O número de vítimas das fortes chuvas que causaram alagamentos e deslizamentos no Litoral Norte de São Paulo chegou a 54 nesta sexta-feira (24) - são 53 em São Sebastião e uma em Ubatuba. No total, 47 vítimas já foram identificadas e os corpos liberados para sepultamento. São 16 homens, 16 mulheres e 15 crianças.
A maioria dessas vítimas têm cor e classe social: são negras e pobres, moradoras de áreas periféricas com risco ambiental. Essa constatação revela mais um aspecto de uma questão estrutural presente em todos os aspectos da vida pública nacional: o racismo ambiental.
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A tragédia no litoral paulista é um efeito direto da emergência climática que atinge todo o planeta com consequências que impactam a população de forma desigual. Como pode ser constatado no perfil das vítimas das chuvas dos dias 18 e 19, é nas periferias que enchentes e deslizamentos ameaçam a vida das pessoas. Nesses locais periféricos a maioria da população é negra.
O conceito de racismo ambiental foi criado na esteira dos movimentos dos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1950 e 1960. O termo refere-se à divisão injusta dos ônus da degradação ambiental, que recaem sistematicamente sobre negros e populações periféricas, e à falta de infraestrutura destinada aos locais de moradia desses grupos, assim como de políticas de mitigação dos efeitos da degradação ambiental.
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A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, fez uma postagem que vai no centro dessa questão e na qual defendeu que as chuvas não são a causa dos deslizamentos, mas a falta de opções de moradia para parte da população. "A ação das chuvas e o deslizamento de terras no Norte de São Paulo também são responsabilidade das nossas decisões e omissões em relação ao meio ambiente", comentou. Confira aqui o post.
Nesta sexta-feira (24), a ministra anunciou a participação de uma reunião com os ministros Márcio França, dos Portos e Aeroportos, e da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, para ouvir as demandas de prefeitos da Baixada Paulista e Vale da Ribeira em razão das chuvas que atingiram a região no carnaval.
Campanha Clima e Justiça
Esse fenômeno do racismo ambiental está no cerne da campanha Clima e Justiça, do Greenpeace. Em entrevista à Agência Brasil, Rodrigo Jesus, que integra a iniciativa da ong ambiental, afirmou que para lidar com essa situação é preciso priorizar políticas públicas voltadas para as populações negra e periférica.
“[O racismo ambiental] está muito ligado à segregação e exclusão em relação ao direito de ter o meio ambiente de determinada região equilibrado. A gente observa a escolha política, o critério para definir locais que vão ter políticas públicas. E elas não conseguem chegar sempre à população dos morros, negra e periférica”, observou Jesus.
Com informações da Agência Brasil