DIVERGÊNCIAS

Primeira fazenda de polvos do mundo gera polêmica entre ambientalistas

O animal nunca foi domesticado pelo ser humano e seu cultivo em cativeiro é criticado; entenda

Polvos sentem dor e emoções.Créditos: Reprodução/Ricardo Barreto
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

A primeira fazenda de polvos do mundo será construída nas Ilhas Canárias, na Espanha. O projeto é da empresa Nueva Pescanova e tem gerado polêmica entre conservacionistas e cientistas. Os polvos são animais que nunca foram domesticados por humanos e as técnicas para isso são controversas.

O empreendimento pretende fornecer, até 2030, 1% de todo o polvo extraído da natureza para uso humano. Atualmente, o mundo consome entre 300 e 400 mil toneladas por ano do invertebrado. Todo o animal pescado hoje é de origem selvagem. 

Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em https://benfeitoria.com/ato18 e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.

A Nueva Pescanova desenvolve pesquisas há cinco anos na região da Galícia, noroeste da Espanha. Segundo o diretor de aquicultura da empresa, Roberto Romero Pérez, os cientistas já chegaram à quinta geração de polvos nascidos em suas piscinas artificiais.

"Isso significa que os animais atuais já são os tataranetos daqueles que capturamos no meio selvagem para a primeira reprodução", afirmou Pérez, em entrevista à Folha de S.Paulo. "Por cinco vezes conseguimos que eles se reproduzissem no centro. Quer dizer que já temos tecnologia suficiente para não depender de animais do meio selvagem para o cultivo, por assim dizer, industrial. O que significa uma cultura sustentável".

O objetivo é domesticar a espécie e transformar a relação dos humanos com esses cefalópodes. Há milhares de anos, foi esse processo que garantiu o cultivo de gado e de porcos, por exemplo. Mas é justamente isso que tem gerado revolta em defensores da causa animal.

Animais sencientes 

Os polvos são considerados animais muito inteligentes e "sencientes". Ou seja, são animais capazes de sentir dor e emoções. Mesmo com o conhecimento que temos hoje, seria impossível garantir o bem-estar desse animal em cativeira. 

Uma equipe de especialistas examinou mais de 300 estudos e concluiu que havia "fortes evidências científicas" de que esses invertebrados podiam sentir prazer, excitação e alegria, além de dor e angústia.

Há um convencimento geral de que "a criação de polvos em condição de alto bem-estar era impossível". Assim, há uma pressão para que o comércio de polvos criados em cativeiro não se torne um mercado. 

Ativistas, que fizeram manifestações contrárias nas Canárias, denunciaram que a empresa pretende criar entre 10 e 15 polvos por metro cúbico, o que Pérez confirmou à Folha de S.Paulo. Além disso, há uma forte objeção contra a maneira como o abate será conduzido: os animais serão colocados em tanques de água com temperaturas perto de 0ºC.

Com informações da Folha de São Paulo