Sociedade civil quase "decorativa" na COP, dizem jovens ativistas brasileiros

Grupo Engajamundo pede conselhos municipais no Brasil para discutir meio ambiente

O grupo milita nos bastidores do evento, mas reclama da falta de acesso aos debates.
Militância.O grupo milita nos bastidores do evento, mas reclama da falta de acesso aos debates.Créditos: Luiz Carlos Azenha
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De Baku, Azerbaijão -- Um grupo de ativistas brasileiros que atua nos bastidores da COP29 reclama que a sociedade civil, quando muito, testemunha à distância a tomada de decisões sobre a emergência climática, tanto dentro quanto fora do Brasil.

O Engajamundo é formado por jovens de várias partes do Brasil, veteranos neste tipo de evento apesar da idade, mas que aqui não encontraram espaço para influir.

Paulo Lorran do Nascimento Galvão e seus colegas de militância estão em Baku como "observadores". 

Ele informou que a redução do número de participantes se deveu à falta de financiamento, o que em tese reduz a pressão da sociedade civil e dos ambientalistas nas decisões.

A partir da COP25 [Espanha, com presidência do Chile] a gente teve um aumento muito grande da participação de povos indígenas, por exemplo. Este ano a gente sentiu uma baixa muito grande, principalmente pela falta de financiamento. 

De fato, entre Dubai e Baku o número de participantes caiu em cerca de 20 mil pessoas.

Um pedido para que o governador Hélder Barbalho, do Pará, que esteve em Baku, salve a Escola da Floresta, em Santarém

Mineradoras "verdes"

O grupo faz questionamentos muito pertinentes, por exemplo, sobre empresas que se apresentam como "verdes" mas deixam um rastro de destruição no caminho.

Em um texto, aponta um paradoxo: a mineração -- especialmente de lítio, cobalto e níquel -- será necessária para promover a transição energética, mas...

Este paradoxo — o aumento da mineração para sustentar a transição energética — levanta uma questão central: como garantir que essa transição seja justa, tanto em termos sociais quanto ambientais? Muitas vezes, as mineradoras violam direitos, provocam danos ambientais, grilam terras e obtêm mais lucros do que devolvem aos territórios. A maior parte dos recursos financeiros permanece com as empresas, enquanto os impactos e desigualdades recaem sobre as comunidades locais.

O exemplo óbvio é a Vale, que explora uma das maiores reservas do planeta, a de Carajás, "resultando em desmatamento massivo, perda de biodiversidade e contaminação dos rios, afetando diretamente as comunidades locais" -- nota o documento do Engajamundo.

A Vale é responsável, além disso, por dois dos maiores desastres ambientais recentes, em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), que detonaram as bacias dos rios Doce e Paraopeba.

Influência do petróleo

As COP de Dubai e do Azerbaijão, sugestivamente, aconteceram em países produtores de petróleo. O Brasil também é um deles. Paulo Galvão nota a ironia: a COP30 vai desembarcar em Belém num momento em que a Petrobrás tem projetos para explorar petróleo em toda a margem equatorial, da costa potiguar até a foz do Rio Amazonas e nas águas profundas do Amapá.

Paulo deixa entrever impotência diante de decisões que parecem desconsiderar os afetados e carecem de discussão.

Samantha Costa Alves, também do Engajamundo, sugere que a sociedade civil é quase uma peça de decoração: subfinanciada e com pouco acesso aos bastidores:

A gente está aqui mas a gente entende que é um espaço muito excludente. As maiores negociações ocorrem nas salas fechadas, você não consegue acessar. Uma de nossas propostas é por conselhos municipais, que cada região do Brasil tenha o seu próprio conselho, que não seja apenas consultivo, mas também propositivo.

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