurar’ o governo apostólico, considerando todos os outros ‘chamados’ ministeriais (pastor, profeta, mestre, evangelista) subjugados a um/a apóstolo/a.”

“Parece até inclusivo, já que as mulheres podem ser ‘apóstolas’ (se comparado a outros segmentos evangélicos que não aceitam que as mulheres possam ao menos ensinar. Mas não. A ‘restauração’ ou criação de rede de apóstolos trata-se um projeto maior de domínio”, alerta.

“Primeiro um domínio sobre outros segmentos cristãos, com o alvo de colocar todos os cristãos sob a hierarquia do ‘manto’ apostólico. Há também um projeto de governo (mas não só político institucional), mas também de governo religioso, cultural, econômico, social”, ensina.

Apóstola Baby das Nações

Ele lembra que “Baby, ou melhor, Apóstola Baby das Nações, agora trabalha no projeto de expandir a cultura gospel para os espaços não alcançados. Inclusive ela declarou isso em entrevistas quando voltou aos palcos, anos depois da sua conversão”.

“Na perspectiva da Teologia do Domínio, à qual Baby e a coalizão apostólica internacional se filia, a sociedade é constituída por ‘montes’ sob os quais o conservadorismo cristão deve governar: igreja, educação e ciência, economia e negócios, governo, cultura e entretenimento.

O carnaval, sendo a maior festa popular do Brasil, não iria ficar de fora dessa. A Teologia do Domínio diz que as igrejas não devem mais fazer retiros, mas devem ficar e ocupar as cidades lutando contra os deuses carnavalescos”, descreve.

E aponta também que “quem acompanha o carnaval em Salvador e outras cidades de festas mais intensas já deve ter visto os ‘blocos gospel’. Eles não querem aceitar a cultura brasileira, eles querem impor a ‘cultura gospel’.

Foi exatamente isso que vimos em Campina Grande, na Paraíba, onde um grande evento gospel conservador é realizado todos os anos na cidade (inclusive esse ano queriam trazer um pregador estadunidense defensor da escravidão). Aí o prefeito gospel tentou proibir o carnaval”.

“Baby não é uma chapada no puro suco de sincretismo no carnaval do Brasil. Aquilo foi programado. E se repetirá muito por aí, não só nas festas”, encerra.