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VÍDEO: O discurso de Fernanda Torres que descortina a “branquitude libertária”

“Antes o intelectual branco era porta-voz do povo. Hoje, o povo fala por si”, disse atriz em entrevista que viralizou na web

A atriz Fernanda Torres.Créditos: Reprodução/TV Cultura
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Fernanda Torres foi a convidada para o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (8), e um trecho de sua entrevista viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (9).

Fernanda se utiliza de uma comparação entre duas de suas personagens – Vani, de “Os Normais” (2001-2003), e Fátima, de “Tapas e Beijos” (2011-2015) – para trazer uma reflexão dotada de autocrítica sobre as mudanças do mundo nas últimas décadas e o papel do que chamou de “branquitude libertária”.

Ao ser perguntada sobre como se sente ao ver memes nas redes sociais com seus trabalhos antigos, como “Os Normais” e “Tapas e Beijos”, Fernanda reflete que, hoje, percebe mais o valor de Fátima do que de figuras como Vani e Rui, protagonistas de “Os Normais”.

“Super forte o que foi a Vani e o Rui. Mas outro dia eu fiquei olhando a Fátima e achei aquilo uma obra-prima, aquelas duas mulheres com aqueles problemas, aqueles homens ruins. É incrível o ‘Tapas’, porque ‘Os Normais’, hoje, não seria possível. Eram coisas de uma liberdade que esses jovens não tem mais”, refletiu.

Foi, então, perguntada se considera a nova geração “mais careta” e por isso “Os Normais” não seria mais possível. É aí que a atriz inicia sua fala mais potente.

“Quando eu era nova, a gente achava que a opinião pública era ‘zona sul’ [em referência área mais rica do Rio de Janeiro]. E como era Ditadura Militar, a coisa mais importante que existia era a liberdade. Então, os filmes todos eram libertários, a droga era libertária, o ruim era proibir. E nós crescemos com isso. Só que o mundo mudou muito desde a última vez que eu saí”, começa.

Ela explica que “o que antes era ‘droga libertária, lisérgica, para abrir a mente’ virou uma indústria armamentista”. Por isso, argumenta que não é a mesma situação de antigamente, quando “o cara da zona sul libertário subia o morro e era amigo do pessoal”, pois agora “o morro se armou e o consumo já passa a ser uma coisa meio esquisita, meio alienada, de uma classe privilegiada libertária às custas [da indústria]”.

Ela, então, responde à pergunta: “não é que o mundo ficou mais careta, é que o mundo ficou mais violento e menos utópico”.

Quem está meio perdido hoje é esse branco libertário, são pessoas como eu. E também do ponto de vista intelectual. Eu vejo o programa do Mano Brown e ele sabe exatamente o que quer. O problema é que o intelectual branco antes era o porta-voz do povo. Ele era livre, superior e porta-voz do povo. E hoje, o povo fala por si. E aí eu me pergunto: o que eu faço com a minha liberdade? Essa é a questão. Eles tão achados, quem tá perdido somos nós”, conclui.