DESMATAMENTO

Justiça do Mato Grosso atende pedido de desmatadores e anula reserva ambiental na Amazônia

Antes protegido, o Parque Cristalino II abriga milhares de espécies e nascentes translúcidas

Justiça do Mato Grosso atende pedido de desmatadores e anula reserva ambiental na Amazônia.Créditos: João Paulo Krajewski/Divulgação
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

A Justiça do Mato Grosso atendeu um recurso apresentado pela empresa Sociedade Comercial Triângulo e anulou um decreto estadual de 2001 que criava a unidade de Conservação Parque Cristalino, que protegia 118 mil hectares da Floresta Amazônica. Porém, Secretaria do Meio Ambiente do MT nega que tenha acabado com a unidade. As informações são do Repórter Brasil. 

Desde o dia 10 de junho, há uma ordem sobre a mesa da secretária de Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema-MT), Mauren Lazzaretti, para que “atualize o banco de dados de Unidades de Conservação”, excluindo dessa lista o Parque Estadual Cristalino II, área de 118 mil hectares cujo decreto de criação foi considerado inválido pela Justiça. A Sema-MT disse que isso ainda não foi feito, mas que “a decisão judicial será cumprida pelo Estado com a revogação do decreto” que criou a UC.

O acórdão do Tribunal de Justiça do Mato Grosso atendeu a um pedido da Sociedade Comercial do Triângulo Ltda – que tem entre seus sócios Douglas Dalberto Naves, qualificado pelo MPF do Pará como “laranja da família Junqueira-Viacava” (“Viacava” é o sobrenome do genro do patriarca dos Vilela, também acusado de envolvimento com os crimes ambientais). Antônio José Rossi Junqueira Vilela aparece nos autos do processo como procurador da Sociedade Triângulo.

A família Junqueira Vilela entrou para os anais do crime ambiental nas últimas décadas. O patriarca Antônio José Rossi Junqueira Vilela, recebeu em 2006 a maior multa aplicada pela Secretaria de Estado de Meio Ambientes do Mato Grosso, no valor de R$ 60 milhões. 

Dez anos depois, o herdeiro Antônio José Junqueira Vilela Filho foi preso preventivamente por desmatamento ilegal e grilagem de terras depois que o Ibama desarticulou sua quadrilha, que contava com a participação de duas irmãs e um cunhado. As multas aplicadas em seu nome superam a de seu pai: R$ 163 milhões, um novo recorde da família. 

Levantamento do Repórter Brasil revela que o parque é considerado "o mais rico em biodiversidade na Amazônia brasileira, Cristalino II abriga 850 espécies de aves, 43 répteis, 36 de mamíferos, 29 anfíbios e 16 diferentes topos de peixe. A Unidade Cristalina recebe esse nome em referência às nascentes translúcidas que abriga".

 

Resposta da Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso 

 

Ao Repórter Brasil, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) afirma que o parque não foi excluído e diz que monitoramentos via satélite são feitos para evitar o desmatamento do parque. 

Sobre a decisão da Justiça que acaba com a Unidade de Proteção, a Secretaria declarou que "O processo está transitado em julgado e a decisão judicial será cumprida pelo Estado com a revogação do decreto nº. 2.628 de 30/05/01. O processo tramitou por mais de 20 anos e, neste período, o Estado, por meio da Procuradoria Geral do Estado (PGE) recorreu e se manifestou nos autos sempre que necessário". 

A respeito das famílias envolvidas no processo que pede a anulação da Unidade de Criação, a Sema declarou que "realizou uma busca completa pelo nome, CPF e CNPJ, e não localizou o processo da multa de R$ 60 milhões. Por ser um processo antigo, ainda físico, a Secretaria continuará a busca nos arquivos". 

 

Família Junqueira possui histórico de relação com Ricardo Salles

 

A Família Junqueira, além de ser considerada uma das que mais desmatou, investiu na campanha de Ricardo Salles à deputado federal na eleição de 2018. 

De acordo com levantamento da Rede Brasil Atual, Gustavo Diniz Junqueira doou R$ 500, Renato Diniz Junqueira, R$ 2.000, e Roberto Diniz Junqueira Filho, R$ 5 mil. 

Após perder a perder a eleição, Ricardo Salles foi nomeado Ministro do Meio Ambiente e, à época, organizações que atuam na defesa da floresta amazônica apontaram que o futuro ministro tinha relações nebulosas com os Junqueira. 

 

 

A íntegra da reportagem do Repórter Brasil pode ser conferida aqui.