Em longa reportagem de Jack Nicas, o jornal The New York Times afirma que a tentativa de golpe dos bolsonaristas, no 8 de Janeiro de 2023, e dos trumpistas, com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, tiveram "desfechos opostos" e que os EUA podem aprender com o Brasil.
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Segundo a reportagem, "foram dois ataques chocantes às duas maiores democracias do Hemisfério Ocidental, transmitidos ao vivo pelo mundo e fomentados por presidentes que questionaram suas derrotas eleitorais", que "representaram um teste de fogo para as instituições de ambos os países e provocaram um debate sobre como sociedades profundamente polarizadas poderiam seguir em frente após tais episódios".
"Com o tempo, a resposta para essa pergunta tem se tornando cada vez mais clara: apesar de similares, os ataques tiveram desfechos quase opostos", afirma o texto.
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A primeira diferença apontada é entre o destino de Donald Trump, que tem tido apoio crescente para retornar à Casa Branca, e "seu homólogo no Brasil, o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro", que segundo o jornal "rapidamente segue rumo à irrelevância política".
"Seis meses depois de deixar o cargo, no ano passado, autoridades eleitorais o impediram de concorrer novamente até 2030 – e líderes de direita têm evitado estar próximos a ele", diz o jornal.
Entre os "líderes da direita", o jornal ouviu o ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), que, diferentemente do ódio que prega nas redes sociais, condena os atos do 8 de Janeiro ao jornal e fala até mesmo de evitar um possível retorno da Ditadura Militar - desejo latente entre bolsonaristas.
“Os Estados Unidos não viveram uma ditadura, uma época de período autoritário”, disse. “A gente jamais quer que isso volte ao nosso país”, emendou Nogueira.
Steven Levitsky, professor de ciência política na Universidade de Harvard e co-autor do livro “Como as Democracias Morrem”, aponta ainda que os líderes da direita brasileira “aceitaram publicamente, de forma clara e inequívoca, os resultados das eleições e fizeram exatamente o que políticos democráticos deveriam fazer”.
“Isso é muito diferente da resposta dos membros do Partido Republicano”, destacou Levitsky.
Além disso, a reportagem cita a maior fragmentação partidária no Brasil, que cria mais espaço para o confronto de ideias, e a concentração midiática, que teria favorecido à versão oficial sobre os atos golpistas - e não a que foi propagada pela horda bolsonarista nas redes.
"Por exemplo, a TV Globo atinge uma parcela dominante da audiência brasileira, com índices frequentemente superiores aos das quatro redes seguintes somadas".
Moraes
O NYT ainda destaca a atuação do Supremo Tribunal Federal "para investigar e processar pessoas consideradas uma ameaça à democracia" e tece elogios a Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro à frente das investigações dos atos golpistas.
"A abordagem ajudou a abafar alegações de fraude em torno das eleições de 2022 no Brasil, já que um juiz do Supremo em particular, o ministro Alexandre de Moraes, ordenou que empresas de tecnologia retirassem postagens que espalhavam tais notícias falsas. Moraes disse ter visto a desinformação online minar a democracia em outros países e que estava determinado a não permitir que isso acontecesse no Brasil", diz a reportagem sobre a atuação do ministro diante das fake news propagadas nas redes sociais.
A reportagem ainda diz que Moraes é relator da investigação sobre o 8 de janeiro e destaca que "um ano após os atos no Brasil, 1.350 pessoas foram denunciadas e 30, condenadas, com sentenças variando de 3 a 17 anos".
Citando Levitsky, o jornal diz que a reação ao golpismo no Brasil se assemelha à da Alemanha no levante contra o fascismo após a derrocada de Adolph Hitler.
"Levitsky, professor de Harvard, disse que a abordagem do Brasil se assemelha à doutrina da “democracia militante” estabelecida na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial para combater o fascismo, na qual o governo pode impedir de concorrer a eleições os políticos considerados uma ameaça", diz a reportagem.
Por fim, o NYT afirma que Bolsonaro parou de afirmar que foi vítima de fraude eleitoral, à medida que o apoio político mingua – e em meio a uma série de investigações criminais que o envolvem". Enquanto nos EUA, Trump "intensifica suas mentiras", refletidas em uma pesquisa divulgada no mês passado mostrou que um quarto dos americanos agora acredita que agentes do FBI “organizaram e incentivaram” o ataque de 6 de janeiro.
"Para Levitsky, essa estatística ilustra o que os Estados Unidos podem aprender com o Brasil nesse caso: 'O que líderes dizem e fazem importa'”, finaliza o jornalista.