Trump corta participação dos EUA em fundo que ampara países pobres contra mudanças climáticas

Em comunicado oficial, Rebecca Lawlor, vice-diretora do Escritório de Clima e Meio Ambiente do Departamento do Tesouro dos EUA, confirmou a decisão; medida gerou críticas de especialistas e organizações ambientais

Donald Trump.Créditos: Gage Skidmore
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O governo de Donald Trump retirou os EUA de um acordo internacional que previa compensações financeiras a países em desenvolvimento pelos impactos irreversíveis das mudanças climáticas. O chamado fundo de perdas e danos foi criado durante a COP-28, a cúpula climática da ONU realizada em 2023, após anos de negociações e pressão de nações que sofrem os efeitos mais graves do aquecimento global, apesar de serem as menos responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa.

O fundo representou um avanço na responsabilização dos países mais poluentes, comprometendo-os a fornecer recursos financeiros para ajudar comunidades vulneráveis a lidar com danos já causados, como elevação do nível do mar, secas prolongadas e eventos climáticos extremos. No entanto, os EUA, que haviam contribuído com apenas US$ 17,5 milhões ao fundo — valor considerado insignificante diante das necessidades globais —, anunciaram sua saída imediata do conselho que administra o mecanismo.

Em comunicado oficial, Rebecca Lawlor, vice-diretora do Escritório de Clima e Meio Ambiente do Departamento do Tesouro dos EUA, confirmou a decisão. A medida gerou críticas de especialistas e organizações ambientais, que a classificaram como um retrocesso nos esforços globais contra a crise climática.

Mohamed Adow, diretor do think tank Power Shift Africa, afirmou que a retirada dos EUA mina a confiança internacional e prejudica a cooperação entre os países. “Este é um momento que exige mais compromisso, não um afastamento que compromete o progresso alcançado”, destacou. Já Rachel Rose Jackson, da Corporate Accountability, foi mais incisiva: “Os EUA nunca estiveram verdadeiramente comprometidos com a agenda climática. A saída do fundo reflete a política destrutiva do governo Trump, que prioriza interesses corporativos em detrimento da sobrevivência do planeta”.

Líderes de nações afetadas também expressaram preocupação. Ali Mohamed, presidente do Grupo Africano de Negociadores, alertou que a decisão prejudica diretamente os países mais vulneráveis, que dependem do apoio financeiro para enfrentar os impactos da crise ambiental.

Esta não é a primeira vez que o governo Trump adota uma postura de distanciamento em relação a compromissos climáticos. Em 2017, o presidente, em seu primeiro mandato, retirou os EUA do Acordo de Paris, argumentando que o pacto prejudicaria a economia americana, especialmente em relação à competitividade da China no setor industrial.

Atualmente, os EUA são o maior emissor histórico de gases de efeito estufa. Apesar da redução no uso de carvão, o país expandiu significativamente a produção de petróleo e gás nos últimos anos. Enquanto isso, os efeitos do aquecimento global se intensificam, com desastres naturais devastando regiões dos próprios EUA, como os incêndios na Califórnia e as inundações no sul do país.

Prejuízos anuais

O fundo de perdas e danos continua em operação, com 27 países tendo prometido um total de US$ 741 milhões até o final de janeiro de 2024. No entanto, esse valor ainda está longe de cobrir os prejuízos anuais enfrentados pelas nações em desenvolvimento.

Para Harjeet Singh, ativista climático e diretor da Satat Sampada Climate Foundation, a decisão dos EUA reforça um histórico de resistência à cooperação internacional em questões ambientais. “Como maior responsável histórico pelo problema, os Estados Unidos têm uma obrigação moral de contribuir para as reparações climáticas. A retirada desse compromisso enfraquece a luta global por justiça climática”, concluiu Singh.

*Com informações de The Guardian.

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