No discurso de abertura da Cúpula do Futuro da ONU, no domingo (22), Lula fez apelo por um maior compromisso global em relação ao meio ambiente. Na ocasião, o presidente criticou a falta de financiamento e de ‘ousadia’ para barrar os efeitos das mudanças climáticas e advertiu contra o "fracasso coletivo" na realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Na abertura da Assembleia Geral da ONU desta terça-feira (24), Lula voltou a tratar de questões como a rápida escalada dos fenômenos climáticos extremos, a transição energética e a crise ambiental sofrida pelo Brasil em 2024.
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Lula criticou o alcance limitado e a dificuldade no avanço das negociações do Pacto para o Futuro, adotado durante a Cúpula, além da falta de auxílio financeiro a países pobres no contexto do combate às mudanças climáticas, o negacionismo em relação ao aquecimento global e os gastos militares das potências, que crescem pelo terceiro ano seguido e já passam de 3 bilhões de dólares. De acordo com o presidente, esses recursos seriam melhor empregados no combate à fome e às mudanças climáticas.
“O planeta está farto de acordos climáticos que não são cumpridos”, disse Lula. Ele enfatizou que 2024 será o ano mais quente da história moderna e que os incêndios no Brasil já devoraram 5 milhões de hectares só em agosto.
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Apesar da redução em 50% no desmatamento da Amazônia desde o ano passado, o Brasil vive um o período crítico com as recentes queimadas e a seca extrema. A Amazônia sofre a pior estiagem em 45 anos; e, de janeiro a setembro de 2024, o Brasil já registrou mais de 200 mil focos de incêndio, superando o total de 2023 (que foi 10 mil), de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O país agora soma 71,9% de todas as queimadas registradas na América do Sul.
Em discurso, Lula informou a meta de erradicar o desmatamento da Amazônia até 2030, com consulta continuada às comunidades originárias e povos tradicionais.
Numa entrevista anterior à fala de Lula na Assembleia Geral, o embaixador Carlos Márcio Cozendey, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, defendeu que a situação atual do Brasil deve ser vista como um chamado à ação no cenário internacional e disse servir como um alerta sobre a urgência das ações de combate às mudanças climáticas.
No ritmo atual de implementação, menos de 18% das metas da Agenda para 2030 serão atingidas dentro do prazo.
Outro ponto abordado no discurso do presidente nesta terça foi o desenvolvimento sustentável baseado em metas de bioeconomia, que envolvem a transição das bases energéticas.
“O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo”, disse Lula: 90% da eletricidade do país provém de fontes renováveis. Além disso, o Brasil foi vanguarda no uso de biocombustíveis e, agora, na produção do Hidrogênio Verde.
"O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global. 2024 caminha para ser o ano mais quente da história moderna. Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição. No sul do Brasil, tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto", adicionou.
Lula afirmou que é preciso "fazer muito mais", se referindo às queimadas que tem assolado o país durante todo o mês de setembro e se tornaram tema de debate em toda a sociedade brasileira.
"O meu governo não terceiriza a responsabilidade e nem abdica da sua soberania. Já fizemos muito, mas sabemos que é preciso fazer muito mais.Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo legal e com o crime organizado", afirmou.
"Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano e vamos reivindicá-lo até 2030. Não é mais admissível pensar em soluções para as florestas tropicais sem ouvir os povos indígenas, comunidades tradicionais e todos aqueles que vivem nelas", completou.
Lula ainda invocou o multilateralismo como “o único caminho para superar mudança climática”, e fez referência a uma NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) do governo brasileiro com o objetivo de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 53% até 2030 e limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C.
"O Brasil desponta como o celeiro de oportunidades neste mundo revolucionado pela transição energética. Somos hoje um dos países com a matriz energética mais limpa do mundo. 90% da nossa eletricidade provém de fontes renováveis, como a biomassa, a hidrelétrica, a solar e a eólica. Fizemos opção pelos biocombustíveis há 50 anos, muito antes que a discussão sobre energias alternativas ganhasse tração. Estamos na vanguarda em outros nichos importantes, como da produção do hidrogênio verde. É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis", completou Lula.
O tema da 79ª Assembleia Geral é “Não deixar ninguém para trás: Agindo juntos para o avanço da paz, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana para as gerações presentes e futuras”.