As grandes cordilheiras do mundo, cadeias de montanhas formadas por rochas imemoriais, estão sendo constantemente alteradas — não só pelos efeitos iniciados pelas mudanças climáticas, que levam ao derretimento mais rápido das camadas de gelo que alteram sua geografia, mas por forças geológicas naturais em movimento por milhares e milhões de anos, com velocidades e efeitos diferentes.
Essas forças podem provocar, por exemplo, a elevação ou a diminuição progressiva das montanhas; sim: elas ficam ainda mais altas (ou mais baixas) com o tempo, crescendo em altura ou afundando, e eventualmente desmoronando, nota Carlos Pina, professor de Cristalografia e Mineralogia da Universidade Complutense de Madrid.
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Cientistas acreditam que o Monte Everest, a mais alta montanha do mundo (com 8.848 metros de altitude), localizada na cordilheira do Himalaia, na fronteira entre o Nepal e a China, esteja "crescendo" a um nível mais acelerado que as outras montanhas da região himalaia.
"Os continentes estão flutuando no manto da Terra e, assim como os icebergs, podem afundar ou subir mais ou menos, dependendo de sua massa", diz Pina em artigo na revista The Conversation. "Isso ocorre porque eles são feitos de materiais mais leves (principalmente granitos, gnaisses e rochas sedimentares) do que o manto terrestre sobre o qual repousam".
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Quando são submetidos às altas temperaturas do manto terrestre, os continentes e as diferentes massas da crosta terrestre flutuam. Esse fenômeno é conhecido como isostasia, ou movimento isostático: o equilíbrio da litosfera (a camada sólida da Terra) sobre a astenosfera (uma camada mais maleável abaixo dela), semelhante a um iceberg flutuando na água. Quanto mais pesada a litosfera, mais ela afunda, deslocando material da astenosfera para manter o equilíbrio.
Áreas como o himalaia não fazem parte desse equilíbrio, porque há forças geodinâmicas diferentes a atuar ali. Na verdade, o Himalaia sofre de "rebote isostático": as montanhas continuam a crescer devido à colisão entre as placas tectônicas indiana e eurasiana, e os processos de erosão e transporte de sedimentos ocorridos ali removem material da superfície. Essa perda de "volume" de sólidos faz com que a litosfera sofra um ajuste isostático que eleva lentamente a crosta da Terra para "compensar" a perda.
"Quando a erosão remove parte da massa das montanhas, um impulso isostático é produzido para compensar a perda de peso", explica Pina.
E esse processo se iniciou há muito, muito tempo: cerca de 90 mil anos atrás, quando o Rio Arun, um afluente do Kosi e um dos principais rios do Nepal, que nasce no Tibete e flui para o sul através das montanhas do Nepal, mudou de curso.
Essa mudança gerou o evento geológico já explicado, pelo qual o aumento da erosão ao redor do Monte Everest e das montanhas na vizinhança fizeram com que seus sedimentos fossem levados para o mar.
O Everest foi o mais afetado pela erosão e, consequentemente, pelo "impulso isostático" ocasionado por ela.
"Como resultado, o colosso rochoso e seus vizinhos estão se elevando mais rápido do que outras montanhas mais distantes da bacia do Rio Kosi".
Os processos erosivos, que avançam lentamente, vão desmantelando as montanhas, apesar de fazê-las crescer. Em tempo, após milhões de anos de "erosão fluvial, eólica ou marítima", até as mais altas cadeias de montanhas "podem ser reduzidas a pequenas colinas ou completamente obliteradas".