Ciência considera “reviver” espécies animais extintas há mais de 4 mil anos

Empresas de bioengenharia genética têm se dedicado a projetos ousados para "trazer de volta" animais extintos há até 4 mil anos

Mamute.Créditos: free source
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As pesquisas genéticas para a recuperação de espécies animais extintas há milhares de anos têm se tornado mais populares entre empresas privadas de biotecnologia. O mais recente desses experimentos foi feito pela Colossal Biosciences, que "reviveu" o rato lanoso, roedor cujas variantes genéticas o fizeram ter características fenotípicas parecidas com as dos mamutes — com pelos de cor, textura e espessura correspondentes à do animal pré-histórico.

As pesquisas de "desextinção" têm sido feitas desde 2003, quando cientistas espanhóis conseguiram retomar, embora sem tanto sucesso, uma subespécie já extinta: o íbex-dos-pirenéus (Capra pyrenaica), que costumava ser encontrado nas montanhas dos Pirinéus de França e Espanha. O filhote do animal extinto nasceu em laboratório, mas morreu em seguida devido a um defeito pulmonar. 

Novos projetos de "desextinção" já estão sendo idealizados por empresas de biotecnologia e genética, especialmente a Colossal Biosciences, que se descreve como "mais do que uma empresa de engenharia genética", dedicada à preservação de espécies em extinção — e mesmo das já extintas. 

De acordo com a revista Live Science, há pelo menos seis espécies aptas a serem "trazidas de volta" ao planeta, a mais antiga delas extinta há quase quatro mil anos, durante a última fase de alteração do clima glacial da Terra que levou à diminuição de sua variedade genética e lentamente extinguiu suas formas de vida. 

Os mamutes lanosos (Mammuthus primigenius), cujas características físicas serviram de inspiração à criação do "rato lanoso", ou "rato mamute", existiram há quase 300 mil anos na Terra, e sua extinção remonta ao fim do último período glacial. 

Hoje, graças às carcaças da espécie preservadas pelo solo permafrost do Ártico, foi possível refazer seu genoma completo através de técnicas de modelagem 3D, e cientistas estudam a possibilidade de transferir suas estruturas de DNA para um óvulo de elefante moderno, seu parente mais próximo, para criar uma espécie semelhante à dos grandes mamutes lanosos desaparecidos da Terra há cerca de 4 mil anos. 

Outro desses animais, extinto desde o século 17, é o dodô (Raphus cucullatus), que desapareceu devido às atividades colonizatórias dos europeus que chegaram às Ilhas Maurício, na África Oriental.

Da mesma família dos pombos, o dodô media cerca de um metro de altura, pesava até 17 kg e, naturalmente, era uma ave que não conseguia voar.

Assim como o pássaro-elefante (Aepyornis maximus), também extinto no século 17 (natural da ilha de Madagascar), o dodô desapareceu sobretudo devido às atividades de predação humana e de espécies invasoras, que comiam seus ovos antes de poderem completar seu processo reprodutivo.

Leia mais: Maior ovo do mundo pertence a pássaro-elefante extinto desde o século XVII | Revista Fórum

Em 2022, seu genoma foi recuperado pelos cientistas a partir de remanescentes bem preservados de um espécime de dodô encontrado entre uma coleção dinamarquesa. Agora, se quiserem "revivê-la", será necessário uma maior variedade genética à sua sequência de DNA, a fim de que os possíveis novos indivíduos da espécie não se tornem "apenas uma população de clones".

O tigre da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus), um marsupial carnívoro que desapareceu da vista pública há cerca de 3 mil anos e foi oficialmente extinto no século 19 devido a atividades de caça incentivadas pelos grupos de europeus a colonizar a Tasmânia, é mais um "candidato" aos experimentos de desextinção. 

De acordo com os cientistas, há diversas amostras de DNA da espécie no mundo, algumas muito bem preservadas. A empresa Colossal Biosciences, responsável pelo rato mamute, considera trabalhar com essas amostras em breve, mas sinaliza como desafio a fragmentação extrema do DNA da espécie, que precisaria ser editada geneticamente para que fosse possível gerar uma sequência funcional.

Entre 2017 e 2023, os pesquisadores da Colossal chegaram a sequenciar um genoma completo da espécie e conseguiram extrair seu RNA, mas a reprodução em laboratório guarda outros desafios técnicos.

Outras espécies candidatas ao projeto são, ainda, uma espécie de pombo-passageiro (Ectopistes migratorius), que já foi a ave mais abundante da América do Norte antes do século 17; o fascinante auroque (Bos primigenius), ancestral selvagem do gado moderno, cujos fósseis mais antigos datam de até 700 mil anos atrás; e o quaga (Equus quagga quagga), subespécie extinta de zebra das planícies, endêmica da África do Sul, que costumava ser caçada por sua pele valiosa e foi extinta já no século 19. 

O argumento dos cientistas favoráveis aos experimentos de "trazer de volta" essas espécies antigas é que o processo pode evitar novas ondas de extinção em massa, garantindo a permanência de espécies ameaçadas no planeta, além de retomar o papel natural de espécies já desaparecidas.

Mas há conflitos éticos consideráveis no empreendimento, que pode variar entre clonagem, engenharia genética e recruzamento. O mercado da bioengenharia de "desextinção" já tem investidores famosos a injetar dinheiro nos experimentos com células-tronco e sequenciamento genético de linhagens antigas, e não se sabe realmente como seria a reintrodução dessas espécies na natureza. Mas as inovações do campo prometem continuar.

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