GUERRAS EXTRATIVISTAS NO BRASIL

Indígenas se unem contra garimpo no Maranhão após morte mal explicada de liderança

Povo Ka’apor ficou conhecido por montar esquema de autodefesa comunitária e promete reagir a garimpeiros que se aproximam do seu território

Povo Ka’apor ficou conhecido por montar esquema de autodefesa comunitária e promete reagir a garimpeiros que se aproximam do seu território. Créditos: Reprodução/Youtube@ReporterBrasil
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Quando o visitante se aproxima da Terra Indígena Alto do Turiaçu, onde vivem comunidades Ka’apor no Maranhão, é possível observar os enormes buracos abertos na floresta pelo garimpo ilegal de ouro. A paisagem é apocalíptica para os indígenas que antes haviam se acostumado a conviver com pequenas plantações e pastos nos arredores do território. Hoje os Ka'apor apresentam extrema preocupação com a aproximação das atividades extrativistas, distantes cerca de apenas dois quilômetros do limite da TI.

Em matéria publicada nesta sexta-feira (16) pela Repórter Brasil, Itahu Ka’apor explica que a devastação se aproxima a ritmo acelerado e aponta a atividade de caminhonetes repletas de combustível, dragas e bombas utilizados pelo garimpo que causam danos irreparáveis à floresta. “Bolsonaro facilitou para os garimpeiros, e agora que quer legalizar essas atividades dentro das nossas terras, está cheio deles aqui”, afirmou para os repórteres Ruy Sposati e Joana Moncau. Ainda de acordo com a matéria, o biólogo Antônio Marcos Pereira teria confirmado a contaminação por mercúrio oriundo do garimpo no principal rio da localidade, o Maracaçumé.

Morto em maio deste ano aos 45 anos e em circunstâncias ainda não esclarecidas, Sarapó Ka’apor havia denunciado a aproximação dos garimpeiros ao Cimi (Conselho Indigenista Missionário), além de ter organizado a partir de 2014 um esquema de autodefesa autônomo do território que chegou a expulsar garimpeiros em 2019 e em 2021.

Sarapó teria ganho dois peixes tambaquis grandes de um homem branco. Em casa, ele assou e comeu os peixes. No meio da madrugada acordou gritando e tendo ataques. Ele teria vomitando sangue antes de morrer e, após o falecimento, não foi emitido um atestado de óbito pelas autoridades. A comunidade não acreditou que a morte tivesse sido natural e após pressão sobre as autoridades, foi exumado o corpo de Sarapó. Ainda que não possa confirmar a causa da morte, a polícia não descarta a possibilidade de um assassinato, provavelmente por envenenamento como apontam os indígenas.

“Continuamos com essa luta para evitar a entrada de garimpeiros. É proibido entrar mineração dentro do território e através do Bolsonaro eles querem legalizar a questão da exploração de minérios e de ouro. Falta aprovar essa lei, o PL 191. E se aprovar, vai acontecer uma guerra”, declarou um dos indigenas Ka’apor ao Repórter Brasil.

Desde 2014 os Ka’apor organizam uma guarda autônoma de defesa do seu território. Um ano antes, em 2013, o pai de Sarapó, que era então o principal líder do povo, faleceu em meio às lutas contra madeireiros. Incentivado pela comunidade, Sarapó herdou o papel do pai e pensou em um esquema de segurança que envolvia o estabelecimento de aldeias nas fronteiras da TI Alto do Turiaçu, para que se pudesse acompanhar com mais facilidade o avanço de madeireiros e garimpeiros. O território tem 530 mil hectares.

Além disso, organizou uma guarda indígena que eventualmente protagonizou operações de expulsão de invasores. Na sequências das expulsões, era criada uma área de proteção no mesmo local onde os invasores tentavam se assentar, a fim de desestimular o retorno ao local. O modelo teve tanto sucesso que comunidades vizinhas, como os Guajajara, se inspiraram na ideia de Sarapó para montar sua própria guarda.