Uma startup britânica tem planos ambientais ambiciosos para o Ártico: uma tecnologia de "recongelamento" do gelo, que tem derretido de forma cada vez mais rápida com o aumento das temperaturas médias da Terra.
A Real Ice nasceu com o objetivo de "substituir o gelo marinho" e evitar o possível desaparecimento do mar do Ártico. "Assim como estamos tomando medidas para reflorestar a Amazônia e outras florestas em situação de risco, também precisamos tomar ações para recongelar o Ártico", diz o portal oficial da companhia.
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De acordo com a CNN, a primeira empreitada da empresa tem sido em Cambridge Bay, uma vila costeira do território Ártico canadense, na região de Nunavut, a noroeste do país, e a segunda menos habitada do Canadá.
A ideia é cavar buracos no gelo marinho para ser capaz de "engrossar o gelo" com um mecanismo de bombeamento da água do fundo do mar, que é congelada novamente quando chega à superfície. Essa é uma técnica de geoengenharia, ou "engenharia climática", que usa tecnologias humanas para descarbonizar, fertilizar e restaurar ecossistemas.
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Os testes dessa tecnologia têm sido feitos há pelo menos dois anos, no Alaska e no Canadá, e já foram capazes de "recuperar" cerca de 50,8 centímetros de espessura no gelo canadense.
A Real Ice pretende, agora, "engrossar o gelo" em até 900 mil km² em Nuvanut, uma empreitada longa e cujo potencial ainda não está comprovado -- nem seus efeitos no ecossistema local.
Quando bombas submersas forem instaladas sob a superfície marinha, em buracos cavados pela empresa, a água bombeada de lá em direção à superfície deve congelar e se acumular no gelo já existente como uma camada extra. Além disso, a Real Ice vai trabalhar em "remover a neve do topo" das geleiras, a fim de criar uma camada de isolamento que permita uma expansão ainda maior do gelo que fica sob a água, de acordo com sua CEO, Andrea Ceccolini.
Nos primeiros quatro dias de testes no Canadá, houve uma "melhora" avistada de até 10 centímetros na espessura do gelo, disse ela, e são esperados até maio de 2025 ganhos de mais até 78 centímetros.
E existe um plano extra após o sucesso dessa primeira fase de recuperação, informa um pesquisador da Universidade de Cambridge envolvido no projeto da Real Ice à CNN: eles pretendem instalar drones aquáticos de quase 20 metros, abastecidos com hidrogênio verde, para "derreter buracos no gelo" usando brocas aquecidas.
Esses drones — cerca de 500 mil — seriam destinados a fazer o processo já testado pela empresa em grande escala, com resultados potencializados, e seriam implantados com cuidado para "evitar caminhos de migração de animais" do ecossistema marinho.
Em até 10 anos, com um custo estimado de até US$ 6 bilhões, a Real Ice quer recuperar uma área do Ártico que corresponde a quase o dobro do território da Califórnia, mas esse empreendimento já conta com críticas; dentre elas, a de ambientalistas.
Como a maior parte das técnicas de geoengenharia, o plano ousado da Real Ice pode ter um efeito grave sobre o meio ambiente, afetando o crescimento de algas marinhas, gerando efeitos colaterais negativos com o espessamento do gelo e, principalmente, não criando as condições necessárias para realmente combater os efeitos nocivos do aquecimento global na região.
Qual seria a viabilidade, afinal, de um recongelamento motivado por vias antrópicas? Ele teria de ser feito constantemente, à medida que novas ameaças de temperatura fizessem com que o gelo recomeçasse seu processo de derretimento? E que influência os 500 mil drones idealizados pela companhia teriam sobre as espécies locais?
Apesar desses questionamentos, a CEO da Real Ice continua positiva, e acredita que os impactos serão limitados e não tão dramáticos quanto um derretimento catastrófico do gelo do Ártico, capaz de desastres ambientais ainda maiores — e talvez irreversíveis.