BELÉM QUE SE CUIDE...

No desespero, líderes defendem extinguir a COP no formato atual

Muitos lobistas, poucos cientistas

Em produção.Poços de petróleo são comuns nas ruas de Baku.Créditos: Luiz Carlos Azenha
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

De Baku, Azerbaijão -- O desarranjo no interior do movimento ambientalista é tamanho que integrantes do chamado Clube de Roma, inclusive um dos mais importantes cientistas do Brasil, estão defendendo a extinção da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, mais conhecida como COP, no formato atual.

O evento chega à sua trigésima edição no ano que vem, em Belém.

Nos bastidores do encontro de Baku, a carta enviada ao secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, e ao secretário-geral da ONU, António Guterres teve grande repercussão.

Uma das propostas é banir da presidência da COP representantes de países que não se comprometam a abandonar a produção de petróleo e gás.

O presidente da COP atual é Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e Recursos Naturais do Azerbaijão, que tem planos para expandir a produção de petróleo e gás ao menos até 2033.

Lobistas no controle

Diz o texto da carta:

As reuniões da COP devem ser transformadas em reuniões menores, mais frequentes e orientadas para soluções, onde os países reportem seus progressos, sejam responsabilizados de acordo com a Ciência mais recente e discutam soluções importantes para finanças, tecnologia e equidade.

O objetivo dos signatários não é extinguir a COP, mas acelerar a busca por saídas em reuniões menores, focadas na Ciência e mais frequentes.

Em Baku, mais de 66 mil pessoas foram credenciadas.

Duas outras propostas feitas na carta dizem respeito a fortalecer o papel dos cientistas e reduzir a dos lobistas:

Apesar das novas regras de transparência da COP, um número recorde de 2.456 lobistas de combustíveis fósseis tiveram acesso à COP28, quase quatro vezes mais do que na COP27. O fato de haver muito mais lobistas do que representantes oficiais de instituições científicas, comunidades indígenas e nações vulneráveis reflete um desequilíbrio sistêmico na representação da COP.

Outra proposta importante sugere que a COP reconheça a interdependência entre pobreza, desigualdade e a instabilidade do planeta.

Para que a COP tenha mais impacto, deve reconhecer que a atual taxa de perda da natureza (por exemplo, escassez de água doce, degradação da terra e do solo, declínio da polinização, poluição dos oceanos) afeta a estabilidade do planeta. Além disso, a estabilidade planetária, agora em grave risco, é impossível sem uma ação decisiva em matéria de igualdade, Justiça e redução da pobreza.

A carta tem a assinatura do cientista brasileiro Carlos Nobre, do ex-secretário geral da ONU, Ban-Ki-moon, e da ex-presidenta da Irlanda, Mary Robinson, além de outras personalidades influentes no ambientalismo.

Em outras palavras, eles dizem que o prazo venceu:

As emissões globais continuam a aumentar, os sumidouros de carbono estão sendo degradados e já não podemos excluir a possibilidade de ultrapassar os 2,9°C de aquecimento até 2100.