PLANEJAMENTO URBANO

Sua cidade é acessível? O que é o “modelo de 15 minutos” e como ele pode mudar o planejamento urbano

Pesquisadores italianos desenvolveram um painel de observação global que mostra o tempo médio de caminhada para ter acesso a serviços de interesse nas cidades

Espaço público em Madrid.Créditos: EURIST via Flickr commons
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Pesquisadores do Centro de Pesquisas Enrico Fermi, em Roma, desenvolveram um mapa interativo que mede o grau de acessibilidade em cidades ao redor do mundo

Eles se baseiam no "modelo de 15 minutos" para cidades, um conceito de planejamento urbano que diz que cidades ideais teriam serviços e locais de lazer (centros de trabalho, lojas e shoppings, instituições de saúde e espaços de convivência) acessíveis em uma caminhada de até 15 minutos

Isso reduziria a dependência de veículos próprios e do transporte público, além de promover um estilo de vida mais saudável e dinâmico aos moradores dos centros urbanos. 

A transformação avistada com os processos de desenvolvimento urbano modernos, pensados para beneficiar mais o planejamento econômico que o bem-estar público, tem significado a implementação de cada vez mais vias para trânsito de automóveis e espaços privativos fechados — além da concentração de serviços em centros específicos — em detrimento de espaços públicos, vias acessíveis a pedestres e áreas dedicadas à vida na cidade como experiência comunitária.

Em estudo publicado na Nature Cities, os pesquisadores descrevem a metodologia para produzir a plataforma de acesso-livre "What if" — "e se", uma provocação. 

As simulações da plataforma sugerem que uma redistribuição mais equitativa de recursos e um planejamento urbano focado em áreas de interesse público poderia reduzir as desigualdades causadas pela densidade populacional das grandes cidades, bem como o tempo de acesso a serviços e recursos.

"O mapa mostra quão perto estão os serviços nas diferentes áreas da cidade em que você vive: em vermelho estão as áreas em que o tempo de acesso é maior do que 15 minutos, e em azul as áreas que se adequam ao modelo de 15 minutos", diz o painel explicativo do site, que calcula as médias gerais das cidades e também distingue espaços interurbanos para mostrar as disparidades locais. 

O modelo não traz boas notícias para o Brasil: os maiores centros urbanos do país estão marcados com a coloração de vermelho mais escura, que representa um tempo de acessibilidade de até 30 minutos, a pé ou de bicicleta, a serviços de interesse.

As cidades que se saíram melhor no modelo foram as europeias, como Viena e Paris. Partes dos EUA, da África e da Ásia apresentam os tempos mais longos. 

Desigualdades urbana 

Os resultados do estudo enfatizam que áreas mais privilegiadas de uma cidade tendem a concentrar uma maior quantidade de serviços — como saúde, educação, comércio e lazer. 

Essas regiões geralmente apresentam uma alta acessibilidade física, mas também são mais caras, o que dificulta o acesso pelo critério da renda e acentua desigualdades demográficas.