CRISE CLIMÁTICA

Ondas de calor provocam colapso ambiental e ameaçam nova geração, alerta estudo

Pesquisa mostra que aquecimento global tem efeitos diretos e indiretos na saúde de gestantes, pondo em risco novas gerações

Queimadas devastam biomas brasileiros em 2024.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Estudos científicos estão alertando há anos sobre o risco de colapso ambiental provocado pelas mudanças climáticas, que ameaçam a existência de toda a população global. Um novo trabalho, feito pela The Earth League com 80 pesquisadores de destaque de 45 países diferentes, faz novos alertas sobre como a crise climática já é uma ameaça para a nova geração

No estudo, intitulado "10 Novos Insights em Ciência Climática" e divulgado nesta segunda-feira (28) pela Agência Bori, os pesquisadores mostram que o aumento das temperaturas globais está tornando o planeta cada vez mais inabitável, perturbando processos vitais nos oceanos, levando a Amazônia ao limite de um colapso em grande escala e até mesmo colocando em risco uma geração ainda não nascida ao aumentar as chances de complicações na gravidez, inclusive, com perdas gestacionais.

As dez percepções apontadas pelo estudo foram baseadas em uma gama de pesquisas científicas sobre diferentes impactos ambientais, econômicos e sociais causados pela crise climática. “O relatório revela o alcance dos impactos da mudança do clima em diferentes sistemas ecológicos, econômicos e sociais. Com menos ambientes habitáveis, a migração de populações pode se intensificar. Também existe um impacto importante na saúde materna, que pode perdurar por gerações”, afirma Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e membro do conselho editorial da publicação.

Ao chamar atenção para o colapso ambiental, os pesquisadores destacam a devastação da Amazônia, um dos mais importantes sumidouros naturais de carbono. Em 2021, um estudo publicado na revista Nature mostrou que a Amazônia começou a emitir mais gás carbônico (CO2) do que absorve devido ao desmatamento e às queimadas.

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“O relatório confirma que o mundo enfrenta desafios em escala planetária, desde o aumento das emissões de metano até a vulnerabilidade de infraestruturas críticas. Ele mostra que o aumento do calor, a instabilidade dos oceanos e a possível virada da Amazônia podem empurrar partes do nosso planeta além dos limites habitáveis", afirma Johan Rockström, co-presidente da The Earth League e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha.

Rockström acrescenta que o documento também oferece caminhos claros e soluções, "demonstrando que, com ação urgente e decisiva, ainda podemos evitar resultados incontroláveis", diz ele.

Mercedes também reforça que, no Brasil, há uma articulação entre as ações do país para reduzir o desmatamento e a degradação da Amazônia e as iniciativas internacionais para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, que afetam o bioma de forma sinérgica. Apesar dos desafios globais em intensificação, ela ressaltou que há um conjunto de políticas e soluções que podem ser implementadas para enfrentar as mudanças climáticas de maneira eficaz. Diante das ameaças à saúde materna, essas soluções integram, por exemplo, ações de equidade de gênero e justiça climática.

As informações científicas sintetizadas no relatório têm o objetivo destacar implicações políticas que podem orientar as negociações na COP29, que ocorre em novembro, no Azerbaijão, e direcionar as políticas nacionais e internacionais.

Risco à nova geração

Em relação à ameaça a mulheres gestantes e à nova geração, o relatório juntou pesquisas que mostram que as mudanças climáticas podem reverter décadas de progresso em saúde materna e reprodutiva. Aumento de perdas gestacionais, parto prematuro, doenças maternas graves e impactos cognitivos estão entre os principais riscos.

"Abordar os efeitos das mudanças climáticas na saúde materna e reprodutiva (MRH) é um elemento importante para lidar com os impactos de gênero das mudanças climáticas. Mudanças nos padrões climáticos têm efeitos diretos e indiretos em mulheres grávidas, com impactos mais severos em regiões vulneráveis ao clima, onde há acesso limitado a recursos", diz um trecho do estudo.

De acordo com o relatório, apenas 27 de 119 Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) fazem referências à saúde materna e neonatal e à saúde sexual reprodutiva. Também há lacunas no ensino superior e treinamento sobre mudanças climáticas e saúde, com preparação limitada em serviços de saúde e redes de segurança social para lidar com esses desafios. "Embora a pesquisa atual mostre fortes ligações entre mudanças climáticas e MRH, os caminhos exatos ainda não estão claros e a pesquisa das regiões mais vulneráveis é sub-representada", afirmam os autores do trabalho.

O relatório destacou algumas pesquisas realizadas para analisar e alertar os risco do aquecimento global sobre mulheres grávidas e seus bebês. Um estudo realizado na Índia com mulheres grávidas trabalhadoras expostas ao estresse térmico descobriu que elas tinham o dobro de risco de aborto espotâneo. Os pesquisadores afirmam que esse resultado "tem implicações significativas para as nações tropicais, onde milhões de mulheres correm o risco de exposição ao estresse térmico ocupacional".

Já no sul da Califórnia, pesquisadores encontraram associações significativas entre exposição ao calor a longo prazo e aumentos em complicações de parto (por exemplo, natimorto e parto prematuro), com risco aumentado em mulheres com menor nível educacional e menos exposição a espaços verdes.

Outras pesquisas realizadas em 33 países da América do Sul e Central, Ásia e África estimaram que eventos de inundação podem ser responsáveis por mais de 107 mil perdas de gravidez a cada ano nessas regiões, e relataram risco elevado para mulheres com menor renda e níveis educacionais.

Outros riscos às gestantes impostos pelo aquecimento global podem ser explorados no relatório completo, disponível neste link.

Veja os 10 insights climáticos apontados pelo relatório

  • Metano: Desde 2006, os níveis de metano aumentaram drasticamente. Já existem soluções econômicas, mas políticas rigorosas são necessárias para reduzir suas emissões nos setores de combustíveis fósseis, resíduos e agricultura.
  • Poluição do ar: A redução da poluição atmosférica melhora a saúde pública, mas afeta o clima de forma complexa, exigindo que as estratégias de mitigação e adaptação levem isso em consideração.
  • Calor extremo: Temperaturas e níveis de umidade crescentes estão tornando partes do planeta inabitáveis. Planos de ação contra o calor precisam priorizar os grupos mais vulneráveis.
  • Saúde materna e reprodutiva: Extremos climáticos estão prejudicando a saúde materna, ameaçando décadas de progresso. Soluções precisam integrar equidade de gênero e justiça climática.
  • Mudanças nos oceanos: O aquecimento dos oceanos agrava eventos de El Niño e ameaça a estabilidade de sistemas marinhos, podendo causar perdas econômicas globais massivas.
  • Resiliência da Amazônia: A diversidade biocultural ajuda a Amazônia a resistir às mudanças climáticas, mas essas ações locais precisam ser complementadas por reduções globais de emissões.
  • Infraestruturas críticas: Infraestruturas estão cada vez mais vulneráveis a desastres climáticos. Ferramentas de IA podem ajudar a torná-las mais resilientes.
  • Desenvolvimento urbano: Poucas cidades integram mitigação e adaptação em seus planos climáticos. Uma abordagem que combine fatores sociais, ecológicos e tecnológicos pode ajudar no desenvolvimento resiliente.
  • Minerais de transição energética: A demanda por minerais de transição está aumentando, assim como os riscos na cadeia de suprimentos. Melhor governança é essencial para uma transição justa.
  • Justiça climática: A aceitação pública das políticas climáticas depende de sua percepção de justiça. A exclusão dos cidadãos no processo de formulação pode gerar resistência.

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