CRISE CLIMÁTICA

No menor nível em 122 anos, seca no Rio Negro afetou logística das eleições

Cerca de 770 mil pessoas são atualmente afetadas pela seca que atinge o Amazonas

Estruturas de casas que ficam submersas na água estão agora à mostra.Créditos: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Considerado um dos principais cursos d’água da bacia amazônica, o Rio Negro tem sofrido os efeitos da seca severa em razão da estiagem. Na última sexta-feira (4), o monitoramento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) registrou uma baixa de 12,66 metros, o que é considerado a pior seca dos últimos 122 anos.

Em outubro de 2023, o rio já havia alcançado o pior nível de sua história, com uma mínima de 12,70 metros. No entanto, essa marca foi superada na última quinta-feira (3), quando o rio apresentou uma taxa de 12,68 metros. De acordo com o ClimaInfo, o Rio Negro está baixando, em média, 19 centímetros por dia.

Segundo o boletim emitido pela Defesa Civil estadual na sexta-feira (4), até o momento, 767.186 pessoas foram afetadas. Isso representa cerca de 190 mil famílias que estão enfrentando as consequências da estiagem severa.

Leia também: Antártida "verde" acende alerta e preocupa cientistas

Eleições afetadas pela seca

No domingo (6), durante o primeiro turno das eleições municipais, a seca do Rio Negro impactou diretamente as eleições na região. Com 27.777 eleitores em 136 seções, incluindo 30 áreas indígenas com 55 seções eleitorais, o total de eleitores afetados chegou a 12.890. Devido à interrupção das navegações, a logística demandou helicópteros para o transporte das urnas para áreas isoladas. Inicialmente, havia sido projetado que a seca poderia afetar mais de 120 mil eleitores no Amazonas.

Moradores de outras regiões do estado também enfrentaram dificuldades para votar, como no município de Coari, banhado pelo Solimões, a 363 km de Manaus. Segundo informações da Revista Cenarium, eleitores aguardaram embaixo de parte da estrutura do porto fluvial do município para chegarem aos locais de votação. A estrutura, que antes ficava submersa na água, agora está em terra firme devido à estiagem.

Segundo Adriana Cuartas, pesquisadora do Cemaden, os níveis mínimos desses rios geralmente ocorrem no final do mês de outubro. No entanto, este ano, as baixas no nível da água estão ocorrendo mais cedo, com expectativa de agravamento nos próximos dias.

A seca na região sul da Amazônia também é caracterizada como "dramática" pelo coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.

“As regiões mais afetadas já têm comunidades isoladas em que não se chega nem de barco nem de canoa. O transporte escolar foi comprometido, bem como a remoção de pacientes, médicos, o abastecimento de água e a própria segurança alimentar”, destaca Scannavino.