De Baku, Azerbaijão -- Um grupo de ativistas brasileiros que atua nos bastidores da COP29 reclama que a sociedade civil, quando muito, testemunha à distância a tomada de decisões sobre a emergência climática, tanto dentro quanto fora do Brasil.
O Engajamundo é formado por jovens de várias partes do Brasil, veteranos neste tipo de evento apesar da idade, mas que aqui não encontraram espaço para influir.
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Paulo Lorran do Nascimento Galvão e seus colegas de militância estão em Baku como "observadores".
Ele informou que a redução do número de participantes se deveu à falta de financiamento, o que em tese reduz a pressão da sociedade civil e dos ambientalistas nas decisões.
A partir da COP25 [Espanha, com presidência do Chile] a gente teve um aumento muito grande da participação de povos indígenas, por exemplo. Este ano a gente sentiu uma baixa muito grande, principalmente pela falta de financiamento.
De fato, entre o Catar e Baku o número de participantes caiu em cerca de 20 mil pessoas.
Mineradoras "verdes"
O grupo faz questionamentos muito pertinentes, por exemplo, sobre empresas que se apresentam como "verdes" mas deixam um rastro de destruição no caminho.
Em um texto, aponta um paradoxo: a mineração -- especialmente de lítio, cobalto e níquel -- será necessária para promover a transição energética, mas...
Este paradoxo — o aumento da mineração para sustentar a transição energética — levanta uma questão central: como garantir que essa transição seja justa, tanto em termos sociais quanto ambientais? Muitas vezes, as mineradoras violam direitos, provocam danos ambientais, grilam terras e obtêm mais lucros do que devolvem aos territórios. A maior parte dos recursos financeiros permanece com as empresas, enquanto os impactos e desigualdades recaem sobre as comunidades locais.
O exemplo óbvio é a Vale, que explora uma das maiores reservas do planeta, a de Carajás, "resultando em desmatamento massivo, perda de biodiversidade e contaminação dos rios, afetando diretamente as comunidades locais" -- nota o documento do Engajamundo.
A Vale é responsável, além disso, por dois dos maiores desastres ambientais recentes, em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), que detonaram as bacias dos rios Doce e Paraopeba.
Influência do petróleo
As COPs do Catar e do Azerbaijão, sugestivamente, aconteceram em países produtores de petróleo. O Brasil também é um deles. Paulo Galvão nota a ironia: a COP30 vai desembarcar em Belém num momento em que a Petrobrás tem projetos para explorar petróleo em toda a margem equatorial, da costa potiguar até a foz do Rio Amazonas e nas águas profundas do Amapá.
Paulo deixa entrever impotência diante de decisões que parecem desconsiderar os afetados e carecem de discussão.
Samantha Costa Alves, também do Engajamundo, sugere que a sociedade civil é quase uma peça de decoração: subfinanciada e com pouco acesso aos bastidores:
A gente está aqui mas a gente entende que é um espaço muito excludente. As maiores negociações ocorrem nas salas fechadas, você não consegue acessar. Uma de nossas propostas é por conselhos municipais, que cada região do Brasil tenha o seu próprio conselho, que não seja apenas consultivo, mas também propositivo.