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Veja 7 motivos para Simone Tebet não assumir Ministério do Meio Ambiente

A questão ambiental e climática foi um dos principais pontos pelo qual Lula obteve tantos apoios dentro e fora do Brasil

Simone Tebet (MDB-MS). Créditos: Moreira Mariz/Agência Senado.Simone Tebet em 2017 defendendo interesses de proprietários de terras, contra interesses indígenas, no SenadoCréditos: Roque Sá/Agência Senado
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A senadora sul-matogrossense Simone Tebet (MDB) ganhou destaque ao longo do segundo turno das eleições pelo apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E nesta sexta-feira (23) após Marina Silva recusar o cargo de Autoridade Climática, Lula viajou com Tebet para São Paulo, onde irá passar o natal. A principal especulação é de que o futuro presidente queira colocar a emedebista como Ministra do Meio Ambiente, mas estaria esperando o aval de Marina, que não chegou e nem deve chegar. O envolvimento de Tebet com o agronegócio é a principal razão para a negativa da ambientalista.

Conseguimos elencar, ao todo, sete motivos para Tebet não assuma o Meio Ambiente. Em troca, a terceira colocada no primeiro turno das eleições, teria condições de assumir a Agricultura, área com a qual tem mais intimidade, como veremos a seguir

1 – Falta histórico de luta para pasta que é central para o Brasil e o mundo

Ao longo do último período o Brasil bateu recordes de desmatamentos, queimadas e outras modalidades de destruição em todos os biomas. No mais falado, a Amazônia, os anos de 2020 e 2021 registraram recordes históricos. Sem dúvidas que a questão ambiental e climática foi um dos principais pontos pelo qual Lula obteve tantos apoios dentro e, sobretudo, fora do Brasil. Fica óbvio que é preciso de um nome na pasta que tenha um histórico de luta e defesa do meio ambiente. Não é o caso de Simone Tebet, que tem uma trajetória familiar e de vida ligada ao agronegócio, como apontou Marina.

2- Tebet é oriunda da oligarquia agrária do Mato Grosso do Sul

Advogada e professora universitária, Simone Tebet vem de uma família poderosa do Mato Grosso do Sul, não apenas na política, mas também nos negócios. Seu pai, Ramez Tebet, é de uma tradicional família de origem árabe, da cidade de Três Lagoas, onde foi nomeado prefeito em 1975 e desde então não saiu mais da política. Atuou como secretário de Justiça do Mato Grosso do Sul e, em seguida deputado estadual. Atingiu seu auge nos anos 90 quando foi eleito senador em 1995 e novamente em 2002 – deixando o cargo em 2006 por conta do seu falecimento. Entre 2001 e 2003 chegou a ser presidente do Senado e ter, em seu nome, mais de dez fazendas.

Com a morte de Ramez em 2006 ficou a herança política para Simone que naquele ano estava no primeiro mandato como prefeita de Três Lagoas – seguindo os passos do pai. Ela foi prefeita da cidade natal por dois mandatos e abandonou o cargo em 2010 quando foi eleita vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Nas eleições seguintes, em 2014, foi eleita senadora e cumpre o mandato desde 2015. Antes da prefeitura, tinha sido deputada estadual entre 2003 e 2005. Pai e filha jamais concorreram a uma vaga na Câmara dos Deputados em Brasília.

Além da herança política, Tebet também recebeu uma verdadeira fortuna em imóveis sul-matogrossenses. Entre as principais propriedades estão três fazendas, uma em Três Lagoas, outra em Fátima do Sul e a terceira em Caarapó. Esta última, chamada de Santo Antônio da Matinha, conta com 860 hectares e foi registrada entre os bens da senadora com o valor de R$ 457 mil reais.

3- Militou contra reivindicações Guarani-Kayowá no Senado

Na região onde estão as terras da senadora, especialmente em Caarapó, há um longo histórico de conflitos entre ruralistas e indígenas Guarani-Kayowá. De acordo com o Conselho Indígena Missionário (Cimi) o imóvel de Tebet faz parte do Tekoha Pincorock, uma extensão de terras reivindicadas pelos indígenas que faria parte da Terra Indígena Amambaipeguá. A portaria que iniciaria a homologação e demarcação do território foi publicada no governo Dilma Rousseff mas acabou engavetada. Há mais de 80 fazendas na área envolvidas na reivindicação.

Além do discurso favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Simone Tebet se colocou, ao longo da sua trajetória no Senado, contrária às reivindicações dos Guarani-Kayowá e dos povos indígenas como um todo. Em relatório do Cimi publicado em setembro de 2018, ela aparece na lista dos 50 parlamentares (que inclui deputados e senadores) que mais atuaram contrários aos interesses dos povos indígenas.

4 – Projeto de Lei 494/15

Entre as suas atividades de combate aos povos indígenas, Tebet apresentou o Projeto de Lei 494/15, que busca alterar o Estatuto do Índio, a fim de interromper demarcações de terras que estivessem em situação de conflito, turbação ou esbulho. É curioso o levantamento da atuação da candidata que desde que lançou à corrida para o Planalto - e posteriormente em seu apoio a Lula no segundo turno - tenta passar uma imagem de alguém ligada a defesa de causas ambientais.

A tentativa de Greenwashing político [termo aplicado a empresas poluidoras que fazem ações marqueteiras em torno da questão ambiental em troca de isenções de impostos, entre outras benesses] da candidata ficou escancarada em 26 de agosto, quando o Metrópoles noticiou que sua assessoria havia sido bloqueada do site Wikipedia ao tentar, por diversas vezes, editar informações a respeito de Tebet sobre os temas ambiental, indígena e de direitos humanos.

5 – Apoiada por grandes empresários do agronegócio

Levantamento do Cimi a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as doações dos grandes empresários do agronegócio a candidatos em eleições passadas apontou que Simone Tebet é uma das mais beneficiadas pelos ruralistas. Em sua primeira campanha para o Senado, em 2014, ela teria recebido um total de R$ 3,2 milhões em doações, dos quais cerca de R$ 2,8 milhões teriam vindo do setor.

De acordo com apuração da Agência Pública, Tebet votou com o governo Bolsonaro em 86% das tramitações que chegaram ao Senado, com destaque para apoio ao projeto que ampliou a posse de armas em propriedades rurais. Foi justamente na CPI da Covid, quando ganhou projeção midiática ao assumir uma das vagas femininas, que Tebet se afastou do atual governo.

6- Mais ataques aos povos indígenas

Em fevereiro de 2017, ao questionar o ministro Alexandre de Moraes sobre indenizações a proprietários rurais que reivindicam terras indígenas demarcadas, ela defendeu o cumprimento imediato de reintegrações de posse em áreas que sequer tinham passado por estudos antropológicos. Ela fez uma defesa ferrenha dos supostos proprietários na ocasião.

7 – O marido de Tebet

Eduardo Rocha, o marido da senadora e atual secretario de Governo do Mato Grosso do Sul, foi levado por Tebet para a política e também ficou famoso por cometer ataques aos povos indígenas. Ele foi um dos responsáveis e entusiastas da chamada CPI do Cimi, uma investigação parlamentar estadual de 2015 que buscou criminalizar órgãos e ONGs de defesa dos povos indígenas.