Um estudo realizado com dados de condados da Nova Inglaterra, região estadunidense que engloba seis estados do país, mostra que a redução da população de morcegos pode estar relacionada ao aumento da mortalidade infantil.
O pesquisador Eyal G. Frank, da Harris School of Public Policy, da Universidade de Chicago, analisou o cenário a partir do surgimento da síndrome do nariz branco (WNS) em 2006, uma doença que resultou na morte de boa parte dos morcegos na região.
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Ela foi nomeada desta forma porque o fungo branco cresce em narizes dos animais, drenando suas reservas de energia enquanto hibernam. Ao acordarem, diante da escassez de alimentos e da necessidade de maior ingestão de calorias devido por conta das baixas temperaturas, os infectados geralmente não sobrevivem ao inverno.
Segundo o estudo, após o início da mortandade de morcegos, os fazendeiros dos condados aumentaram seu uso de inseticidas em 31,1%, em média, já que, sem os animais, predadores naturais de insetos, as pragas tendem a aumentar nas plantações. No mesmo período, a taxa de mortalidade infantil decorrente de causas externas, como acidentes ou homicídios, permaneceu a mesma, mas mortes causadas por doenças ou defeitos congênitos aumentaram em 7,9%, em média, nos condados afetados.
"Este resultado destaca que os níveis de uso de inseticidas no mundo real têm um impacto prejudicial à saúde, mesmo quando usados ??dentro dos limites regulatórios, o que destaca as dificuldades de avaliar os impactos dos pesticidas na saúde pública ao regulá-los individualmente", pontua o pesquisador.
Além do aumento do número de mortes de crianças, a receita das safras das fazendas também diminuiu, segundo o pesquisador. "O estudo fornece um exemplo de como a perda de biodiversidade afeta o bem-estar humano e apresenta métodos observacionais para quantificar esses custos", afirma Frank.
Novas ameças à natureza. E ao ser humano
Reportagem da revista Science aponta que linhas de evidências conectam pesticidas e outros agroquímicos a riscos à saúde humana e, ainda que reguladores governamentais avaliem os perigos potenciais desses compostos antes de sua aprovação para uso, trabalhadores rurais e a população destes locais podem ser mais expostos quando essas substâncias se infiltram em águas subterrâneas, por exemplo. Estudos epidemiológicos têm vinculado algumas delas a problemas de desenvolvimento em bebês e crianças.
A pesquisa destaca que a síndrome do nariz branco é apenas uma das muitas ameaças que os morcegos enfrentam, incluindo aquelas compartilhadas com várias outras espécies, como perda de habitat e mudanças climáticas.
"Esses resultados não são apenas informativos sobre as interações com inimigos naturais em geral, e o controle biológico de pragas mais especificamente, mas também destacam os benefícios agrícolas e de saúde diretos que os morcegos fornecem", explica Frank. "Melhorar nossa compreensão de como as mudanças na biodiversidade afetam o bem-estar humano será importante ao projetar e implementar políticas de conservação."
A íntegra do estudo está disponível aqui.