O aquecimento global acima de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais pode tornar uma área maior que o Brasil inabitável devido ao calor extremo, afetando até mesmo adultos jovens. A conclusão é de um estudo publicado na revista Nature Reviews Earth and Environment, liderado pelo King’s College London e com participação de instituições como a Universidade da Califórnia, Stanford, Columbia, Boston e o Instituto Goddard da NASA.
A pesquisa aponta que um aumento de 2ºC na temperatura global tornará cerca de 10 milhões de km² insalubres para jovens adultos, o equivalente a 6,7% da superfície terrestre, três vezes mais do que nos últimos 30 anos. Regiões como norte da África, sul da Ásia e Oriente Médio seriam as mais afetadas. Para idosos, a vulnerabilidade é ainda maior: 35% das terras continentais podem se tornar inabitáveis, comparado aos 20% observados entre 1994 e 2023.
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Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), se as emissões de gases do efeito estufa não forem drasticamente reduzidas, esse limiar pode ser superado entre meados e o final do século. O Acordo de Paris busca conter o aquecimento abaixo desse patamar, com uma meta de 1,5ºC, mas cientistas alertam que esse nível pode ser atingido até 2045.
O estudo analisou os impactos do calor extremo cruzando dados climáticos com indicadores de mortalidade. Foram utilizados os conceitos de "limiares incompensáveis" e "limiares letais": no primeiro, o corpo humano perde a capacidade de dissipar calor; no segundo, a temperatura corporal chega a 42ºC em até seis horas, levando ao “estresse térmico”, que pode ser fatal. A análise se baseou na temperatura de bulbo úmido (WBGT), que combina temperatura do ar, umidade e vento.
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O estudo alerta que a frequente ultrapassagem desses limiares aumentará a mortalidade, mesmo entre indivíduos jovens e saudáveis. O risco se agrava conforme a temperatura global sobe: com 4ºC a 5ºC de aquecimento, 60% das terras continentais se tornarão inviáveis para idosos, e jovens também enfrentarão ameaças no Saara e sul da Ásia.
“Os limiares de calor insustentáveis, antes observados apenas em idosos, passarão a afetar adultos jovens. Nessas condições, a exposição prolongada ao ar livre – mesmo com sombra, vento forte e hidratação – pode ser fatal”, alerta Tom Matthews, do King’s College London, autor principal do estudo.