TENSÃO NO AR

Entenda a relação entre as turbulências em voos e as mudanças climáticas

Ocorrências severas têm aumentado, segundo estudo, e podem se tornar ainda mais frequentes no futuro próximo

Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Incidentes com turbulência em voos têm sido cada vez mais frequentes no noticiário. Na madrugada desta segunda-feira (1º), em uma dessas ocorrências, um Boeing 787 Dreamliner da Air Europa contabilizou 30 feridos entre os passageiros, produzindo cenas como a do resgate de um passageiro do bagageiro da aeronave.

Em maio, um passageiro de um voo da Singapore Airlines morreu após a aeronave passar por uma turbulência severa durante o trajeto entre Londres, no Reino Unido, e Singapura. O avião fez um pouso de emergência em Bangkok.

Existem turbulências que ocorrem em locais bem definidos, como sobre cadeias de montanhas ou próximas a tempestades, e estas são evitáveis. Há inclusive uma lista com os trajetos que têm as piores turbulências de voos do mundo. Mas a chamada turbulência de ar limpo é mais difícil de ser observada com antecipação pelos métodos de sensoriamento remoto. 

A turbulência é o resultado de dois ou mais eventos de vento colidindo e criando redemoinhos ou redemoinhos de fluxo de ar interrompido. Já a de ar limpo ocorre em altitudes mais elevadas e é frequentemente causada pelo ar mais quente subindo em direção ao ar mais frio. E deve ocorrer com mais frequência em função das alterações no clima.

Turbulências e mudanças climáticas

Um estudo geofísico publicado em junho de 2023 mostra o aumento de ocorrências. Segundo a pesquisa, com base em um conjunto de análises realizadas entre 1979 e 2020, o total de turbulências de ar limpo leves aumentou em 17% no período analisado e as consideradas severas subiram 55%.

De acordo com o levantamento, a turbulência de ar limpo ao redor de nuvens e montanhas deve se tornar um evento mais comum como resultado das alterações no clima. "O aumento é quase certamente o resultado da mudança climática, que fortalece as correntes de jato que causam turbulência", explica o pesquisador atmosférico Paul Williams, em entrevista à Nature.

“Não é como se tivéssemos que parar de voar ou os aviões cairiam do céu”, pontua o pesquisador. “Só estou dizendo que para cada 10 minutos que você passou em turbulência severa no passado, pode ser 20 ou 30 minutos no futuro.”

E o que pode ser feito diante deste cenário? "A tecnologia para detectar turbulência ainda está em fase de pesquisa e desenvolvimento, então os pilotos usam o conhecimento que têm do radar meteorológico para determinar o melhor plano para evitar padrões climáticos com altos níveis de umidade diretamente à frente de sua trajetória de voo", aponta o professor da CQUniversity Austrália Doug Drury, em artigo.

"As imagens do radar meteorológico mostram aos pilotos onde a turbulência mais intensa pode ser esperada, e eles trabalham com o controle de tráfego aéreo para evitar essas áreas", diz Drury. "Quando a turbulência é encontrada inesperadamente, os pilotos imediatamente ligam o sinal de 'apertar o cinto de segurança' e reduzem o empuxo do motor para desacelerar o avião. Eles também entrarão em contato com o controle de tráfego aéreo para encontrar melhores condições, seja subindo ou descendo para um ar mais suave."